Rural 265 / agosto 2020 – Brasil entra na época em que os produtores implantam seus projetos de confinamento. Nessas horas, surgem dúvidas de como maximizar os resultados e diminuir os riscos. Para ajudar o pecuarista, a Revista Rural conversou com especialistas do assunto, que deram dicas valiosas de como tirar maior proveito deste projeto.
Assista a reportagem veiculada no Programa Revista Rural:
“O confinamento é um sistema de produção muito intensivo que requer planejamento, gestão e métricas. Ou seja, o confinador tem que anotar tudo o que faz ao longo dos 90 dias”, declara Marcos Baruselli, gerente nacional de confinamento da DSM. Segundo ele, não se pode esquecer de planejar a ração e seus ingredientes. “A compra do milho, por exemplo, e aonde irá estocá-lo, a administração dele nos coxos, que é uma tarefa diária de três a quatro vezes ao dia, tem que estar definida com antecedência para obter sucesso”.
Outro ponto importante que o confinador deve estar bastante atento é quanto a compra dos animas, seja no planejamento, na categoria animal (boi magro, castrado ou inteiro), ou se é um bezerro comprado anteriormente, que foi recriado e agora será confinado. “É realmente fundamental fazer uma boa compra de insumo, seja ele alimentação, ou gado de reposição, além de fazer uma boa venda”, declara Thiago Carvalho, pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). Ele comenta que por vezes o pecuarista não foca tanto nesta gestão da compra dos animais, e fica olhando para o preço final, na expectativa de encontrar uma boa oportunidade. “Muitas vezes ela não aparece, o que acaba complicando os resultados finais”.
O pecuarista também deve estar certo do tipo de núcleo mineral vitamínico com promotores de crescimento que utilizará no balanceamento da ração. “Ela não é somente a base de milho, ou outras fontes proteicas, como o farelo de soja, ou de algodão, por exemplo. Os núcleos que tem uma família de promotores de crescimento também fazem parte para fechar o balanceamento. Então, tudo isto tem que estar previamente planejado”, diz Baruselli. O gerente comenta que calcular o número de animais, o consumo total, os estoques, e capacitar e treinar bem a mão de obra, também são dicas valiosas para o sucesso na atividade. “É um projeto com muitos detalhes. Somado a tudo isso, estabelecer horários, com data de entrada e de saída, também passam por essa lista de necessidades”.
Previsões para um ano atípico
Baruselli declara que apesar de ainda estarmos em meio pandemia causada pelo novo coronavírus, na pecuária de corte a exportação de carne vermelha vive um bom momento. “Os preços da arroba estão firmes e o do milho deu uma estabilizada, isso ajuda bastante na redução do custo do confinamento, com maior margem de lucro”. Para Carvalho, a pandemia trouxe um ambiente de incerteza, onde o produtor não sabe se irá ter mercado, seja ele interno ou externo. “Temos que estar ligados no que vai impactar no preço. Estamos vindo de valorizações sequenciais dos insumos e do gado, o que traz anseio ao pecuarista”.
Em 2020 as taxas de rentabilidade giram em torno de 9% no período de 90 dias de confinamento, o que dá algo em torno de 3% de lucro líquido ao mês para o confinador, segundo o gerente da DSM. “É uma atividade rentável e estamos diante de um ano com excelentes oportunidades para o fazendeiro”, comenta.
Já Carvalho declara que pegando por base São Paulo, o preço do mês de julho do milho é de R$ 49,00 a saca de 60 kg, e, olhando o boi gordo em dezembro, no final do confinamento, R$ 214,00. “Essa conta dá algo em torno de 14% de retorno, o que não é pouco. Ano passado passamos dos 20%, mas foi porque o preço da arroba explodiu, aliado a um preço de milho convidativo”. Com o cenário atual, para o pesquisador, ter uma rentabilidade de 4,5% ao mês é interessante. “Por isso é preciso fazer a boa gestão de venda”, conta. Aliado a tudo isso, o que é importante para dar lucro, segundo o pesquisador, é aumentar a produtividade para reduzir custo fixo. “Com o boi e o milho caros, consigo chegar nisso melhorando a carcaça, par negociar melhor com os frigoríficos”.
O confinamento tem que ser tecnificado
Para os especialistas ainda há uma diferença grande entre as pessoas que sabem a necessidade de fazer a gestão, e as que de fato a colocam “para jogo”. “A pecuária mudou muito nos últimos dez anos, evoluiu e aprendeu a produzir mais, só que existe bastante a se fazer quanto a educação do pecuarista, para que ele se sinta confortável em colocar ‘para em prática que precisa render uma carcaça melhor”, diz Carvalho. O pesquisador conta que dentro deste cenário, a tecnologia é uma aliada. “Ela é um investimento para maior produtividade e redução de custo. Se o cenário é incerto, com preços oscilando, o produtor tem que focar em produtividade e em tecnologia”. Para ele, confinamento tecnificado terá margem positiva ao final do ano.
“O uso da tecnologia hoje ocorre em praticamente 100% dos confinamentos do Brasil, que está confinando cerca de 5,3 milhões de animais por ano”, declara Baruselli. Segundo ele, a adoção dela é imprescindível para o confinador obter lucratividade, por se tratar de um sistema bastante intensivo. “Na área de sanidade e nutrição, por exemplo, ela se faz obrigatória para maximizar o desempenho. É claro que tem um custo, mas, o benefício que gera acaba melhorando o confinamento”.