O Estado de Tocantins tem aumentado bastante seu potencial produtivo da cadeia do arroz nos últimos anos, passando a ser o terceiro maior produtor de arroz irrigado no cenário nacional. A informação é da Embrapa Arroz e Feijão, que destaca ainda que um dos motivos deste crescimento foi a adoção de tecnologias mais sustentáveis que possibilitou o aumento e a melhoria do potencial produtivo das culturas, reforçou a aquisição de plantas mais robustas e tolerantes a doenças, o melhor uso da água e insumos, refletindo assim em todo processo produtivo da região.
A adoção de novas variedades de arroz e o uso de tecnologias são frutos do trabalho, pesquisa e ações de transferência de tecnologia realizadas pela equipe técnica desta Unidade Descentralizada da Embrapa em conjunto com as instituições parceiras no Tocantins e da cadeia produtiva de arroz na região.
O resultado positivo na balança agrícola de produção nacional se deve ao potencial da área cultivada de arroz irrigado no Estado, que passou de 65 mil/ha para 108 mil/ha nos últimos anos, com produção de 750 mil ton/ano.
Ainda de acordo com dados da equipe técnica da Embrapa Arroz e Feijão, o potencial de cultivo do arroz irrigado também fez surgir novas empresas do ramo agroindustrial na região, incrementando o sistema de produção para tornar o arroz irrigado mais competitivo e atender aos anseios do mercado consumidor, principalmente, das regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste do país.
Como exemplo de crescimento na produção de arroz, nas últimas safras, destacam-se cinco municípios do sudoeste tocantinenses que contribuíram para colocar a produção regional de arroz irrigado tropical e suas respectivas microrregiões no cenário nacional. Na safra 2018/2019, a produção de arroz irrigado desses municípios somou um total de 110 estabelecimentos que plantaram arroz em Formoso do Araguaia; 48 em Lagoa da Confusão; 12 em Dueré e 22 estabelecimentos na região de Pium/Cristalândia.
Nesta safra, foi cultivado um total de 12.017 mil hectares, sendo que só em Cristalândia e Pium, municípios que abrangem a região dos rios Pium, Água Verde e Riozinho, a produção de arroz foi de 14.008 mil hectares.
Confira, a seguir, as principais tecnologias que foram adotadas pelos produtores da cadeia do arroz no Tocantins, segundo dados do grupo de pesquisa da Embrapa Arroz e Feijão:
Variedades de arroz
Entre as diversas demandas levantadas na região do Tocantins pela cadeia produtiva do arroz, em conjunto com a equipe técnica da Embrapa, com a Fundação Universidade do Tocantins – Unitins Agro, além de desenvolver cultivares mais tolerantes a doenças, melhor produtividade e ações práticas mais sustentáveis visando a redução de custos de produção, melhorar a conservação e uso dos recursos naturais, em especial os recursos hídricos, e desenvolver novas variedades adaptadas ao solo e clima tocantinenses.
O fruto deste esforço resultou no desenvolvimento de três cultivares de arroz irrigado lançadas pela equipe do programa de melhoramento da Embrapa: a BRS Pampeira, a BRS Catiana e a BRS A702 CL; juntas estas cultivares representam 78% de toda produção de arroz do Tocantins. Dos 108 mil hectares de área plantada com arroz irrigado na safra 2018/2019, foram plantados 84 mil hectares com essas cultivares; a BRS Pampeira produziu 53.550 ha (49%); a BRS Catiana 27.195 ha (26%) e a BRS A702 CL 3.168 ha (3%).
A BRS Catiana obteve para os produtores daquela região um retorno em produtividade média de 6.386 kg/ha no Tocantins, chegando a 9.900 kg/ha só no município de Lagoa da Confusão. O resultado se deve, principalmente, à redução de aplicação de fungicidas, em especial ao combate à brusone, considerada a principal doença do arroz no Estado.
A BRS Pampeira, em condições normais de ambiente e manejo da lavoura, obtém rendimento industrial de grãos superior a 68% de grãos inteiros polidos. O foco da BRS Pampeira é a qualidade e a quantidade, sua produtividade média rende em torno de 10 toneladas por hectare.
Completando o trio de novas cultivares de arroz no Tocantins, a BRS A702 CL foi lançada em 2018 numa parceria entre Embrapa e BASF. A cultivar se caracteriza por permitir menor quantidade de aplicações de herbicidas, pois reduz de cinco para apenas duas aplicações, no máximo. Como indicador de produção da BRS A702 CL , destaca-se que a safra 2018/2019 apresentou, numa área de 3.168 hectares, um potencial produtivo de 7.650 kg/ha.
