Estimativa do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) prevê que a área de produção de grãos na região do MATOPIBA, no bioma Cerrado, aumente em 1,1 milhão de hectares até 2030. Com esse cenário, o desafio é fazer com que essa expansão aconteça de maneira responsável. Para aprofundar o conhecimento sobre a dinâmica da expansão de soja na região e contribuir para o uso mais eficiente da terra, a Fundação Solidaridad lança o estudo Potencial regional da expansão da soja no MATOPIBA. A publicação revela um conjunto de 49 municípios que pode absorver 67% do aumento previsto na produção conservando as áreas de vegetação nativa.
O estudo aponta que o MATOPIBA possui 6,6 milhões de hectares de áreas de pastagem com aptidão agrícola, sendo 4 milhões de hectares de pastagens degradadas. Há ainda 4,6 milhões de hectares de excedente de Reserva Legal (ERL) em áreas com aptidão agrícola. Áreas contínuas com pelo menos 100 hectares de extensão são mais viáveis para a expansão da soja e, segundo a publicação, correspondem a 3,2 milhões de hectares nas áreas de pastagem apta e a 4 milhões de hectares do ERL com aptidão agrícola.
O uso de pastagens degradadas, a intensificação da pecuária e a adoção de mecanismos de conservação da vegetação nativa são algumas das estratégias para a expansão sustentável da soja elencadas pelo estudo da Fundação Solidaridad. Sob esse prisma, a Organização analisou e selecionou os municípios com maior potencial de conversão de soja, seja nas áreas de pastagem ou no excedente de Reserva Legal (ERL).
Além desses dois principais critérios, também foram avaliadas a proximidade com áreas agrícolas consolidadas, disponibilidade de infraestrutura, taxa de crescimento de áreas de produção de soja e taxa de conversão da vegetação nativa nos territórios. Como resultado, foram identificados 49 municípios, sendo 17 no Tocantins, 13 no Maranhão, 10 no Piauí e 9 na Bahia. São os chamados “municípios eixo”.
Esse conjunto de localidades indica regiões de cada estado onde provavelmente ocorrerá uma dinâmica mais intensa de expansão da soja na próxima década. O estudo aponta que, juntos, esses territórios podem absorver 67% da expansão no MATOPIBA até 2030 – o equivalente a 733 mil de 1,1 milhão de hectares previstos.
“O objetivo do estudo foi identificar regiões com potencial para a expansão da soja e direcionar a elas ações de desenvolvimento sustentável”, ressalta a coordenadora do programa Soja da Fundação Solidaridad, Juliana Monti. Para Arnaldo Carneiro, pesquisador aposentado do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e que também assina a autoria do estudo, a agricultura sustentável deve ser uma realidade no Cerrado. “O trabalho traz luz ao fato de que entre conservação e agricultura não existe nenhum antagonismo, que elas podem caminhar juntas, inclusive no MATOPIBA”, diz. Ele também enfatiza a importância do estudo em concretizar a expansão da produção de baixo carbono.
“Já faz uma década que sabemos que expandir sobre pastagens no Cerrado é a grande oportunidade. O interessante do trabalho da Solidaridad é conseguir trazer o foco para o MATOPIBA. Os dados sobre o Cerrado falam em 93% da expansão sobre pastagens, mas no MATOPIBA ainda encontramos uma realidade um pouco diferente. E o estudo traz uma precisão cirúrgica sobre as áreas com potencial para expansão da soja sobre pastagens no MATOPIBA”, afirma.
Mudanças no uso da terra
A tendência do uso de áreas para produção de grãos no MATOPIBA vem se modificando nas últimas duas décadas. O estudo se baseia em dados da Agrosatélite que demonstram que entre 2001 e 2014 a expansão da soja aconteceu sobretudo em áreas de vegetação nativa. A perspectiva mudou entre 2014 e 2019, quando mais de 80% da expansão da produção agrícola ocorreu sem conversão da vegetação, aproveitando áreas já abertas, como lavouras ou pastagens.
A expansão da agricultura sustentável e o acesso a práticas de baixo carbono nos diferentes territórios do MATOPIBA demandam políticas públicas e setoriais customizadas. Para o diretor de país da Fundação Solidaridad, Rodrigo Castro, o estudo possibilita avanços no trabalho desenvolvido pela Organização na cadeia da soja. “Seguimos no esforço de contribuir para a expansão sustentável da soja, pois ela é inevitável. E como podemos fazer com que ela aconteça de forma inteligente, otimizando o uso eficiente da terra? Com as informações do estudo, sabemos onde e como essa expansão deve acontecer”, destaca.
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