O sistema da Integração Lavoura-Pecuária (ILP) é um dos que vem sendo preconizados pelo setor arrozeiro na busca da diversificação na propriedade. O ILP é a exploração de atividades de forma integrada, seja em rotação ou em sucessão, na mesma área e em distintos momentos, o que consiste no aumento da eficiência do uso dos recursos naturais. Mais do que nunca, também consiste em uma diversificação da produção, gerando estabilidade produtiva e renda ao produtor.
O assunto será destaque novamente na 31ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz e Grãos em Terras Baixas. De acordo com o presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Alexandre Velho, a participação da pecuária no sistema de produção é cada vez mais importante. “Estamos em busca de uma intensificação do sistema produtivo e certamente a pecuária terá uma participação cada vez maior neste sistema”, salienta.
Conforme o engenheiro agrônomo Paulo Osório, consultor da Porteira Adentro, da porteira para fora, essa diversificação faz com que o produtor tenha uma estabilidade maior no negócio, “conseguindo ter um leque de produtos para comercialização, organizando as vendas, fugindo dos momentos históricos de menor preço de cada produto, e proporcionando ao produtor obter maior renda na média dos anos”, frisa.
Já da porteira para dentro, para o especialista, existem diversos benefícios diretos e indiretos na ILP, “como a otimização de mão de obra e maquinários na entressafra, onde geralmente estes estariam sub utilizados, a possibilidade de manter o solo sempre coberto, com pastagens adubadas, melhorando assim a fertilidade do solo, diluindo o custo da lavoura com o custo da pecuária, e tendo uma maior rentabilidade tanto na lavoura como na pecuária”, destaca, acrescentando ainda que com o aumento da população e demanda por alimento, é preciso otimizar o bem maior, que é a terra, produzindo alimento o ano todo, intensificando de forma sustentável tanto ambientalmente como financeiramente.
O pesquisador da Embrapa Pecuária Sul, Danilo Sant’Anna, também destaca a importância da pecuária dentro do sistema de produção com o arroz e a soja em terras baixas. Para o especialista, a lavoura ajuda muito no sistema com a presença de recursos, mas a pecuária contribui para a redução de custos e a diversificação de renda. “O que importa é a renda da propriedade como um todo. Para isso é necessário uma visão do sistema da propriedade inteira com uma visão integrada. É uma atividade que pode proporcionar mais renda pelo aumento de produção e não somente porque os preços estão bons. Mesmo antes, a margem de aumento de produtividade é muito grande nestes sistemas pastoris, e o grande impulsionador da renda é a produtividade. Este aumento de renda paga os investimentos que a pecuária necessita”, ressalta.
Além disso, Sant’Anna enfatiza o benefício para o solo nesse sistema de produção, o que impulsiona a produtividade da lavoura. “Na fase pecuária conseguimos aumentar muito o parâmetros de fertilidade e rapidamente, e disso depende o aumento de produtividade do pasto pastado para ter aumento de matéria orgânica para que a lavoura pegue depois em cheio de uma forma inclusive muito mais assimilada, fazendo com que consigamos aumentar a própria produtividade da lavoura pelo aumento das melhorias de fertilidades do solo”, observa.
Um dos proprietários da Estância da Tamanca, de Santa Vitória do Palmar (RS), Luciano Sperotto Terra, cita o exemplo da propriedade. “Partimos há algum tempo para intensificar a integração da lavoura com a pecuária pensando no incremento na rentabilidade das duas atividades. E com o advento da soja na várzea conseguimos Introduzi-la em rotação com o arroz e mantivemos a mesma lotação nas áreas de pecuária na sequência desta rotação com um melhor aporte forrageiro e incremento de fertilidade, produtividade e diversificação das commodities que trabalhamos”, explica.
Conforme Terra, existe o respeito entre as atividades e o mantra que elas precisam crescer juntas. Mesmo que uma atividade esteja mais rentável que a outra no momento, o objetivo é investir no crescimento de todas ao mesmo tempo. Montamos um modelo com sete planos, onde plantamos mais ou menos 40% da área e os outros 60% são de atividade pecuária que vão girando entre arroz, soja, arroz, pecuária 1, 2, 3 e 4. Entendemos que melhorou o fluxo de caixa e valorizou mais os produtos, pois com isso podemos escolher a melhor época de comercialização. Além disso todos os colaboradores ja sabem o planejamento das áreas de lavouras e pecuária para os próximos anos. Nada é engessado, tudo pode sofrer mudanças, mas sempre pensando no crescimento e rendimento das atividades” afirma.
Os três participarão de painel sobre o tema. A 31ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz e Grãos em Terras Baixas ocorrerá de forma híbrida de 9 a 11 de fevereiro de 2021, na Estação Experimental Terras Baixas da Embrapa Clima Temperado, em Capão do Leão (RS), e virtualmente, com o tema “Os novos rumos do sistema de produção”. O evento, que terá inscrições gratuitas e online, tem a realização da Federarroz, correalização da Embrapa e o patrocínio do Instituto Riograndense do Arroz (Irga).