Há cerca de seis anos, o produtor rural Sávio de Castro Ferreira, de Planaltina de Goiás, decidiu trocar o escritório pelo campo para trabalhar com alimentos orgânicos. Foi na cultura de tomate que o agricultor encontrou o carro-chefe de sua produção, conquistando o mercado nacional, cuja demanda tem sido tão grande que o levou a ampliar as áreas de cultivo em mais de 60%. O investimento só foi possível mediante o apoio do Governo de Goiás, por meio da Agência Goiana de Assistência Técnica, Extensão Rural e Pesquisa Agropecuária (Emater), que elaborou um projeto para a obtenção de crédito destinado ao desenvolvimento da estrutura produtiva da propriedade.
Com a aquisição do financiamento, a fazenda de Sávio passou de 32 para 50 estufas, com capacidade de 500 pés de tomate cada. Desde 2018, uma importante rede de restaurantes, que possui estabelecimentos espalhados em 18 Estados do País, tornou-se um dos principais clientes do agricultor. “A empresa precisava trazer tomates orgânicos de São Paulo para suprir a demanda”, explica ele. A partir do aumento da produção, está sendo possível atender essa procura pelo fruto. Hoje, são colhidas três toneladas por semana, no entanto, o objetivo é chegar à marca de seis toneladas semanais até o próximo mês de janeiro.
Além da consultoria para o projeto de crédito, a Emater atua oferecendo acompanhamento técnico, com supervisão periódica, orientações quanto ao cultivo, diretrizes para o combate a pragas e doenças em sistema orgânico e outras instruções relativas aos tratos culturais. De acordo com o engenheiro agrônomo responsável por assessorar a propriedade, Adson Rodrigues Cardoso, um fator importante que contribui para o êxito na produção é a adoção de estufas. “O cultivo protegido da chuva, em ambiente telado, evita a ocorrência de doenças, a entrada de insetos e a necessidade de utilização de agrotóxicos. O ciclo da cultura também é mais rápido, já que o espaço fechado propicia o aumento da temperatura”, detalha o profissional.
O sucesso do empreendimento trouxe ainda os filhos de Sávio para o campo, que também trocaram seus empregos na cidade para gerenciar a fazenda ao lado do pai. Segundo a extensionista da Emater, Ana Cecília Libório, uma das grandes dificuldades enfrentadas pelo segmento da agricultura familiar é a fixação dos jovens nas propriedades, necessária para a sobrevivência dos negócios familiares rurais. Dados do Censo Agropecuário 2017, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontam que os mais jovens, com idade entre 25 e 35 anos, compõem apenas 9,48% do contingente populacional rural, bem abaixo dos 13,56% do censo anterior.
Com a família por perto, o agricultor conseguiu arrendar mais uma área onde foram implantadas outras culturas para diversificar a produção. Estão sendo cultivadas de forma orgânica abóbora, cenoura e beterraba, além da criação de gado bovino. “Meu princípio, produzindo tomate ou qualquer outra cultura, é priorizar a saúde dos meus clientes, família e funcionários”, diz Sávio. “O acesso aos incentivos financeiros subsidiados pelo governo é essencial para alavancar a produção, em especial dos pequenos produtores. Como não tínhamos o know-how e o conhecimento dos processos, a Emater foi fundamental para o nosso negócio”.
Goiás em destaque
Estimada em 1.329.790 toneladas, a produção de tomates em Goiás é a maior do Brasil, conforme a Radiografia do Agro, publicada pela Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa). Com área plantada de 14.682 hectares, o Estado detém 82 estabelecimentos produtores espalhados em 44 municípios, sendo os principais Cristalina, Itaberaí e Morrinhos, onde estão concentrados 58,3% do volume de produção.
Apesar de não haver números oficiais sobre o cultivo de tomate orgânico em Goiás, é possível afirmar que esse mercado tem se consolidado, impulsionado pela demanda de consumidores preocupados com qualidade, saúde e questões ambientais. O Conselho Brasileiro da Produção Orgânica e Sustentável (Organis) calcula que a produção de alimentos orgânicos cresce em média 20% ao ano, indicando uma expansão da demanda por esses produtos.
Além disso, os agricultores que optam pelo sistema orgânico podem alcançar valores diferenciados na venda. “Existe um potencial comercial muito grande. Na Feira Agroecológica de Anápolis, por exemplo, o tomate orgânico mantém o mesmo preço de R$ 10 o quilo nas épocas de safra e entressafra do tomate convencional, quando o preço costuma cair por conta da alta na produção”, explica o engenheiro agrônomo da Emater e especialista em orgânicos, Álvaro Gonçalo.
O tomate é uma das hortaliça mais industrializadas na forma de inúmeros subprodutos, como extrato, polpa, pasta e tomate seco. Em 2019, as exportações de molhos processados a partir do tomate goiano movimentaram mais de 500 mil dólares. A importância dessa cultura atravessa os limites estaduais. O Brasil é um dos maiores produtores mundiais do fruto, que está também entre as hortaliças mais consumidas no mundo, globalmente enraizada nos hábitos alimentares das pessoas.