Por Ariosto Mesquita* – Há alguns anos estudando a realidade e o potencial da bovinocultura nordestina, o técnico agrícola e consultor Luiz Caires (Caires Assessoria – Formosa, GO), um dos gestores da Latina Sementes no Brasil, consegue hoje ser taxativo: “A região tem potencial de sobra para ser a nova fronteira da pecuária de corte e de leite no País. É um diamante que está sendo lapidado”. A afirmação do profissional é fundamentada sobretudo pelos aspectos nutricional, logístico e climático da região.
“O sertanejo acredita que seca é exclusividade do Nordeste e isso não é verdade. Algumas extensões de Goiás, por exemplo, ficam até sete meses sem ver uma gota de água vinda do céu, enquanto regiões áridas do Nordeste ainda recebem uma chuvinha vez por outra nos períodos mais críticos de estiagem”, observa.
Este é um dos argumentos que faz Caires defender o uso de modelos de produção – atualmente disseminados no Brasil Central – também no Nordeste: “Por ser uma ferramenta para produção de material verde no período seco, sempre acreditei que a integração lavoura-pecuária (ILP) deveria ter se iniciado na agropecuária nordestina”.
Com relação à facilidade de escoamento da produção, sobretudo para as exportações de carne, ele lembra que a região tem condições ímpares: “A logística marinha do Nordeste é única no Brasil. A partir de qualquer ponto do Ceará, Pernambuco, Paraíba ou Alagoas, por exemplo, leva-se, no máximo, oito horas por terra pra se chegar ao mar. Excelente para embarcar boi vivo ou mandar carne para a Ásia e Europa”, avalia.
Números recentes do IBGE atestam e comprovam o crescimento da pecuária nordestina. De acordo com a mais recente Pesquisa da Pecuária Municipal (com dados de 2019), apesar de ser apenas o quarto maior, dentre as cinco regiões, o rebanho bovino do Nordeste foi o que mais cresceu no Brasil em relação a 2018: 2,88%, saindo de 27,8 milhões de cabeças para 28,6 milhões de animais, a grande parte concentrada ainda na Bahia ( 10,2 milhões) e no Maranhão (8,0 milhões). No Centro-Oeste e no Norte, o crescimento do rebanho foi de 0,27% e 1,43%, respectivamente. Enquanto isso, houve queda no Sudeste (-0,27%) e no Sul (-2,68%).
Revolução a partir do cocho
Mas é no aspecto nutricional que Caires aposta suas maiores fichas. Segundo ele, as alegadas dificuldades de se alimentar bovinos no sertão estão com os dias contados: “A pecuária nordestina está sofrendo profundas mudanças, principalmente com relação à dieta oferecida ao animal”, observa. O principal divisor de águas, segundo ele, foi a chegada ao Brasil do sorgo gigante boliviano (batizado de Agri002E), uma forrageira tropical híbrida desenvolvida por melhoramento genético ao longo de 10 anos, na região de Santa Cruz de La Sierra, no país vizinho, pela multinacional latino-americana Agricomseeds (representada comercialmente no Brasil pela Latina Sementes). As primeiras sementes desta planta – que atinge facilmente mais de cinco metros de altura – começaram a ser cultivadas comercialmente no Brasil em 2017.
O que aproxima este sorgo das necessidades do pecuarista nordestino é justamente sua extrema capacidade de suportar extensos períodos de estresse hídrico e produzir farto volumoso para servir o animal no cocho em pelo menos dois cortes/ano. “É muito tolerante à seca e produz um material extraordinário. Muita gente acha que importante é matéria verde, mas o que sobra no rúmen do animal é matéria seca”, alerta. Neste ponto, Caires garante que com 110 dias de cultivo o sorgo gigante produz 30% de matéria seca.
Considerando regiões onde chove entre 800 mm a 1.000 mm/ano, como em vários pontos de clima semiárido, este sorgo consegue produzir 60 toneladas por hectare em um corte, rendendo 18 toneladas/ha de matéria seca. Isso corresponde, mais ou menos, duas a três vezes acima do que uma braquiária poderia oferecer nestas condições”, compara.
Outro atrativo é o baixo custo de produção do volumoso a partir do sorgo gigante boliviano. Caires cita como exemplo a Fazenda Timbaúba, em Quixadá, CE, que planta, colhe, prepara e coloca o volumoso no cocho a um custo final de R$ 38 a tonelada, para alimentação de novilhas e garrotes: “Esta propriedade fornece 15 kg/animal/dia. Mas vamos fazer o cálculo em cima do fornecimento de 20 kg/animal/dia. Representaria uma diária de volumoso de R$ 0,76/animal ou R$ 23/cabeça/mês. O aluguel mensal de pasto não fica por menos de R$ 50/cabeça”.
A adoção do sorgo gigante boliviano, que vem sendo uma das principais alternativas para alimentar bovinos do Brasil Central nos meses secos, é crescente também no Nordeste. De acordo com levantamento da Latina Sementes, em um ano a área plantada aumentou 260%, saindo de 2.500 ha na safra 2018/2019 para 9.000 ha em 2019/2020. A projeção para o ciclo 2020/2021 é de que atinja 40.000 ha, o que representaria um salto de 344% de uma safra para outra.
(*) Ariosto Mesquita é Jornalista e Mestre em Produção e Gestão Agroindustrial
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