Por Bernardo de Castro* – Uma máquina que siga uma rota determinada e tome decisões precisas levando em consideração as melhores condições para produtividade no campo — tudo isso sozinha, a partir de câmeras, sensores e GPS, sem necessidade de um operador. Essa é a proposta das máquinas autônomas, veículos que geram brilho nos olhos de gestores agrícolas que buscam mais eficiência e economia para suas produções.
Não é à toa que a tendência de adoção de tratores e colhedoras autônomas nos próximos anos está estimulando fabricantes de todo o mundo a investir em pesquisa e em desenvolvimento para aproveitar as oportunidades deste mercado, que, segundo a consultoria norte-americana Fact.MR, deve crescer em um ritmo de 10% ao ano até 2031.
No entanto, apesar dos crescentes investimentos e debates sobre o tema, a verdade é que, por enquanto, os equipamentos autônomos estão muito mais presentes no imaginário social do que na realidade das áreas rurais.
Ideias, protótipos e testes ainda prevalecem
Atualmente, existem duas grandes abordagens principais para veículos autônomos. A primeira delas é focada em uma máquina completamente nova, redesenhada especificamente para ter autonomia; a segunda, por sua vez, busca equipar e adaptar equipamentos existentes para que eles se tornem semi ou totalmente autônomos. As duas perspectivas, porém, têm em comum o fato de estarem em estágios iniciais no âmbito dos negócios.
Protótipos de máquinas autônomas com conceitos inovadores já foram apresentados ao público em diversos eventos ao longo dos últimos anos. Porém, ainda não temos estes conceitos suficientemente maduros como produtos para vê-los no campo, em escala comercial e operacional.
A outra versão, focada na adaptação de equipamentos existentes, também vem evoluindo muito, mas ainda segue restrita a aplicações mais específicas e implementações em ambientes de pequena escala e/ou supervisionados. A grande expectativa é de que esta abordagem siga os passos de produtos que já se tornaram populares e imprescindíveis nas operações agrícolas, como pilotos automáticos e controladores de vazão.
Soluções como estas são, na realidade, os primeiros passos para a autonomia de veículos no campo. Já trabalhamos em evoluções destes produtos, que promovem o ganho de eficiência das máquinas através da regulação automática de parâmetros de operação. Por exemplo, baseado em condições do ambiente de trabalho, operações previamente registradas e analisadas, características da máquina e até do cultivo e do solo em questão, entre outras, o sistema poderá recomendar parametrizações ótimas da máquina, não deixando esta complexa decisão sob responsabilidade do operador. Em um segundo momento, tais parametrizações poderão ser impostas à máquina; ou seja, o trator se auto-regulará sem interferência humana, sempre buscando aumento de desempenho e eficiência energética (economia de combustível).
Próximos desafios
São comuns as comparações e os debates a respeito da adoção de veículos autônomos em ambientes agrícolas e urbanos. Apesar de encontrarmos nas áreas agrícolas cenários com menor exposição a riscos — ou seja, espaços que podem ser melhor controlados, pouca movimentação de pessoas e menos obstáculos —, existem dificuldades extras. As máquinas agrícolas, diferentemente de um caminhão ou um automóvel, sempre executam operações adicionais, não tendo apenas o objetivo de deslocamento de um ponto a outro. Ou seja, um trator está sempre conduzindo um pulverizador, uma fertilizadora, uma plantadora… equipamentos que possuem por si só demandas por automação e autonomia na maioria das vezes complexas.
Hoje, mais do que a autonomia de veículos, temos a visão e trabalhamos para desenvolver a autonomia dos processos. As máquinas são parte dos recursos que precisam passar pela evolução discutida no caminho de sua autonomia. Porém, não são os únicos: a sincronização dos demais elementos da frota, as estratégias e ferramentas de logística e o planejamento de médio e longo prazo que permitirão uma autonomia eficiente dos processos e maiores ganhos em eficiência para o produtor.
Ainda há obstáculos a serem superados. Nas áreas agrícolas em geral, sabemos que a conectividade é um grande gargalo. A adoção de veículos autônomos também passará por restrições, necessárias, de legislação, além de todas as tecnologias para garantir níveis de segurança absolutamente confiáveis. Acreditamos que estamos no caminho certo e que este futuro chegará mais rápido do que se imagina. Etapa a etapa, gradualmente, a exemplo das evoluções das tecnologias aqui citadas, continuaremos na bem sucedida missão de tornar cada vez mais eficiente a produção agrícola através da autonomia de máquinas e processos.
Foto: Divulgação Hexagon / Dialetto