O percevejo de renda é um problema grave para os produtores de seringueira, já que a praga pode reduzir em 30% a produção de látex, em 30% o crescimento da árvore e em 45% o diâmetro do colo da planta. O Instituto Biológico (IB-APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, disponibiliza, há mais de 20 anos, um fungo para controle biológico do percevejo de renda. O agente pode reduzir em até 60% os custos com aplicação de defensivos agrícolas.
O fungo entomopatogênico disponibilizado pelo IB desde 1997 é a base de Simplicillium lanosoniveum, um inimigo natural da mosca do percevejo de renda. Por isso, seu uso reduz a ocorrência da praga, diminui os custos de produção e ainda reduz os impactos ambientais da atividade. Estima-se que em 2019, o Simplicillium lanosoniveum foi aplicado em 9.000 hectares plantados com seringueira em São Paulo, Goiás, Mato Grosso do Sul e Espírito Santo.
De acordo com Antonio Batista Filho, pesquisador do IB e coordenador da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), por a seringueira ser uma cultura perene, o equilibro da população interna entre praga e fungo é mais rápido, o que pode reduzir a necessidade da aplicação do produto. “Com isso, dependendo das condições climáticas, é possível aplicar Simplicillium lanosoniveum apenas uma vez, gerando economia para o produtor”, explica.
Segundo dados do Instituto de Economia Agrícola (IEA-APTA), a produção paulista de borracha na safra 2019/2020 foi de 247,7 mil toneladas de coágulos, 1,7% maior do que a produção da safra anterior. A área total produzida com seringueira no Estado foi de 135,5 mil hectares. A produção está concentrada nas regiões Norte e Noroeste, com destaque para o Escritório de Desenvolvimento Rural (EDR) de São José do Rio Preto, principal região produtora, que responde por 28% da produção paulista, seguida pelos EDRs de General Salgado (12,5%), Votuporanga (12,4%) e Barretos (11,4%).
Como funciona?
O percevejo de renda foi constatado pela primeira vez em São Paulo no município de Buritama. Em sua fase adulta, os insetos apresentam asas com aspecto de renda, daí deriva seu nome. Com ciclo de vida superior a 40 dias, o inseto tem hábito de permanecer na parte inferior das folhas sugando a seiva, o que provoca a queda precoce das folhas da seringueira e, consequentemente, reduz a produção.
Uma das medidas para controle da praga é o uso do fungo selecionado pelo IB, que penetra nos insetos e provoca uma doença que é disseminada por ventos e outros agentes físicos e biológicos. “A eficiência do produto depende da presença da umidade relativa do ar de 60% e deve ser utilizado nas horas mais frescas do dia ou com o tempo nublado”, alerta Batista Filho.
O coordenador da APTA afirma que para o controle do percevejo é necessário que o produtor tenha conhecimento da população de insetos que atacam sua plantação e a partir daí tome a decisão para aplicar o produto. “Semanalmente, as áreas com seringais devem ser vistoriadas e quando o número de adultos por folha for superior a cinco insetos, o produtor deve tomar medidas para reduzir a população do percevejo”, afirma.
Controle biológico
O controle biológico consiste no uso de inimigos naturais para diminuir a população de uma praga. Resumidamente, pode ser definido como natureza controlando natureza. Os agentes de controle biológico agem em um alvo específico, não deixam resíduos nos alimentos, são seguros para o trabalhador rural, protegem a biodiversidade e preservam os polinizadores.
Referência no Brasil e no mundo em controle biológico, o IB tem forte atuação junto ao setor produtivo tendo orientado a criação e manutenção das biofábricas, que desenvolvem esses produtos biológicos para serem aplicados nas lavouras. Ao todo, mais de 80 biofábricas de todo o Brasil recebem orientação dos pesquisadores do IB. Em 2019, o Instituto assinou 23 contratos para transferência de tecnologia a essas empresas, localizadas em São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso e Paraná.
O IB mantém o Programa de Inovação e Transferência de Tecnologia em Controle Biológico (Probio), que reúne as tecnologias e serviços prestados no Instituto, principalmente para as culturas da cana-de-açúcar, soja, banana, seringueira, flores, morango, feijão e hortaliças.