Agricultura

Falta de chuvas e geadas reduzem safra de laranja

A primeira reestimativa da safra de laranja 2021/22 do cinturão citrícola de São Paulo e Triângulo/Sudoeste Mineiro, publicada em 10 de setembro de 2021 pelo Fundecitrus – realizada com a cooperação da Markestrat, FEA-RP/USP e FCAV/Unesp2 –, é de 267,87 milhões de caixas de 40,8 kg, ante as 294,17 milhões estimadas em maio deste ano. A redução de 26,30 milhões em relação à expectativa inicial é equivalente a -8,9%. A principal causa desta acentuada queda da safra é a piora no regime de chuvas, que se configura na mais grave crise hídrica ocorrida no Brasil nos últimos 91 anos.

A combinação dessa estiagem, jamais vivenciada pela citricultura, e das sucessivas geadas em julho culminaram em uma gradual degradação da safra, que vem sendo constatada à medida que as colheitas avançam e revelam números completamente atípicos. Os levantamentos de campo também mostram valores fora do esperado para esta época do ano a respeito dos laranjais que ainda não foram colhidos.

De forma geral, as laranjas estão excessivamente miúdas e a queda prematura de frutos atinge um de seus maiores índices. Com isso, a projeção recua a patamar similar ao da safra passada, que foi finalizada em 268,63 milhões de caixas, apesar da carga de frutos atual ser 12,50% maior devido à bienalidade positiva. Diante destes dados e da perspectiva de que as condições climáticas adversas permanecerão até o encerramento das colheitas, o tamanho e a queda de frutos deverão chegar aos níveis mais críticos do histórico.

Se este cenário for confirmado, não há mais o incremento da safra atual em relação à passada, que até então era de 9,51%, considerando a estimativa de maio, mas um volume menor que o produzido na temporada anterior (-0,28%). Esta reestimativa reflete a fotografia do momento e será atualizada em 10 de dezembro de 2021, 10 de fevereiro e 12 de abril de 2022, trazendo as variações que podem vir a acontecer à medida que a safra avança. Da safra total, cerca de 23,77 milhões de caixas deverão ser produzidas no Triângulo Mineiro.

A estimativa realizada em maio já contemplava os efeitos desencadeados por volumes de chuva abaixo da faixa normal climatológica previstos para esta safra, todavia não se contava que o déficit hídrico seria tão drástico e resultaria em uma seca implacável no cinturão citrícola. O volume acumulado de maio a agosto de 2021 é de apenas 49,6 milímetros, em média nas regiões, volume equivalente a aproximadamente 30% da normal climatológica (1981-2020), de acordo com dados da Somar/Climatempo Meteorologia.

As poucas chuvas que ocorreram foram pontuais, isoladas, e com um grande distanciamento entre as precipitações. A situação é ainda mais grave porque a umidade dos solos, e a disponibilidade de água nos rios e reservatórios já estava em níveis preocupantes antes mesmo do início desta temporada, pois os baixos volumes de chuva persistem há três safras, e, a cada ano, acentuam-se os desvios negativos em relação à média histórica. Esta escassez de chuva está afetando fortemente os pomares de sequeiro, especialmente aqueles mais adensados e com porta-enxertos menos tolerantes ao estresse hídrico. Até mesmo os pomares irrigados, que abrangem mais de 30% da área total do cinturão citrícola, estão sofrendo com a seca, pois, em muitos casos, não há água suficiente para atender completamente à demanda desses pomares.

Sem chuvas significativas há cerca de cinco meses, as regiões do Noroeste têm os menores volumes de precipitação acumulada no período de maio a agosto de 2021: 16 milímetros, em São José do Rio Preto (-87% em relação à média histórica), e 27 milímetros, em Votuporanga (-78%). Esse longo período sem chuvas significativas também é observado no Norte, onde os acumulados médios são de 27 milímetros no Triângulo Mineiro (-67%); 28 milímetros, em Bebedouro (-76%); e 33 milímetros, em Altinópolis (-73%). As regiões do Centro já estão há cerca de três meses sem chuvas significativas, e os volumes acumulados são de 45 milímetros, em Matão (-68%); 58 milímetros, em Duartina (-71%); e 57 milímetros, em Brotas (-67%). No Sul, a região de Porto Ferreira tem acumulados de 52 milímetros (-65%), e Limeira, 57 milímetros (-67%). Os acumulados no Sudoeste são um pouco melhores, mas também excessivamente baixos: 71 milímetros, em Avaré (-69%), e 117 milímetros, em Itapetininga (-58%).

Foto: Graphic Node / Unsplash

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