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Cerrado: é hora de monitorar as doenças do trigo

A semeadura do trigo está praticamente encerrada nos estados de MG, GO, DF, MS e BA. A expectativa é de uma pequena redução na área cultivada em relação ao ano passado, ficando próxima de 200 mil hectares. Na maioria das áreas o momento é de manejo de doenças com monitoramento das lavouras e acompanhamento das previsões climáticas.

O trigo de sequeiro foi semeado em março e abril, e muitas lavouras se encontram na fase de enchimento dos grãos. A atenção agora é para o controle de doenças de espiga. No trigo irrigado, os trabalhos de semeadura começaram mais tarde e deverão encerrar até o início de junho. O cuidado é com a sanidade das folhas.

De acordo com o pesquisador Vanoli Fronza, do Núcleo Avançado de Trigo Tropical da Embrapa, em Uberaba, MG, apesar da grande incidência de brusone no ano passado, a oferta de sementes para a safra 2020 não foi afetada de forma a comprometer a safra deste ano. No trigo de sequeiro foi verificada tendência de redução de área em GO e no DF, devido às perdas com brusone na safra anterior, e, em MG, houve produtores que optaram pelo milho ou sorgo, com cotações em alta, em detrimento do trigo. No cultivo irrigado, a elevação na cotação de preço do feijão tomou espaço do trigo em alguns pivôs. Segundo o relatório da Secretaria de Agricultura de Minas Gerais (maio/2020) a redução de área de trigo no estado pode chegar a 14%. As estimativas iniciais apontam para uma área entre 170 e 200 mil hectares nos estados de MG, GO, DF, MS e BA.

Manejo de Doenças

A incidência de brusone ainda na fase inicial de desenvolvimento do trigo marcou a safra 2019 no Cerrado. A ocorrência de chuvas no período de seca, temperaturas mínimas acima de 15ºC, duração de molhamento da planta acima de 10 horas, dias nublados e alta umidade relativa do ar causaram as condições ideais para a proliferação da doença. O uso de cultivares mais suscetíveis e a dificuldade para fazer o controle das doenças na lavoura também aumentaram os danos no trigo, tanto em cultivos de sequeiro quanto no irrigado.

Nesta safra, até o momento, as lavouras de trigo sequeiro têm apresentado um bom desenvolvimento. Em Goiás e no Distrito Federal, as lavouras de sequeiro já apresentam alguns sintomas de brusone na espiga, mas ainda não representam perdas no trigo. “O bom desenvolvimento das plantas até o momento e a baixa incidência da brusone encaminha as lavouras de sequeiro para um alto potencial de produtividade que pode alcançar até 80 sacos por hectare”, avalia Júlio Albrecht, pesquisador da Embrapa Cerrados.

Segundo Jorge Chagas, pesquisador da Embrapa Trigo, no sistema irrigado, a recomendação do é sempre evitar a semeadura no mês de abril, dando preferência à semeadura no mês de maio, reduzindo as condições favoráveis para a brusone no espigamento e temperaturas elevadas no início do ciclo, aumentando o potencial produtivo da lavoura. “Até o final da maturação dos grãos, os produtores devem monitorar suas lavouras diariamente para utilizar no momento correto os fungicidas indicados para controle da doença”, alerta o pesquisador, lembrando que, apesar da chuva, a previsão de temperaturas mínimas abaixo dos 15ºC nos próximos dias não deverá favorecer a incidência de brusone: “A saída é acompanhar a lavoura e as previsões climáticas”.

Para o pesquisador João Leodato Maciel, da Embrapa Trigo, o controle da brusone deve ser preventivo. Segundo ele, em anos com condições climáticas favoráveis à proliferação da brusone, a primeira aplicação do fungicida deve ocorrer logo no início do espigamento e, as seguintes, a cada 12 dias. O pesquisador alerta, porém, que se não houver condições favoráveis para a infecção, não é preciso fazer a aplicação do fungicida: “Na condição do Cerrado, normalmente, é a chuva que forma o molhamento necessário para iniciar a infecção”. Os experimentos de campo determinaram que fungicidas comerciais com mancozebe na sua formulação foram os de maior eficiência para controlar a brusone do trigo. Ainda, na aplicação dos fungicidas é muito importante que o volume de calda aplicado seja de 200 a 250 litros por hectare.