Manejo alternativo às queimadas
A presença de grande quantidade de palha do arroz pós-colheita pode ocasionar dificuldades operacionais no preparo do solo para o cultivo de espécies adaptadas ao sistema de terras altas em sucessão ao arroz irrigado em várzea.
Uma alternativa bastante promissora para os produtores é a incorporação desta palha do arroz no solo, pois facilita sua decomposição, em detrimento à queimada, prática tradicional utilizada pelos produtores, que prejudica à matéria orgânica do solo (MOS) e à atmosfera, devido à libertação de CO2 e outros gases.
O uso do rolo-faca no manejo da palha de arroz para o plantio da soja em sucessão à cultura do arroz é outra alternativa que tem proporcionado ganhos ambientais e agilidade no preparo do solo.
Considerando que para cada tonelada de grão colhido de arroz existe uma tonelada de palha que fica na lavoura, esse resíduo que sobra após a colheita se transforma em um problema para os produtores. Mas com o uso do rolo-faca geram benefícios para o solo e a produção, além de evitar a poluição atmosférica que geram outros prejuízos à saúde e ao meio ambiente.
A incorporação da palha do arroz irrigado com rolo-faca deve ser utilizada imediatamente após a colheita, ainda com lâmina de água; isto possibilita a preparação antecipada do solo com economia de tempo, redução de operações e de combustível no cultivo da soja em sucessão.
Uso da soca do arroz
Soca do arroz é a capacidade das plantas regenerarem os perfilhos férteis após o corte de seus caules na colheita. Trata-se de uma alternativa viável para aumentar a produtividade de grãos em áreas de produção de arroz irrigado.
Para se obter êxito no cultivo da soca é necessário um planejamento do sistema de produção de grãos de arroz, que corresponde ao estabelecimento da cultura principal até a segunda colheita. Entre os benefícios da soca do arroz na produção de grãos está a agregação de valor na ordem de 20 a 30 sacas/ha, o que propicia aumento da lucratividade para o produtor, pois os custos de produção com essa prática diminui, chegando a ser inferior a 10 sacas/ha. Outro benefício da soca do arroz é o aumento de produção por unidade de área cultivada, reduzindo a sazonalidade do uso de máquinas e implementos.
Em condições de campo as práticas culturais que promovam rápida e uniforme brotação são especialmente importantes as empregadas no cultivo da soca que auxilia no desempenho da planta, como por exemplo, a fertilização nitrogenada, o manejo da água de irrigação e os tratos fitossanitários.
O nitrogênio deve ser utilizado no cultivo da soca do arroz logo após a colheita da cultura principal, pois assim, se obtem uma brotação mais rápida, com perfilhos mais sadios, incrementando a produtividade e a qualidade de grãos.
Manejo de água e nitrogênio
O manejo de água na cultura do arroz irrigado compreende um conjunto de procedimentos, todos considerados importantes, seja do ponto de vista econômico ou do crescimento e desenvolvimento das plantas e que envolve a tanto a captação quanto a distribuição. No arroz irrigado do Tocantins são aspectos importantes considerar o período de submersão do solo, a altura da lâmina de água e a drenagem da área.
Por suas características agronômicas o arroz está entre as culturas mais exigentes em termos de recursos hídricos e esta alta exigência faz com que a manutenção de lâmina de água sobre a superfície do solo gere uma série de vantagens para a cultura do arroz.
Só como exemplo, para um cultivo do arroz irrigado, por submersão do solo, são necessários em torno de 2000 L (2 m3) de água para produzir 1 kg de grãos com casca, estando o arroz entre as culturas mais exigentes em termos de recursos hídricos.
O volume de água requerido por inundação do solo está interligado ao somatório da água necessária para saturar o solo, formar uma lâmina, compensar a evapotranspiração e repor as perdas por percolação e fluxo lateral.
O sudeste do Tocantins está sob influência do clima tropical de altitude e um dos menores índices pluviométricos do Estado (1200 mm); isto significa menores rendimentos da pecuária e maiores restrições à agricultura de arroz.
Esta prática de manejo de água junto com a aplicação de nitrogênio (N) na cultura traz uma melhora no potencial produtivo local, pois o N proporciona maior incremento à produtividade de grãos, em especial, do arroz irrigado.
A primeira adubação de cobertura com nitrogênio deve ser realizada preferencialmente em solo seco, desde que a inundação da lavoura seja realizada o mais rápido possível (o tempo máximo entre a aplicação de N e a inundação da lavoura deve ser de três dias).
E as aplicações de nitrogênio em cobertura, após a inundação da lavoura, devem ser realizadas sobre a lâmina de água, tendo o produtor o cuidado em interromper a circulação da água na lavoura neste período de aplicação por, no mínimo, três dias. O importante é o produtor buscar alternativas técnicas eficientes de cultivo do arroz, visando o melhor aproveitamento do nitrogênio pelas plantas.