Pode parecer óbvio, mas ainda hoje é preciso discutir os benefícios da ingestão adequada de água por bovinos nas fazendas do Brasil. Na pecuária leiteira, o que se observa em muitos empreendimentos do país é negligência na disponibilidade de água e nos cuidados com os bebedouros dos animais. De acordo com o pesquisador da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG), Adriano Guimarães, a água disponível para bebida é, sem dúvida, a principal fonte líquida para os rebanhos. Privar os animais de água, mesmo que por curtos períodos de tempo, gera estresse e pode impactar a produção de leite, o consumo de matéria seca, o ganho de peso, a regulação térmica e a reprodução.
Adriano aponta que a água destinada ao consumo animal deve ser o foco de mais atenção por parte dos pecuaristas e gestores de fazendas. Além disso, para ele a preocupação com o fornecimento de água aos animais, em quantidade e qualidade, é crucial para obtenção de índices mais produtivos e para a diminuição da incidência de determinadas doenças.
“A água é considerada o nutriente de maior demanda quantitativa pelo ruminante e apresenta inúmeras funções vitais. É requerida para manutenção dos fluídos corporais, provê ambiente seguro ao feto, auxilia na digestão, absorção e metabolização dos nutrientes da dieta, é crucial para eliminação de excreções, regulação da temperatura corporal e é fundamental para a lactação, já que cerca de 87,5% do leite é composto de água”, destaca Adriano.
Trabalhos sobre pecuária de leite mostram que quando bebedouros são instalados no pasto e na sala de ordenha há aumento de até 5% na produção de leite. Os estudos foram feitos em comparação com o fornecimento de água somente na sala de ordenha, duas vezes ao dia. O aumento da produção ocorre porque o uso estratégico de bebedouros bem distribuídos nas propriedades contribui para reduzir os gastos energéticos dos animais na busca por água, o que resulta em mais lucro para o produtor.
Você já ouviu o ditado que diz que “quem chega primeiro bebe água limpa”? Ainda de acordo com resultados de trabalhos de pesquisa, os bovinos têm mais preferência por água disponibilizada em bebedouros a água de açudes, córregos, minas e riachos. Isso ocorre porque a água de fontes naturais não permanece limpa por muito tempo, o que reduz o consumo por parte dos animais que chegam posteriormente para “matar a sede”.
As vacas leiteiras mostram preferência e bebem mais água em bebedouros maiores, mais baixos e mais rasos. Logo, as características como forma, tamanho, altura, área do espelho d’água, número e disposição de bebedouros nas instalações influenciam diretamente no consumo de água do rebanho. Para ajudar, preparamos a seguir alguns dicas e instruções sobre como instalar e cuidar dos bebedouros.
Dicas para instalação e limpeza de bebedouros
Com o objetivo de reduzir custos, muitos bebedouros são construídos com materiais reciclados ou de menor valor de mercado, como manilhas de cimento, tambores plásticos e caixas d’água. Segundo o pesquisador Adriano Guimarães, o importante nesses casos é conciliar disponibilidade de água de qualidade e facilidade nos processos de limpeza. “Caso contrário, os bebedouros podem acumular algas, sedimentos e alguns contaminantes capazes de ocasionar problemas na propriedade”, afirma.
Os projetos hidráulicos devem contemplar bebedouros de enchimento rápido. O objetivo é renovar a água com frequência e não deixar as vacas esperando por muito tempo. Os encanamentos e conexões precisam ser de calibre compatíveis ao volume de água necessário. Algumas vacas, a depender do tamanho corporal e da avidez, são capazes de ingerir grandes quantidades de água por minuto.
Como dica de limpeza, monitore a turbidez e a formação de limo nas paredes internas do bebedouro. Esses são bons indicativos para higienização. Além disso, fique atento para o enxágue correto quando utilizar sanitizantes ou detergentes antes do enchimento dos bebedouros. Por fim, não se esqueça de monitorar o pH da água quando fazer uso de cal nas paredes internas.