Por Alfredo Patron* – Em 1850, aproximadamente seis em cada dez norte-americanos trabalhavam na Agricultura, a maior parte para consumo próprio. Na época, até mesmo quem ocupava outros empregos entendia quase tudo sobre agricultura. Os produtos alimentícios vendidos em lojas e carrinhos ambulantes tinham basicamente o mesmo aspecto de quando foram cultivados e colhidos nas fazendas — não eram os produtos cuidadosamente higienizados, processados, desossados, embalados à vácuo e com código de barras como os que estamos acostumados hoje em dia.
Atualmente, porém, a agricultura representa apenas 3% da força de trabalho norte-americana. E a compreensão de como a agricultura funciona é vergonhosamente escassa entre os moradores urbanos dos Estados Unidos – uma população cujas impressões das fazendas e dos campos de cultivo tem por base única uma combinação de comerciais de TV com picapes da década de 1940. Acredite: para muitos é uma surpresa saber que a indústria agrícola, apesar de seu forte declínio em empregos, tornou-se um dos segmentos mais produtivos, rentáveis e orientados a dados, de nossa economia.
Ao menos em parte, graças à escassez crônica de mão-de-obra agrícola, a agricultura está evoluindo para uma indústria muito mais inteligente e intensiva em capital, com sofisticados equipamentos substituindo pessoas e processos. E, claro, tais requisitos de capital associados a operações bem-sucedidas têm chamado a atenção em nível global e levado muitas pequenas fazendas familiares a se consolidarem como empresas bem maiores.
De fato, tecnologias avançadas, e muitas vezes caras, estão remodelando a indústria com fazendas inteligentes que utilizam agricultura de precisão e recursos de Internet das Coisas para aumento da produtividade.
Tais avanços tecnológicos são, na verdade, extremamente oportunos, já que a necessidade de aumentar a produção agrícola é real e contínua – afinal, todos precisamos nos alimentar. De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), a produção de alimentos em todo o mundo precisará de um aumento superior a 70% nas próximas décadas apenas para alimentar a população global, que deve atingir 11,2 bilhões até 2050. Não à toa, a FAO classifica a Agricultura Inteligente como a chave para o futuro da agricultura.
Até o momento, não há fazendas comerciais administradas inteiramente por máquinas autônomas. No entanto, protótipos de variados equipamentos agrícolas automatizados estão em desenvolvimento há alguns anos:
– Tratores autônomos estão entre os primeiros candidatos à automação, com navegação GPS, conectividade IoT para monitoramento remoto e radar para detecção de objetos. Os desenvolvedores desse tipo de tecnologia estão atentos às demandas do mercado e trabalhado para que implementos como lemes, espalhadores e ancinhos, por exemplo, sejam puxados por esses tratores e autopropulsionados, eliminando a necessidade de tratores convencionais ou até mesmo não convencionais.
– A semeadura, que requer plantio em profundidades precisas do solo com espaçamento adequado entre plantas, é outra forte candidata à automação. Tecnologias de geomapeamento aliadas a dados de sensores sobre as qualidades do solo (acidez, densidade, umidade e níveis de nutrientes) podem promover aos equipamentos de alta tecnologia todas as informações necessárias para otimizar o crescimento do negócio.
– Sistemas de irrigação, com informações geradas por sensores IoT instalados em diferentes locais para medição dos níveis de umidade, já estão sendo integrados a sistemas populares de irrigação por gotejamento para proteção da saúde das culturas e conservação da água.
– A semeadura e o controle de pragas também são incrivelmente adequados para o processo de automação. Dispositivos robóticos autopropulsionados, munidos de câmeras e sensores combinados com Machine Learning e Inteligência artificial, poderão ajudar a proteger a saúde das culturas ao mesmo tempo em que distinguem com rapidez diferentes tipos de sementes, além das pragas de insetos de insetos polinizadores.
– A colheita das culturas apresenta um desafio bem particular porque o gap para completar uma colheita é geralmente muito limitado – e as condições climáticas podem igualmente afetar o progresso da produção. No entanto, engenheiros em todo o mundo têm trabalhado em colheitadeiras especializadas para superar tais desafios. Já existem, por exemplo, robôs equipados com software customizados que escolhem tomates, identificando a maturação por cor, forma e localização. Isso sem falar nos braços robóticos e autômatos que agilizam e automatizam processos.
– Drones também estão sendo muito utilizados para avaliar a saúde das plantações, a qualidade do solo e os locais de plantio. Alguns drones munidos com spray e acessórios de plantio que distribuem nutrientes e sementes diretamente do ar já estão sendo testados.
– Sistemas de sensores podem ser instalados em silos e elevadores de grãos para alertar os agricultores sobre problemas de umidade e calor que danificam as culturas armazenadas.
E isso sem falar em aplicativos e dispositivos móveis, tecnologias já em uso há tempos por produtores agrícolas em todo o mundo. O fato é que, com os atuais benefícios da inovação, cada elemento da cadeia de valor agrícola está sendo notada por startups de tecnologia e produtores de equipamentos como oportunidades de negócios e parcerias inovadoras e estratégicas. Um dos fatores mais animadores é que, mesmo que os frutos de alguns projetos robóticos mais visionários não amadureçam tão rapidamente, a atual geração de equipamentos já está sendo adaptada para apoiar iniciativas de Smart Agriculture.
Há também os software agrícolas especializados, já amplamente disponíveis a todos, para ajuste das aplicações das principais commodities agrícolas através do uso de dados coletados por sensores digitais estrategicamente localizados e conectados via wireless. Estão incluídos nesse rol os programas para gerenciamento de tempo, volume e deposição de sementes, fertilizantes, água e outros materiais necessários para otimizar o crescimento da plantação, com dados capazes até mesmo de gerar previsões de rendimento.
Ainda assim, não existe uma solução all-inclusive. Diferentes elementos fundamentais de tecnologia smart farm (plataformas inovadoras integradas com componentes de hardware industrial, desde sensores a sistemas de irrigação e até caminhões agrícolas) são, até o momento, resultado de parcerias formais e de integrações de produtos. É excitante, porém, o potencial de tais soluções que ajudam a auxiliar e operar remotamente uma operação agrícola, reduzindo o tempo de inatividade e encontrando eficiências sobre como implantar e usar recursos para melhorar e otimizar a produção e o uso de insumos, aumentando consequentemente a qualidade e a produtividade da lavoura.
Tecnologias de acesso, controle e suporte remoto em tempo real com conectividade IoT possibilitam que quaisquer problemas possam ser monitorados, controlados e tratados por especialistas, mesmo que estejam a centenas de quilômetros de distância das fazendas e dos campos de cultura. É seguro, prático, rápido e eficiente. Com isso, as colheitas do século 21 que resultam de informações agrícolas de alto valor transformam-se inevitavelmente em uma abundância de alimentos saudáveis e de qualidade —ao mesmo tempo em que se modernizam para o futuro e viabilizam no presente um melhor e mais eficaz uso dos recursos disponíveis, inclusive os naturais, diminuindo custos e perdas e injetando tecnologias state-of-the-art para proliferação sustentável de fazendas inteligentes mundo afora.
(*) Alfredo Patron é Vice-Presidente Executivo de Desenvolvimento de Negócios da TeamViewer. Bacharel em Engenharia de Sistemas pela Universidad Anahuac del Sur, na Cidade do México, possui diploma de excelência em Marketing pela Kellogg School of Management e diploma de Inovação e Empreendedorismo pela Universidade de Stanford.