Pecuária

Cadeia produtiva da carne bovina segue em alta

Uma das primeiras medidas adotadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), em meio à pandemia do coronavírus, foi definir que o abastecimento de alimentos e todas as suas etapas (produção, armazenamento, transformação, transporte, distribuição e comércio), são consideradas essenciais e não devem ser interrompidas. Em seguida foram definidas ações específicas por atuação de temas.

Em meio tudo isso, boas notícias para o mercado de carne bovina: segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), em março o Brasil exportou para a China 147 mil toneladas, o que representa um aumento de 12% em relação a fevereiro e o dobro do exportado em março de 2019. A China é o maior mercado consumidor do Brasil, representando 35,26% do volume total.

A cadeia produtiva da carne de boi destina cerca de 65% da produção ao mercado interno e 35% à exportação. “É uma cadeia longa e importante, de 24-48 meses. Dessa forma, deve ser inspecionada e verificada suas etapas para não termos perdas muito grandes em qualidade e quantidade. Com a pandemia, foi preciso adaptar basicamente os cuidados pessoais com os colaboradores, porque todo o processo já segue rígidas regras sanitárias exigidas”, avalia Calil.

Ainda sobre a fiscalização agropecuária, foram definidas pelo governo brasileiro também como prioritárias as atividades de prevenção e combate a doenças, fiscalização do transporte internacional e a inspeção de produtos de origem animal e vegetal, colocando o trabalho do médico-veterinário em destaque.

“Cada setor precisou realizar alguns ajustes nos processos de trabalho para lidar com o cenário atual, porém com enfoque na manutenção dos serviços prestados e de não prejudicar a segurança da produção e dos alimentos fornecidos à população”, explica o médico veterinário e membro da Comissão de Saúde Animal do CRMV-SP, Fábio Alexandre Paarmann.

Zootecnia de Precisão

Além da Medicina Veterinária Preventiva, a Zootecnia de Precisão vem colaborando com os bons resultados do setor. A técnica auxilia na redução de custos, ao mesmo tempo em que melhor atende as exigências de rastreabilidade do mercado.

Dados do relatório da Abiec mostram que, de 1990 a 2018, a produtividade nacional aumentou 176%, passando de 1,63 @/ha/ano para 4,5 @/ha/ano (cerca de 67,6 kg/hectare/ano), e a Zootecnia de Precisão tem grande participação nesses resultados.

“Quando ela é aplicada nas fazendas, permite ao pecuarista tomar decisões precisas e de forma rápida, independentemente da situação. Se um animal, por exemplo, apresenta um sintoma de doença ou comportamento anormal, ele é facilmente identificado e isolado para tratamento, se for o caso, diminuindo os riscos de perda desse gado”, explica o zootecnista Luiz Ayroza, conselheiro do CRMV-SP.

Cenário futuro

No que se refere à esfera econômica da cadeia produtiva bovina, o médico-veterinário Fábio Alexandre Paarmann ressalta que foram aprovadas prorrogações de prazos para pagamento de financiamentos em vigor, linhas de financiamento para assegurar estocagem e comercialização e para dar suporte a pequenos e médios produtores.

A expectativa do Mapa é de que o Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP) em 2020 está estimado em R$ 689,97 bilhões, mais de 7% maior do que no ano anterior. A pecuária deve ter o segundo consecutivo de bons resultados, com crescimento previsto de 6,7%, sendo as projeções de crescimento impulsionadas principalmente pela produção de carne bovina, cujos preços estão 13,2% acima da média.

Para a Abiec, ainda em meio ao cenário incerto, a produção de carne bovina deve crescer 2,5% em 2020, mesmo com a recomposição do rebanho, e confirma que não há risco de desabastecimento para o mercado brasileiro, projetando para este ano, no Brasil, cerca de 99,5 kg per capita de carne (bovina, suína e frango), contra 38,1 kg per capita para a população mundial.

Pontos a melhorar

Apesar de todo este cenário positivo, os médicos-veterinários alertam para os problemas do setor com relação ao abate clandestino, mesmo em grandes centros. “Para a carne que será consumida internamente, a fiscalização ainda é deficitária. Para a exportação, a fiscalização é rígida e está nos padrões”, avalia Calil.

Segundo dados da Abiec, há 30 anos, 50% da carne bovina produzida no Brasil era de origem não fiscalizada (abate clandestino, sem controle sanitário, sonegada e produzida para consumo nas próprias fazendas). Hoje este número chega a 20%, por conta disso a vigilância de doenças ainda é um dos maiores desafios do setor com relação ao mercado interno.

É um trabalho árduo, mas que os profissionais da Medicina Veterinária, Zootecnia, entre outros, estão lutando junto aos órgãos competentes para ter um rebanho de boa qualidade, com um produto final de excelência para o consumidor.

“A Zootecnia de precisão é um caminho sem volta, ela se mostra como um segmento de oportunidade de novos negócios. Uma tendência, inclusive, entre empresas menores e startups”, avalia o zootecnista Luiz Ayroza.

“Não é algo simples, pois depende de muitos fatores, como a disponibilidade de profissionais com capacidade para investigar e diagnosticar enfermidades; a disponibilidade de exames laboratoriais com local e custo acessíveis, bem como adequado tempo de resposta; um fluxo eficiente de informações para os órgãos competentes, entre outros aspectos”, finaliza Paarmann.

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