Revista Rural 265 / agosto 2020 – Com o início da colheita de algodão no Oeste Bahia, retoma, por parte dos produtores, a demanda pelas análises de qualidade da fibra. E diante da previsão da produção de 592 mil 269 toneladas nesta safra, este processo se torna fundamental para o cotonicultor. “Ele fica sabendo qual é a real qualidade que está produzindo e também vê o desempenho de cada nova tecnologia que vem sendo implantada dentro do mercado”, diz Sérgio Brentano, gerente de laboratório da Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa).
Para a realização deste processo, atualmente no mundo se utiliza o equipamento com a tecnologia HVI (instrumento de alto volume, em português), que contempla diversas medições da fibra do algodão com rapidez. “Em cerca de 30 segundo podemos tirar os parâmetros intrínseco e até alguns extrínsecos da própria fibra”. Dentre os fatores analisados, está o cumprimento da fibra, a resistência a ruptura, sua espessura e cor da fibra, com seus detalhes que levam ao que seria a classificação visual pelo classificador do algodão.
O processo de classificação dentro do laboratório segue alguns padrões e um requisito importante é a climatização da amostra. No mundo, há dois sistemas que são utilizados: o rápido, que vem se expandindo pelo Brasil, e o passivo, onde as amostras ficam em ambientes controlados por no mínimo 24 horas, para chegar ao nível exigido pelas normas, e aí ser classificado. “Desde 2014 no laboratório da Abapa temos a tecnologia HVI implantada, e o processo do condicionamento rápido leva 20 minutos depois de colocado na esteira para climatizar”, conta Brentano.
Com volume de 25 mil análises por dia, entre receber a amostra de algodão da usina de beneficiamento, até a entrega do resultado, se leva em torno de 24 horas. Segundo o gerente, esse processo rápido tem contribuído para que a qualidade do algodão do Brasil tenha avançado, com tecnologia e rapidez de resposta do laboratório para o produtor, viabilizando que ele na indústria de beneficiamento faça a segmentação do algodão por característica intrínseca. “Num prazo máximo de um dia pode-se segmentar as cargas pelas qualidades, ajudando a dar uniformidade para a indústria têxtil, com qualidade padrão, o que agrega valor ao mercado”.
Passado x presente
O processo de análise da fibra está em constante evolução, e até alguns anos atrás o cenário era menos tecnológico e bem diferente do vivido nos dias atuais. “Quando não existia o HVI, a medição de alguns parâmetros era feita em equipamentos distintos, e isso, em partes, inviabilizava a indústria ter resultados do algodão que era produzido, pela demora e pelo alto custo que havia para fazer este tipo de análise”, declara. O gerente conta que eram diversos equipamentos no laboratório, cumprindo cada um sua função. “Um era para medir o comprimento, o outro para testar a resistência, outro para a espessura, e assim por diante. Era um processo vagaroso e que inviabilizava fazer altos volumes de análises para poder falar do resultado da fibra”.
Outro problema vivido num passado não tão distante é que as análises não representavam fidedignamente a qualidade da fibra. “Naquela época se utilizava mais do método visual, que conseguia identificar apenas as qualidades extrínsecas da fibra (cor, grau de brilho), que são importantes até hoje. Porém, atualmente precisa-se ter a questão do comprimento, da resistência, entre outros, que são fundamentais para o mercado”. Para o gerente, a evolução tecnológica serviu para de fato unir todos os processos de leitura e em grande volume, uma vez que o Brasil hoje faz análise de praticamente 100% do que é produzido.
Diversas análises para gerar bons negócios
Até o início do mês de julho, a Abapa analisou 126 mil amostras, que registraram superioridade em relação à safra passada. “Isso nos dá a expectativa de que teremos uma qualidade melhor ao final da atual safra”, declara. Brentano comenta que o volume vai passar dos três milhões de análises, assim como no ano passado, mesmo que a área plantada na Bahia tenha sofrido redução. “A produtividade deve ser superior, o que compensará e nos manterá como o segundo maior produtor brasileiro da cultura”.
Por questões climáticas e de qualidade de solo, as características extrínsecas do algodão da região do Matopiba, composta pelos Estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, se destacam, e Brentano acredita que isso favoreça que a cultura tenha aparência mais favorável para a comercialização. “Temos potencial para ser o maior produtor de algodão do País”, declara.
Pensando em negociações, com a informação da qualidade em mãos e belos horizontes pela frente, o cotonicultor pode direcionar seu plantio para atender contratos que já tenha fechado, tendo assim uma produção mais direcionada e assertiva. “Normalmente, boa parte do algodão é comercializado com antecedência pelo produtor. Então, com o resultado da análise ele consegue vender tendo uma noção da qualidade que produzirá e qual a demanda que a indústria necessitará”, declara o gerente.
Aproveitando ao máximo o plantio, até mesmo as amostras que não apresentam qualidade superior são comercializadas, explica o gerente. “Principalmente no processo de classificação estrutural, a amostra é toda desconfigurada pelo equipamento, então existe um descarte, que pode ser comercializado para indústrias de pequeno porte, que fazem fios de qualidade inferior”.