O morango está em plena safra no Estado de São Paulo. A Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo desenvolve pesquisas para auxiliar os produtores da fruta que é rica em nutrientes e possui baixas calorias. Uma das pragas principais da cultura é o ácaro-rajado (Tetranychus urticae), que pode causar perdas de 80% na produção. Pesquisas conduzidas pelo Instituto Biológico (IB-APTA) têm buscado identificar espécies ou linhagens de ácaro predadores com alta capacidade de predação de ácaros-praga e com elevada tolerância ou resistência aos principais defensivos agrícolas utilizados pelos agricultores. Com isso, os trabalhos viabilizam o uso desses inimigos naturais, mesmo em cultivos com aplicações frequentes de agroquímicos.
Uma das linhagens do ácaro predador Neoseiulus californicus (Acari: Phytoseiidae), coletada por pesquisadores do IB em cultivo comercial de morango em Atibaia, interior paulista, mostra-se resistente a vários inseticidas e acaricidas, favorecendo o seu estabelecimento nos cultivos de morango, onde são realizadas aplicações de inseticidas e acaricidas para o controle de pragas de diferentes espécies. O uso desse ácaro-predador pode reduzir em mais de 70% a aplicação de acaricidas contra a praga e, em alguns casos, possibilita a eliminação do uso de produtos químicos.
Segundo o pesquisador do IB, Mário Eidi Sato, em uma área estudada de produção integrada de morango, com liberação de ácaros predadores dessa espécie, foi possível reduzir em seis vezes o número de aplicações de acaricidas em relação a um cultivo convencional de morango.
“Alguns produtores chegam a fazer 20 aplicações de produtos químicos durante o ciclo produtivo do morango para controlar o ácaro-rajado. Muitos agricultores não conseguem mais controlar essa praga apenas com as aplicações de acaricidas, a partir de setembro ou outubro, no estado de São Paulo, e precisam retirar antecipadamente as plantas de morango, o que representa um prejuízo significativo”, afirma Sato.
O pesquisador do IB explica que o uso frequente de acaricidas acaba selecionando populações de ácaros-praga, que se tornam resistentes aos produtos químicos, dificultando ainda mais o seu controle.
A liberação do Neoseiulus californicus nas áreas plantadas com morango deve ser feita no início das infestações, quando cerca de 30% da área está infestada com o ácaro-rajado. “O controle biológico é bastante efetivo. O ácaro-predador chega a consumir mais de 20 ovos do ácaro-rajado em um único dia. Alguns produtores ainda têm preocupação com a possibilidade de os ácaros predadores virem a causar danos às plantas, após a sua liberação no campo, porém, as chances de um ácaro-predador dessa família (Phytoseiidae) virar uma praga é zero, isso porque o seu aparelho bucal é feito para atacar outros ácaros e não para se alimentar de folhas ou frutos, por exemplo”, explica o pesquisador.
O IB desenvolve estudos em controle biológico de ácaro-rajado há mais de 20 anos. “Esta tecnologia é utilizada pelos produtores paulistas e brasileiros de morango, principalmente pelos pequenos produtores mais tecnificados. O controle biológico é uma tecnologia viável economicamente e traz benefícios relacionados à qualidade e à sustentabilidade”, diz.
Controle biológico
O controle biológico consiste no uso de inimigos naturais para diminuir a população de uma praga. Resumidamente, pode ser definido como natureza controlando natureza. Os agentes de controle biológico agem em um alvo específico, não deixam resíduos nos alimentos, são seguros para o trabalhador rural, protegem a biodiversidade e preservam os polinizadores.
O IB é referência no Brasil e no mundo em controle biológico e tem forte atuação junto ao setor produtivo tendo orientado a criação e manutenção das biofábricas, que desenvolvem esses produtos biológicos para serem aplicados nas lavouras. Ao todo, mais de 80 biofábricas de todo o Brasil recebe orientação dos pesquisadores do IB. Em 2019, o Instituto assinou 23 contratos para transferência de tecnologia a essas empresas, localizadas em São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso e Paraná.
O Instituto mantém o Programa de Inovação e Transferência de Tecnologia em Controle Biológico (Probio), que reúne as tecnologias e serviços prestados no Instituto, principalmente para as culturas da cana-de-açúcar, soja, banana, seringueira, flores, morango, feijão e hortaliças.