A falta de experiência inicial não fez com que o casal Weig Oliveira Martins e Aline Alarcão Oliveira Martins desistisse do sonho de investir na criação de ovinos. O trabalho de melhoramento de rebanho, que eles vêm realizando na Fazenda Cabeceira da Água Limpa, em Mineiros, município da região Sudoeste de Goiás, está ganhando tanta projeção que a família recebeu o Selo de Inovação Rural da Agência Goiana de Assistência Técnica, Extensão Rural e Pesquisa Agropecuária (Emater). A certificação, emitida pelo Governo de Goiás por meio da Emater, identifica produtos produzidos no Estado mediante processos inovadores, agregando valor às mercadorias que obtiverem o carimbo.
A propriedade conta com uma área de um alqueire destinado à criação dos animais. No entanto, dois hectares são suficientes, suportando uma média de 100 cabeças por ano. Atualmente, o casal trabalha com 50 ovinos da raça Dorper, machos e fêmeas, e realiza duas parições por ano, uma entre janeiro e fevereiro, e outra entre julho e agosto. O produto principal comercializado é o jovem reprodutor, também chamado de borrego, com idade que varia de oito meses a um ano e meio, enquadrado no registro de animais puros de origem, o que o qualifica como melhorador. Aqueles que não respondem a esses critérios são utilizados na pecuária de corte.
“O retorno financeiro é muito bom, o manejo é fácil, o custo, comparado à bovinocultura, é mais barato, e é uma opção interessante para áreas pequenas. O pequeno produtor pode produzir carne de qualidade, manufaturá-la de diversas maneiras, e pode produzir melhoradores de rebanho por valores acessíveis e mão-de-obra simplificada”, afirma Weig. Apesar de simples, ele ressalta que a força de trabalho deve ser qualificada, para evitar prejuízos aos pecuaristas.
Além disso, o ovinocultor salienta que quando compara criação de bovinos e ovinos, não quer dizer que uma atividade seja melhor que a outra. “Mais interessante ainda é que o produtor possa integrar as duas. O ideal que se faça com o cordeiro produzido para o corte é que a bovinocultura seja integrada à criação de ovinos. O bovino ajuda o carneiro a ter um melhor desenvolvimento a pasto”.
Outro ponto positivo é o curto período de tempo para a obtenção do ovino melhorador. O borrego está com o sistema reprodutivo plenamente desenvolvido e apto a partir dos oito meses de idade. “Sem contar as outras possibilidades com esses animais de corte. Tivemos a oportunidade de produzir salame tipo italianinho e a procura foi muito grande. Comercializamos todos os produtos com preço bastante satisfatório”, acrescenta. Por se tratar de uma carne nobre, os valores de venda podem ser altamente rentáveis para o produtor.
Embora seja uma atividade vantajosa, a ovinocultura ainda é pouco difundida em Goiás. O último Censo Agropecuário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2017, mostra que o Estado contava, naquela época, com rebanho efetivo de 93.222 cabeças e 3.371 estabelecimentos criadores de ovinos. Os três municípios com maior número de estabelecimentos foram Formosa, Crixás e São Miguel do Araguaia. Mineiros abrigava 31 propriedades, totalizando 1.037 cabeças.
“Há muito a ser explorado na ovinocultura em nosso Estado. O mercado consumidor é grande e não conseguimos atender a demanda. Temos opções de cruzamento de raças para melhor aproveitamento de carcaça, com clima favorável, proporcionando aos animais um melhor aproveitamento”, explica o zootecnista e técnico da Emater, Maxliano Michel. Segundo estudo apresentado no programa de pós-graduação da Universidade Federal de Goiás (UFG), o consumo médio de carne ovina no Brasil varia entre 0,6 e 1,0 kg ao ano per capita, remetendo para Goiás um potencial de consumo de no mínimo 3.693 toneladas de carne ovina (foram utilizados para o cálculo dados de 2012 do Instituto Mauro Borges).
Produzindo com inovação
“Em terra de bovino, a propriedade que sobrevive criando ovinos é uma inovação”, afirma Aline Oliveira Martins. Para a produtora, o selo concedido pela Emater indica reconhecimento ao trabalho do casal, mostrando também que a propriedade está orientada tecnicamente. “Qualquer problema que tenhamos aqui, temos os profissionais que podem nos ajudar. Seja no campo de pastagem, preservação de nascentes, melhoria da nutrição animal ou doenças. É uma ponte entre os pequenos produtores e o arsenal técnico que as instituições podem nos oferecer”, destaca.
O primeiro contato de Aline e Weig com a Emater aconteceu através de um extinto programa de rádio em Mineiros, no qual foi anunciado um curso de agroecologia ministrado pelo órgão. Ávidos por novas experiências no campo, eles se matricularam na capacitação e conheceram os técnicos Márcia Maria de Paula e Paulo Cesar. Durante o curso, houve interesse pela atividade exercida pelo casal, principalmente quanto ao alto teor nutritivo do esterco ovino, que pode impactar na produtividade de hortaliças em culturas orgânicas. Aline conta que hoje a busca por esse material, comercializado na fazenda, é grande.
A partir disso, os laços com a Agência Goiana foram se solidificando e a Fazenda Cabeceira da Água Limpa tornou-se referência na região. Instituições de ensino como o Centro Universitário de Mineiros (Unifimes) e Universidade Federal de Jataí (UFJ) promoveram visitas de alunos de cursos de ciências agrárias e estudos de caso foram realizados no local.
De acordo com Paulo Cesar, a Emater já desenvolveu uma série de ações de extensão rural na propriedade, para que as tecnologias empregadas pela família Oliveira fossem compartilhadas e multiplicadas entre outros produtores e demais interessados pela área. “Eles já ministraram uma aula sobre criação de ovinos e os apoiamos nos eventos de Exposição Agropecuária”, conta. Para ele, a concessão do selo atesta a originalidade do trabalho, adicionando ainda uma distinção aos documentos fornecidos aos compradores.
Empoderamento no campo
A máxima filosófica de que conhecimento é poder também é compartilhada pelo casal de ovinocultores. Para Aline, o acompanhamento realizado pela Emater é uma maneira de empoderar pequenos produtores rurais, levando informação e estímulo para o campo. “Nós só temos a agradecer a Emater, por podermos levar informações para outros criadores e futuros criadores, mostrando a viabilidade da ovinocultura, atividade que pode dar uma rentabilidade a mais para pequenos produtores”, complementa Weig.
A família afirma que é preciso desmistificar a criação de ovinos, vista para muitos apenas como um hobby. As possibilidades de aproveitamento do animal são inúmeras, como a produção de carne, lã, leite e seus derivados, ou ainda em programas de melhoramento animal, ferramenta importante para o crescimento e desenvolvimento das demais atividades. Futuramente, eles têm o objetivo de criar carneiros “100% verdes”, ou seja, adotar em todas as etapas produtivas sistemas ecológicos e sustentáveis. “Antes da lucratividade, visamos a qualidade e o bem-estar dos animais”, pontuam.