Estudo da Embrapa mostrou níveis surpreendentes de aproveitamento do sorgo para produção de grãos no Semiárido brasileiro. Variedades híbridas, que estavam em teste para se tornarem cultivares, alcançaram mais de 5.000 quilos de produtividade de grãos por hectare, quase duas vezes superior à média brasileira, que fica entre 2.600 e 2.800 quilos por hectare. Esse resultado comprova o potencial do sorgo granífero e representa mais uma possibilidade de renda para os produtores locais. Além disso, pode impulsionar o cultivo do cereal na região, que ainda está em expansão, apesar da tolerância que apresenta à seca.
Junto com cultivares comerciais da Embrapa já indicadas para o Semiárido brasileiro, o estudo realizado no campo experimental da Embrapa Caprinos e Ovinos (CE) utilizou 47 genótipos híbridos – que mostraram bom potencial nas safras de 2018 e 2019 para se tornarem cultivares no futuro – de sorgo granífero. Desse material, 19 genótipos foram considerados aptos para produção de grãos no Semiárido, com produtividade que variou entre 3.000 e 7.000 quilos de grãos por hectare, superior à média brasileira.
“A Embrapa já tem várias cultivares de sorgo granífero lançadas no mercado, com essa característica de alta tolerância à seca e boa produtividade. Mas no experimento observamos genótipos que atingiram produtividade acima de 5.000 quilos de grãos por hectare, que é uma média bastante elevada”, destaca o melhorista Fernando Guedes, pesquisador de Melhoramento Genético Vegetal da Embrapa Caprinos e Ovinos.
Os dados são promissores, considerando que, segundo estudos de viabilidade econômica desenvolvidos pela Embrapa, produtividades acima de 2.750 kg/ha de sorgo na safra já cobrem custos fixos da cultura. “Com uma produtividade acima de 4.000 quilos por hectare, já é possível para o produtor obter lucro. Esse dado comprova o potencial do sorgo como cultura que pode ser utilizada pelos produtores rurais para produção de grãos”, acrescenta Guedes. Esses resultados se assemelham ainda à média de produtividade na Argentina (superior a 4.500 kg/ ha), país que figura entre os grandes produtores e apresenta os maiores rendimentos médios de grãos de sorgo no mundo.
De acordo com o líder da equipe da pesquisa, o engenheiro agrônomo Cícero Menezes, pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo (MG), o desempenho dos híbridos testados em Sobral é “surpreendente”. “O ideal é continuar testando esses híbridos de maior produtividade, de preferência em áreas experimentais maiores, realizando unidades de observação, assim como dias de campo para apresentar os resultados aos produtores locais”, aponta.
Cultura em expansão no Semiárido
Apesar do bom potencial para o Semiárido brasileiro, o sorgo ainda é uma cultura em expansão no Nordeste brasileiro. Atualmente, as regiões Centro-Oeste e Sudeste respondem por 90% da produção nacional do cereal. “Há uma conjuntura para isso. No Centro-Oeste e Sudeste o cereal é plantado em grandes áreas, seguindo o caminho da soja. No Nordeste, com exceção do Matopiba (região entre as divisas dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), o sorgo é plantado por produtores menores, onde ainda existe uma grande tradição no plantio de milho. Falta mais assistência técnica e divulgação da cultura”, avalia o pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo.
Menezes destaca ainda que, na região, além da Embrapa, outras instituições têm desenvolvido pesquisas sobre a cultura, como o Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA) e a Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte (Emparn). “Mas isso é pouco para uma região tão grande. Precisamos de mais testes e experimentação tanto do sorgo granífero quanto do silageiro”, afirma.
Para o pesquisador, é importante aproveitar esse potencial como uma alternativa para a produção animal na região. “Existem experimentos em áreas do Nordeste, como Luis Eduardo Magalhães (BA), Serra Talhada (PE) e Sobral (CE), com produções de grãos acima de 80 sacos por hectare, em condições de sequeiro. Esses resultados mostram que existe um enorme potencial para produção de sorgo granífero no Nordeste”, frisa Menezes.