A Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, por meio do Instituto Biológico (IB-APTA), realiza pesquisas com o controle biológico de ácaros em flores. Com a técnica, é possível reduzir em algumas áreas, 70% a aplicação de acaricidas em gérberas e crisântemos e até mesmo eliminar o uso dos produtos em rosas e orquídeas. Produtores de Holambra e de Arujá, grandes polos de produção de flores em São Paulo, adotam a tecnologia do IB. Os resultados são flores mais belas, com melhoria da segurança do trabalhador e diminuição dos impactos ambientais.
Produtores de flores de Holambra e Arujá enfrentam problemas para controlar o ácaro rajado. O uso constante de acaricidas seleciona os ácaros resistentes, diminuindo drasticamente o efeito dos produtos. “Com aplicação exclusiva de produtos químicos, alguns produtores obtêm níveis de controle abaixo de 20% para diversos acaricidas. Com a adoção de estratégia de manejo, incluindo uso do controle biológico, proposta pelo IB, é possível chegar ao controle efetivo da praga, acima de 80% de eficácia, com uso mínimo de acaricidas”, explica o pesquisador do IB, Mário Eidi Sato.
O Instituto Biológico realiza trabalho junto a produtores e cooperativas de flores em Holambra e de orquídea na Associação dos Floricultores da Região da Dutra (Aflord). “Prestamos assessoria na avaliação na resistência do ácaro praga aos acaricidas e a introdução dos ácaros predadores”, afirma Sato.
Em junho de 2015, o Instituto Biológico iniciou trabalhos junto a um produtor de orquídea do Alto Tietê, cooperado da Aflord, que aplicava três tipos de acaricidas, duas vezes por semana, sem sucesso. Com a liberação de predadores, conseguiu eficiência de controle superior a 95%. Em Holambra, alguns produtores de rosa têm conseguido eliminar o uso do produto químico com a técnica de controle biológico. A eficiência mostrada pelos estudos fez com que os produtores ligados à Aflord unissem esforços para o estabelecimento de uma biofábrica para a produção de ácaros predadores.
Segundo o pesquisador do IB, a tecnologia pode ser usada por produtores de todo País. Sato afirma, porém, que no momento, é mais viável para cultivos em pequena escala e em ambientes protegidos, com destaque para as regiões Sudeste e Sul “Ainda há pouca disponibilidade de ácaros predadores no mercado para atender todas as regiões brasileiras, principalmente, para cultivos em larga escala”, diz.
Com o aumento na procura por ácaros predadores, diversas empresas ou associações podem começar a produzir e oferecer os inimigos naturais aos produtores, reduzindo o valor dos predadores, tornando a tecnologia mais acessível para os produtores de diferentes culturas, das diversas regiões do País.
Como funciona?
O ácaro rajado é uma praga de 0,5 mm que ataca mais de 1200 espécies de plantas, como algodão, feijão, morango, mamão, pêssego e flores e plantas ornamentais. O Instituto Biológico trabalha para controle desse ácaro com o uso de predadores naturais, como Neoseiulus califormicus, considerado um ácaro generalista, e Phytoseiulus macropolis, um especialista, que ataca apenas o ácaro rajado.
“Após a liberação desses predadores, caso o produtor precise usar produtos químicos para controle de outras pragas, como tripes e moscas-brancas, ele pode fazer a aplicação de alguns inseticidas, sem ter o risco de matar os predadores liberados”, explica o pesquisador do IB. As populações de predadores utilizadas nas liberações se mostram resistentes a vários inseticidas e acaricidas.
A vantagem no uso do Neoseiulus califormicus é que esse ácaro não se alimenta exclusivamente do ácaro rajado, mas também de pólen e de pequenos insetos. “A chance do estabelecimento desse predador no campo é mais alta do que de outras espécies de predadores”, afirma o pesquisador do IB.
Normalmente, o ácaro predador tem preferência por se alimentar de ovos, chegando a predar, aproximadamente, 20 ovos de ácaros rajados por dia. “Ele também ataca ácaros jovens e adultos, neste caso, o predador geralmente, pega a perna do ácaro e injeta saliva, durante a alimentação. Dessa forma, ele suga o conteúdo do ácaro rajado, deixando-o “murcho”. Com isso, ocorre o controle do ácaro-praga”, explica.
A redução no uso de acaricidas reduz custos de mão de obra na aplicação. “O produtor precisa avaliar que apesar do elevado valor dos predadores, que chega a 300 reais por frasco de cinco mil ácaros predadores, se comparado com o acaricida, há redução de mão de obra e horas de trabalho para o tratamento. Após a liberação dos predadores, só precisará ser feito o monitoramento”, afirma Sato.
Segundo o pesquisador, o importante é fazer a liberação dos predadores no momento correto, quando a infestação do ácaro rajado ainda é baixa. Isso aumenta a eficácia do controle biológico e reduz os custos para a aquisição dos predadores. Desta forma, é possível reduzir os custos de produção.
O pesquisador do IB reforça que o uso de ácaros predadores da família Phytoseiidae, como é o caso de Neoseiulus californicus e Phytoseiulus macropilis, não apresenta risco de levar a um desequilíbrio ambiental em cultivos de ornamentais. “Os predadores se alimentam dos ácaros-praga, sem atacar as plantas cultivadas. Os poucos inimigos naturais, como joaninhas e percevejos predadores, presentes em cultivos de ornamentais, normalmente não são afetados pelos ácaros fitoseídeos”, explica.
Controle biológico
O controle biológico consiste no uso de inimigos naturais para diminuir a população de uma praga. Resumidamente, pode ser definido como natureza controlando natureza. Os agentes de controle biológico agem em um alvo específico, não deixam resíduos nos alimentos, são seguros para o trabalhador rural, protegem a biodiversidade e preservam os polinizadores.
O IB é referência no Brasil e no mundo em controle biológico e tem forte atuação junto ao setor produtivo tendo orientado a criação e manutenção das biofábricas, que desenvolvem esses produtos biológicos para serem aplicados nas lavouras. Ao todo, mais de 80 biofábricas de todo o Brasil recebe orientação dos pesquisadores do IB. Em 2019, o Instituto assinou 23 contratos para transferência de tecnologia a essas empresas, localizadas em São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso e Paraná.
O Instituto mantém o Programa de Inovação e Transferência de Tecnologia em Controle Biológico (Probio), que reúne as tecnologias e serviços prestados no Instituto, principalmente para as culturas da cana-de-açúcar, soja, banana, seringueira, flores, morango, feijão e hortaliças.