O Brasil e os países da comunidade árabe terão um papel fundamental no redesenho do comércio internacional e na retomada do crescimento econômico, afirmou hoje o ministro das Relações Exteriores, embaixador Ernesto Araújo, em seu pronunciamento no Fórum Econômico Brasil-Países Árabes, organizado pela Câmara de Comércio Árabe-Brasileira.
Ao falar sobre o tema “Nova Ordem dos Negócios Internacionais”, o ministro Ernesto Araújo observou que o comércio entre o Brasil e o mundo árabe atingiu US$ 12 bilhões no ano passado. De janeiro a setembro de 2020, o fluxo de exportações e importações alcançou quase US$ 9 bilhões, reflexo do impacto da pandemia da COVID-19. Porém, o ministro prevê que o comércio bilateral deverá chegar muito próximo da mesma receita obtida no ano passado.
Ernesto Araújo observou que se não tivesse ocorrido a pandemia certamente o Brasil e os países árabes teriam gerado esse ano um fluxo comercial da ordem de US$ 25 bilhões. Acrescentou que as exportações brasileiras de produtos do agronegócio já superam a meta de US$ 5 bilhões nos nove primeiros meses de 2020, ultrapassando a receita do ano passado.
“Isso é extremamente animador porque é muito importante que o Brasil possa cumprir a sua missão na área de segurança alimentar, especialmente junto à comunidade árabe. E o Brasil se orgulha de contribuir para a consolidação de nossa parceria comercial com a comunidade árabe”, assinalou o ministro das Relações Exteriores.
Outro ponto destacado pelo ministro brasileiro é o potencial de investimentos provenientes dos fundos soberanos árabes para a economia brasileira. Principalmente com a participação dos fundos globais em projetos de comércio e parcerias (PPI). Ele lembrou que o Fundo Soberano do Catar é o único que já investiu recursos financeiros nesse modelo de parceria com foco em petróleo e gás no mercado brasileiro.
Ernesto Araújo assinalou que o Brasil oferece um arcabouço de segurança jurídica, visando dar tranquilidade e confiança aos países árabes ao investir no país.
Impactos da pandemia
O vice-presidente de relações institucionais da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, Osmar Chohfi, fez uma provocação durante a sua apresentação no Fórum Econômico: o impacto da pandemia da COVID-19 propiciou mudanças na economia e no comércio internacionais? Essas mudanças são conjunturais ou serão permanentes?
Segundo o embaixador Osmar Chohfi, estudos do Fundo Monetário Internacional (FMI) indicam que as perdas do PIB mundial poderiam atingir cerca de US﹩ 9 trilhões em 2020 e 2021, o que corresponde à soma dos Produto Interno Bruto (PIB) da Alemanha e Japão.
Na sua visão, o ritmo de uma eventual recuperação econômica é incerto e as previsões ainda se ressentem da imprevisibilidade das reações dos mercados e dos consumidores. “Todos os países, em diferentes graus e cada um com suas peculiaridades, continuam a enfrentar as adversas repercussões dessa pandemia, que se alastrou de maneira sem precedentes e impactou significativamente o mundo dos negócios”, assinalou Osmar Chohfi.
No entanto, o embaixador destacou que as dificuldades provocadas pela pandemia trouxeram soluções inovadoras, principalmente em relação à expansão das plataformas digitais, como o comércio eletrônico. Segundo ele, avançaram os esforços de digitalização do despacho aduaneiro, como todos os que nos assistem terão a oportunidade de ver mais adiante, quando apresentarmos a plataforma ELLOS, desenvolvida pela Câmara de Comércio Árabe-Brasileira.
No caso da relação comercial entre o Brasil e os Países Árabes, a pandemia criou um estímulo a uma maior cooperação. “Os nossos parceiros árabes valorizaram a relação com o Brasil, que fornece com qualidade e previsibilidade, parcela das mais expressivas da segurança alimentar de milhões de pessoas naquela região”, destacou Osmar Chohfi.
Segundo ele, nos últimos meses, a Câmara Árabe recebeu muitas solicitações de importadores para encontrar fornecedores brasileiros aptos a atender às necessidades de importação definidas para reforçar os estoques de alimentos no mundo árabe.