Localizada em Nova Alvorada do Sul, a Estância Alvorada do produtor rural, Wilson Igi, é a primeira propriedade do Brasil a receber o Selo Arte para doce de leite. Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), desde 2019, quando o Selo Arte foi regulamentado, 52 Selos Arte foram concedidos, sendo a maioria para produtores rurais de Minas Gerais, grandes produtores de queijo. O doce de leite Ponto Alto, de Mato Grosso do Sul, é o primeiro da categoria a receber o Selo.
Estados como Espírito Santo, Goiás, Pará, São Paulo e Santa Catarina já contam com produtores beneficiados. Esses produtores se dedicam à produção de queijos variados e socol, um embutido de carne suína.
O Selo Arte é a forma de regularização dos produtos alimentícios de origem animal, que precisam ser produzidos de forma artesanal. Somente após a conquista deste selo o produtor pode comercializar seus produtos para outros estados.
No caso do doce de leite Ponto Alto, o produtor rural Wilson Igi, só tinha autorização para comercialização no próprio município de Nova Alvorada do Sul, por meio do SIM – Serviço de Inspeção Municipal. “Foi um longo trajeto até a conquista do Selo Arte. Quando comercializávamos apenas o leite, poucas vezes recebíamos pela qualidade, pagavam apenas pelo volume. Foi então que decidimos agregar valor ao leite e, entre o queijo e o doce de leite, optamos pelo produto mais valorizado e com menor concorrência no mercado”, explica Igi.
Para atingir a qualidade esperada no leite o produtor optou pelo cruzamento. “Iniciamos com um lote de Girolando, na sequência um lote de Jersey, até que chegamos na qualidade desejada com o cruzamento dessas duas raças”, pontua. “Para quem nunca tinha produzido doce na vida, o desafio era aprender fazer. Para isso fomos fazer curso no Instituto Cândido Tostes, em Juiz de Fora (MG)”.
Antes da construção da fábrica, foi construída uma cozinha experimental para pôr em prática o que aprenderam no curso. Distribuíram para degustação e pesquisa mais de 400 potes de doce à possíveis consumidores e autoridades locais. “A pesquisa nos mostrou que o público tinha mais interesse em um produto de cor escura, consistência cremosa, sabor suave, menos açúcar e muito brilho. Com a fábrica pronta, fomos para Lambari (MG) buscar nosso tacho de 100 litros. Nesse período tivemos de doar muito doce, até chegar no formato que queríamos”, sinalizou Igi.
No final do processo para obtenção do Selo Arte se depararam com algumas burocracias, que foram resolvidas pelo presidente da Iagro de MS, Daniel Ingold. A legislação que regulamentou o artesanal no estado foi a mesma do Mercosul. Agora temos o reconhecimento de um produto daqui, da gente, de Mato Grosso do Sul”, pontuou o produtor rural.
Segundo o presidente do Sindicato Rural de Campo Grande, Rochedo e Corguinho (SRCG), Alessandro Coelho, a meta é aumentar de forma significativa o volume de Selo Arte na região. “Trabalhamos com a finalidade de democratizar o acesso ao Selo e incluir muitos mais produtores nesse processo de certificação para diferentes produtos artesanais. Wilson mostrou a viabilidade e as chances que temos de exportar para outros estados a qualidade que produzimos aqui. A demanda existe e precisamos aproveitar essa oportunidade”, afirmou Coelho.
Em Mato Grosso do Sul a responsável pela certificação é a Semagro (Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar). “O selo Arte é uma oportunidade para expandir a comercialização e agregar valor ao produto artesanal, com certificação sanitária adequada, e a tendência é que venham mais produtores de outros segmentos conquistando a certificação”, destacou Jaime Verruck, líder da pasta.