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Produtores de morango adotam sistema de “colha e pague”

Um casal de agricultores familiares mineiros implantou o sistema “colha e pague” para os períodos de alta produção dos morangos orgânicos que cultiva. A atividade é desenvolvida em Florestal, Região Metropolitana de Belo Horizonte, onde a dupla produz a fruta desde fevereiro deste ano. A experiência do “colha e pague” já é bem conhecida em regiões rurais de São Paulo e sul do país, mas ainda é pouco explorada em Minas Gerais. Geralmente, o empreendimento está relacionado à fruticultura, principalmente o morango, e ao turismo rural.

Como o próprio nome diz, o sistema permite que o consumidor possa, ele mesmo, apanhar as frutas que vai comprar. Ele recebe uma cesta e uma tesoura, além das orientações de realização da tarefa. Mas o esquema não se resume a isso. No local, o comprador tem o acompanhamento dos agricultores que passam informações relativas à cultura e cultivo do morango, tornando a experiência mais informativa, rica e agradável para adultos e crianças. Praticamente um passeio que pode ser compartilhado em família.

Além disso, quem resiste a saborear morangos fresquinhos, que acabaram de ser tirados do pé? É permitido que as pessoas possam degustá-los, no próprio local de colheita depois que as frutas são pesadas e pagas. Se não quiser, é só levá-las para consumir em casa.

Em Florestal, apesar do pouco tempo de funcionamento da nova modalidade de comercializar e divulgar o morango produzido, o resultado positivo da empreitada surpreendeu e superou as expectativas de Daniela Leonel e Hernane Lucas Barbosa. Eles são os donos do empreendimento agrícola e idealizadores do projeto que teve início no final de junho. Segundo Daniela, ela já estava com uma expectativa muito boa, mas o retorno foi além do que esperava.

“Foi incrível a aceitação das pessoas. Ouvi muitas opiniões do tipo: ‘nossa que energia boa’, ‘que gostoso vir aqui’, ‘uma experiência única’. Os adultos relembravam coisas da infância, momentos que eles já tiveram, a fruta desejada que não podiam comprar, porque não era tão acessível. As crianças, por outro lado, tiveram a oportunidade de colher o moranguinho no pé. Então, teve muita repercussão e propaganda boca a boca”, comemora a agricultora.

Daniela Leonel explica que o sistema não pode ser contínuo, pois obedece a sazonalidade da fruta, cuja produção tem picos e baixas, não permitindo que a atividade aconteça o ano inteiro. “Eu consigo produzir o ano inteiro, pois a cultivar que plantamos permite. Porém, não vou ter uma produção igual o ano todo. Vão ter períodos de picos e períodos de queda na produção. Quando eu tenho picos, posso oferecer a opção do “colha e pague”. Quando a produção cai, eu só consigo vender da forma convencional, nos pontos de revendas, ou aqui no nosso espaço de produção. Ainda assim, de acordo com a disponibilidade do morango”, argumenta.

Para participar do “colha e pague”, os interessados devem se inscrever antecipadamente, por meio de um link, no Instagram do empreendimento do casal, conhecido como Emporium da Roça.

“Não cobramos entrada. O visitante paga R$ 29 pelo quilo do morango colhido. Não tem mínimo e nem limite, mas por enquanto a gente vai controlando um pouquinho. Disponibilizamos três horários nas sextas, sábados e aos domingos”, informa Daniela Leonel.

Emater-MG

Os agricultores são conhecidos de longa data da Emater-MG, empresa vinculada à Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa). Em 2013, eles deixaram os empregos na cidade de Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul, e retornaram à Minas Gerais para ficar perto da família e realizar um projeto de vida. Queriam tornar realidade o sonho de viver do trabalho no campo e desfrutarem de qualidade de vida. Vieram na cara e na coragem.

“A gente queria empreender, morar no campo. A gente sempre teve essa queda pra roça e tinha essa ideia de qualidade de vida. E chegamos sem experiência com roça, terra, mercado e nem capital suficiente pra fazermos investimentos. A gente só tinha muita boa vontade e um romantismo”, diz Daniela Leonel (foto).

E foram da empresa pública mineira de extensão rural as primeiras orientações técnicas que ela e o marido receberam para investir em hortaliças orgânicas e ter acesso ao crédito rural do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). Recurso que financiou a compra do primeiro carro usado no transporte das hortaliças. Isso aconteceu quando eles, ainda sem a experiência do campo, mudaram para Pará de Minas e posteriormente para a cidade de Pequi, onde arrendaram meio hectare de terras, na fazenda do irmão de Daniela, região Central do estado.

Segundo ela, os primeiros atendimentos da Emater-MG foram muito importantes, sendo o cultivo orgânico apresentado por técnicos da empresa. “Foi bem importante a orientação inicial da Emater. A gente não tinha noção de como começar e um coordenador mais especializado, nessa área de orgânico, nos apresentou a opção. Gostamos da ideia, fizemos um curso e decidimos que ia ser por esse caminho”, conta

De lá pra cá, Daniela e Hernane viveram uma trajetória cheia de altos e baixos, na produção de hortaliças e morangos orgânicos, em três municípios da região Metropolitana. Em Caeté, onde chegaram a comprar um terreno, mas precisaram vender. Depois em Belo Vale, em parceria com outra produtora de morango, num espaço arrendado. E agora em Florestal, também em área arrendada, onde mais maduros e com mais conhecimentos decidiram se dedicar exclusivamente ao cultivo de morangos. As frutas têm certificação SAT (sem agrotóxicos), concedida pelo Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA). O plantio é feito em estufas, usando a técnica da semi-hidroponia (suspensas, plantadas em substrato, com fertirrigação para adubar e irrigar). No momento, estão sendo cultivadas 8,2 mil mudas, em estufas, montadas num terreno de 1,5 mil metros quadrados.

O empreendimento está indo muito bem, segundo Daniela Leonel. Atualmente a produção é comercializada no local, em supermercados de Pará de Minas, no Mercado do Cruzeiro, em Belo Horizonte, e por meio de delivery para clientes também da capital mineira. Mas a demanda está aumentando, com um sacolão e supermercado de Florestal, também interessados em revender os morangos. Além disso, os agricultores já planejam a expansão do negócio, com a criação de mais pontos de vendas em Belo Horizonte.

Minas Gerais

O estado de Minas Gerais é hoje o maior produtor de morangos do país, com produção anual de 139 mil toneladas. A cultura ocupa 2.8 mil hectares de plantio. São 7,8 mil agricultores familiares envolvidos na atividade, segundo a Coordenadoria Estadual de Fruticultura da Emater-MG.

Foto: Divulgação Emater-MG

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