Revista Rural 262 / abril 2020 – Um projeto de incentivo ao cultivo de hortaliças não convencionais vai gerar alimento, ocupação e conhecimento para moradores do pequeno município de Santa Cruz de Minas, no Sul do estado. A iniciativa partiu da pesquisadora da Empresa de Pesquisa Agropecuária de MinasGerais (EPAMIG), Izabel Cristina dos Santos.
A pesquisadora, que mora em São João del-Rei, município vizinho, conta que ficou sensibilizada com as fortes chuvas de fevereiro responsáveis por alagar boa parte das casas do município.“Diante desse cenário surgiu a ideia de ajudar os moradores de Santa Cruz de Minas a recuperar suas hortas domésticas. Além disso, eu sei que a prefeitura mantém uma horta comunitária. Por isso, também propus para a prefeita ações para a horta do município”, destaca Izabel.
O projeto vai funcionar em três etapas. A primeira, já em andamento, contou com a distribuição de kits com cartilhas e sementes de hortaliças não convencionais, como alho-de-folha, almeirão-roxo, bertalha, chuchu-de-vento, capiçoba, quiabo comum, vagem-de-metro e salsinha. Em setembro e outubro serão distribuídas sementes mais propícias para plantio em períodos chuvosos, como araruta, azedinha, capuchinha, carás, feijão-mangalô, ora-pro-nóbis, taioba, tomate-de-árvore e outras.
O material foi entregue a representantes da prefeitura de Santa Cruz de Minas que farão os repasses para as famílias interessadas. Os kits são acompanhados de instruções de semeadura. Além disso, Izabel afirma que novas instruções serão elaboradas com dicas para transplantio, adubações e demais cuidados com as plantas de acordo com a demanda dos interessados.
Já o material doado para a horta de Santa Cruz de Minas é composto por um número maior de sementes e diferentes mudas de hortaliças não convencionais. A horta comunitária foi criada em 2015. Segundo o coordenador do projeto de economia solidária do município, Jorge Luiz Fernandes, a horta atua na preservação da dignidade da vida de cerca de 15 famílias e ajuda na alimentação dessas pessoas. Ainda de acordo com Jorge, um entusiasta da economia solidária, o trabalho da EPAMIG será de grande valor para a comunidade.
“Receber as mudas e as sementes e realizar o projeto junto a EPAMIG é motivo de grande satisfação. O trabalho de incentivo ao cultivo de hortas, tanto domésticas quanto comunitárias, permite ampliar o olhar sobre uma alimentação mais saudável e mantém vivas as tradições de plantas que podem ser esquecidas porque não são comercialmente vendidas em todo o país”, ressalta Jorge.
A primeira etapa de entrega dos kits foi executada de acordo com as normas de prevenção adotadas pelo Comitê Extraordinário do governo de Minas em combate à COVID-19, doença causada pelo coronavírus. Durante a entrega, todo cuidado foi tomado para minimizar os riscos de propagação do vírus. Em tempos de isolamento social, Izabel espera que o projeto seja mais uma opção de atividade, ao ar livre, para quem está em casa.
A segunda etapa será realizada após o período de isolamento social. Izabel afirma que serão realizados cursos, oficinas, palestras e demonstrações práticas sobre cultivo de hortaliças não convencionais. A terceira etapa será de apoio às famílias e ao município, o que deve incluir treinamento para a colheita de sementes. O objetivo é capacitar para tornar as pessoas autossuficientes na produção de sementes.