Resultados de pesquisa científica do Instituto Biológico (IB-APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, que mostraram a perda da eficiência dos principais fungicidas utilizados para controle da mancha marrom de Alternaria em tangerinas e seus híbridos, foram confirmados por estudos conduzidos pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) e Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus). As pesquisas confirmaram a resistência do fungo agente causal da doença às estrobilurinas e mostraram também que a resistência ocorre não apenas no Sudoeste Paulista, como indicavam os estudos iniciais do Instituto Biológico, mas em todo o Estado de São Paulo, que concentra a maior produção nacional de citros.
As estrobilurinas eram até então os fungicidas considerados mais eficazes e utilizados no País para o controle da macha marrom de Alternaria, doença que afeta tangerinas e alguns de seus híbridos, como tangores e tangelos, causando lesões em folhas, ramos, e frutos, provocando seca de ramos e queda de folhas e frutos. Os resultados das pesquisas foram recentemente publicados na revista científica Crop Protection.
“Este novo artigo inclui os resultados preliminares obtidos pelo IB e também estudos mais abrangentes conduzidos pelo Fundecitrus e Esalq. A realização das pesquisas relatadas no artigo científico contou também com o uso de muitos isolados do fungo Alternaria alternata da coleção de culturas da Micoteca “Dra. Victoria Rossetti” do IB, evidenciando, novamente, sua importância na condução de muitos estudos da área de fitopatologia”, afirma Eduardo Feichtenberger, pesquisador do Instituto. A micoteca do IB é o maior acervo de fungos e oomicetos do Brasil na área de doenças dos citros. Mantida em Sorocaba, ela vem contribuindo desde 1987 na solução de importantes problemas fitossanitários da agricultura paulista e brasileira.
O que representa na prática o novo estudo?
Na prática, o novo estudo mostra que as estrobilurinas não estão mais sendo eficazes no controle da mancha marrom de Alternaria em todo o Estado de São Paulo, e que elas não devem mais ser incluídas nas recomendações de manejo químico da doença em pomares paulistas de tangerinas e tangores.
“A mancha marrom de Alternaria afeta a cosmética dos frutos, reduzindo seu valor comercial quando destinados ao mercado de fruta fresca. Provoca também a queda prematura de frutos, reduzindo a produtividade das plantas. Quando a infecção ocorre em frutos na fase final de desenvolvimento, uma única lesão pode provocar sua queda prematura. O produtor pode ter uma safra praticamente pronta, com expectativa de ter alta lucratividade na comercialização dos frutos do seu pomar, mas se a doença ocorrer na pré-colheita, ele pode ter boa parte da sua safra perdida em questão de dias”, explica o pesquisador do IB. As variedades comerciais de citros mais afetadas no Brasil são ‘tangor ‘Murcott’, tangerina ‘Ponkan’ e tangerina ‘Dancy’.
A melhor alternativa para o citricultor seria, segundo Feichtenberger, a utilização de variedades ou cultivares de tangerinas e híbridos de citros resistentes ou tolerantes à doença, como a tangerina IAC 2019Maria, desenvolvida pelo Instituto Agronômico (IAC-APTA). Lançada em 2018, esta cultivar é a primeira tangerina desenvolvida e registradas no Brasil que apresenta resistência à doença, possibilitando reduções significativas nos custos de produção e eliminando todos os danos ambientais decorrentes do seu controle químico.
“Contudo, a substituição de variedades em pomares está sujeita a restrições de ordem comercial, pois tangerinas como a ‘ponkan’ e o ‘tangor murcott’, que são muito suscetíveis à doença, são também as variedades mais comercializadas no País e as preferidas dos consumidores brasileiros”, afirma Feichtenberger.
Outra boa alternativa, de acordo com o pesquisador, seria a melhor utilização dos fungicidas à base de cobre no manejo químico da doença. Esses fungicidas já vêm sendo muito usados, porém, seria essencial otimizar sua utilização, compatibilizando as doses dos produtos com as melhores épocas e intervalos de sua aplicação.
“Doses menores de cobre podem ser usadas nas aplicações desde que os intervalos entre as pulverizações também sejam reduzidos. Como os fungicidas cúpricos somente apresentam ação preventiva e de contato, a redução no intervalo entre as aplicações contribuirá para também diminuir o período em que os órgãos suscetíveis da planta ficam desprotegidos da ação dos produtos, principalmente no caso dos frutos novos em desenvolvimento”, explica o pesquisador do IB.
Esta recomendação é viável atualmente, pois os produtores já realizam pulverizações nos pomares para o controle do HLB, do cancro cítrico, da pinta preta e de outras doenças e pragas da cultura. “As pulverizações frequentes nos pomares para o controle conjunto de várias doenças e pragas já são realizadas e os seus custos já foram absorvidos pelos citricultores, por isso, essa seria uma alternativa viável”, afirma.
As pulverizações feitas com baixo volume de calda de cobre também evitarão o escorrimento do excesso de calda e, consequentemente, o seu acúmulo no solo. Níveis elevados de cobre no solo podem ser tóxicos às raízes das plantas.
O produtor também deve estar atento ao uso de outras medidas de manejo da doença, como a utilização de mudas sadias em novos plantios e replantios; a seleção de áreas para o plantio, evitando aquelas com má circulação de ar, como as baixadas, e reservando as áreas mais altas e arejadas para o cultivo de cultivares suscetíveis; a realização de podas de limpeza na parte interna da copa das plantas para melhorar as condições de aeração no interior das plantas, e a remoção de ramos secos, que se constituem em importantes fontes de inóculo (focos da doença); e a manutenção das plantas em boas condições de nutrição e sanidade.