A salada pode ficar ainda mais saudável no prato do brasileiro. Alface com quantidade de zinco até 16 vezes maior nas folhas é o resultado de uma pesquisa desenvolvida no Instituto Agronômico (IAC), de Campinas, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. A biofortificação desse alimento foi obtida a partir de aplicações de doses crescentes de sulfato de zinco no solo, até o limite que não impacte a qualidade, a produtividade da planta e o ambiente.
O teor desse nutriente, que normalmente é de 41,5 miligramas por quilo de massa seca de alface, saltou para 704 miligramas na mesma quantidade da folhosa mais consumida no Brasil. Isso significa que ao ingerir 50 gramas ou seis a sete folhas dessa alface biofortificada, a pessoa estará suprindo cerca de 25% da recomendação diária desse importante reforço do sistema imunológico humano.
O objetivo da pesquisa foi ofertar tecnologia que resultasse em alimento biofortificado com zinco, já presente na dieta do brasileiro, de consumo acessível e fácil preparo. É uma ótima notícia, considerando que 30% da população mundial apresentam deficiência de zinco, que também é fundamental para o crescimento e desenvolvimento de crianças.
A carência de zinco na população motivou a realização desse estudo em doutorado na Pós-Graduação do IAC, iniciado em 2017 e ainda em andamento. A expectativa era transferir essa tecnologia aos horticultores ainda em 2020, mas por conta da pandemia da COVID-19, essa transferência deverá ocorrer em 2021, após validação da mesma. Essa tecnologia utiliza fertilizante de baixo custo, por isso deverá beneficiar o agricultor, que poderá oferecer produto com valor agregado.
De acordo com o pesquisador do IAC e orientador do estudo, Luis Felipe Villani Purquerio, no experimento foi aplicado o sulfato de zinco diluído em água, uma única vez 15 dias antes do transplante das mudas. Normalmente, o zinco é usado na produção de hortaliças em formulações de fertilizantes com outros micronutrientes. “A aplicação somente do zinco não é comum, a não ser em casos que o solo esteja deficiente”, afirma.
A pesquisa foi realizada em estufa agrícola, com as cultivares Vanda, alface tipo crespa, e Saladela, tipo crocante. Foram aplicadas doses de 0, 5, 10, 20, 30 e 40 miligramas de zinco, por decímetro cúbico de solo, que equivale a um vaso cujo volume é de um litro.
“Os teores nas folhas de alfaces biofortificadas foram até 16 vezes maiores do que os das não biofortificadas e constatamos resultados diferentes em função das doses aplicadas, cultivares e épocas de cultivo”, explica Carolina Cinto de Moraes, doutoranda da Pós-Graduação do IAC e responsável pela pesquisa.
A composição mineral das plantas depende, entre outros fatores, da quantidade de nutrientes ofertada pelos agricultores por meio de fertilizantes. No processo chamado biofortificação agronômica, é possível melhorar a qualidade nutricional dos alimentos a partir do uso de fertilizantes.
Na pesquisa no IAC, os limites de aplicação foram respeitados para não afetar a produtividade da alface e não agredir o ambiente. “O excesso de zinco causa toxicidade à planta, resultando em menor produção por área e também em impacto ambiental”, ressalta Carolina.
As doses limites variaram de acordo com a cultivar. Na alface Vanda, a dose que proporcionou melhor resposta foi de 37 miligramas de zinco, por decímetro cúbico de solo, independentemente da época de cultivo. Para a alface Saladela, os melhores resultados foram obtidos com doses de 35 e 12 miligramas de zinco, por decímetro cúbico de solo, no verão e no inverno, respectivamente.
Os pesquisadores do IAC reforçam que essa não é uma recomendação de doses, pois a pesquisa ainda está em andamento. “Quanto à aplicação em escala comercial, ainda não definimos o melhor método e o mais prático para o agricultor, para isso será necessário fazer estudos junto a produtores rurais”, diz Purquerio. Essa será a próxima etapa desta pesquisa, que incluirá também análises no sistema hidropônico.
As principais fontes de zinco nos alimentos estão presentes em ostras, carne bovina, semente de abóbora e castanhas. Além de alguns desses alimentos não serem acessíveis à boa parte da população, por limitações econômicas, há também os consumidores com restrições alimentares.
“Acreditamos que a alface possa contribuir para reduzir a deficiência desse mineral no organismo da população, visto que é a hortaliça folhosa mais consumida, é um alimento simples, sem necessidade de preparo, acessível e que já está diariamente na mesa da população brasileira”, diz o pesquisador do IAC, da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA).
A biofortificação de alimentos tem sido feita sobretudo com grãos e cereais, principalmente arroz, trigo e milho, que reúnem a maioria das calorias consumidas pelas pessoas. Porém, em razão da dinâmica do fluxo do zinco e da água nessas culturas, o nutriente fica em maior quantidade nas folhas e pouco disponível nos grãos, que são consumidos pela população. “Por esse motivo, as plantas que possuem as folhas como parte comestível, como a alface, têm um potencial muito grande para serem biofortificadas com zinco e auxiliar no suprimento deste nutriente para a população”, diz Carolina, que ingressou na Pós-Graduação IAC em 2014, no mestrado, e em 2016, no doutorado. Ela é graduada em Engenharia Agronômica, pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
Novo projeto envolve zinco + bactérias benéficas
Um novo projeto em biofortificação com zinco e bactérias benéficas na cultura de alface está sendo desenvolvido no Instituto Agronômico (IAC), com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). A nova pesquisa irá avaliar a tecnologia aplicada à cadeia de produção, na linha de nutrição de plantas e a eficiência do processo com a biofortificação de zinco em conjunto com bactérias benéficas, segundo Purquerio.
Os pesquisadores esperam que as bactérias auxiliem no processo de absorção de zinco, ou seja, acarretem maior eficiência no processo, com menor dosagem de zinco. De acordo com Carolina, após essa etapa, os resultados serão validados em canteiros com fertirrigação e também em hidroponia para determinação das doses nesses sistemas de produção.