Em anos de alta incidência da doença o manejo da irrigação deve ser alterado. A recomendação da Embrapa é fazer as irrigações apenas durante o período da noite. O intervalo entre as irrigações deve ser maior para diminuir o tempo de molhamento da parte área das plantas.

Outras doenças para as quais o produtor deverá ficar em alerta são as manchas foliares, como a macha amarela e a mancha marrom. Neste caso, os fungicidas indicados para o controle apresentam eficiência elevada, desde que aplicados no início do aparecimento dos sintomas foliares. “De agora em diante é preciso atenção no que diz respeito ao controle de doenças, sempre buscando orientações junto às informações técnicas, pois o risco de brusone, apesar de ser baixo no momento, ainda não pode ser ignorado totalmente. O controle deve ser feito pensando em brusone, mas a estratégia para brusone pode se aplicar também para as doenças de folha”, explica o pesquisador Joaquim Soares Sobrinho, da Embrapa Trigo.

Clima

De acordo com o agrometeorologista Gilberto Cunha, da Embrapa Trigo, o outono marca o início da estação seca na região Centro-Oeste e em grande parte do bioma Cerrado. “No trimestre maio-junho-julho o normal é termos um período de baixa pluviosidade no cerrado brasileiro. Todavia, há variabilidade na ocorrência de chuvas entre locais nessa vasta região, havendo aqueles onde as últimas chuvas avançam um pouco mais na estação e outros que o período seco inicia mais cedo”. Essa particularidade, avalia o pesquisador, pode intensificar os problemas causados pela brusone nos locais que registram chuvas numa época que seria seca, ou pode causar deficiência hídrica naquelas que as chuvas param mais cedo, podendo, ambas, afetar o trigo de sequeiro no cerrado.

No tocante ao trigo irrigado, “a semeadura ainda está em marcha ou as lavouras estão na fase inicial do ciclo, exigindo atenção no manejo de água e outros tratos culturais para explorar o potencial de rendimento desse cereal que, no sistema irrigando, é bastante elevado”, pontua Gilberto Cunha.

Ações para atrair novos produtores

“Observamos que o trigo ainda é uma cultura um pouco desconhecida pelo produtor do Cerrado”, avalia Osvaldo Vieira, chefe-geral da Embrapa Trigo. Segundo ele, está sendo finalizada uma proposta, a ser apresentada à Ministra da Agricultura, Tereza Cristina, no formato de uma aliança entre indústria, setor produtivo, lideranças, pesquisa, assistência técnica e extensão rural para ampliar as ações de transferência de tecnologia e compartilhar conhecimentos com o produtor de trigo do Cerrado. O plano de trabalho deverá ser desenvolvido a partir de julho de 2020 até o final de 2021, com o objetivo de aumentar a produção nacional de trigo e reduzir a evasão de divisas com importações desse cereal que podem atingir 10 bilhões de reais neste ano.

Para o dirigente, o avanço do cultivo no Cerrado poderá mudar a geopolítica de trigo no Brasil. “Hoje, se resolvermos a limitação da brusone, o Cerrado pode atingir um milhão de hectares rapidamente”, analisa Osvaldo Vieira, e complementa: “Avançamos bastante na pesquisa, com cultivares mais tolerantes, avaliação de fungicidas e estratégias de manejo mais eficientes, mais ainda não chegamos à resistência genética ideal. Superada essa barreira, o Cerrado é uma grande oportunidade para o trigo brasileiro, favorecido pelo clima, logística e liquidez”, frisa Vieira.

Foto: Luiz Magnante – Embrapa

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