Desde que o COVID-19 chegou ao Brasil, a busca por informações a respeito do contágio por animais domésticos aumentou muito e muitas informações equivocadas e ambíguas estão sendo divulgadas.
De pronto, respondo que não há qualquer evidência de que cães e gatos possam ser infectados pelo COVID-19, bem como possam transmiti-lo para humanos. Entretanto, não é por isso que vamos deixá-los em ambiente contaminado.
Recentemente li uma matéria que está sendo amplamente divulgada de que os pets pegam Coronavirus, mas que os seus sintomas são diferentes, semelhantes a uma Parvovirose e fim. A matéria limitava-se a essa informação. Para um veterinário, essa informação não tem nada de errada. Para tutores, que não tem conhecimento de que o Coronavirus tem diversas “versões” essa informação pode ser um problema.
O Coronavirus é na verdade um grupo de vírus comum entre os animais. Em casos muito raros, ele é o que os cientistas chamam de zoonótico, que pode ser transmitido de animais para seres humanos, de acordo com os Centros dos EUA para Controle e Prevenção de Doenças.
Logo, existem vários tipos de Coronavirus, tem Coronavirus bovino, felino, canino, de galinha, diversos coronavirus em morcegos e em seres humanos, entre outros. Cada tipo de Coronavirus tem um conjunto específico de sintomas para os seus hospedeiros.
Nos cachorros, o Coronavirus pode aparecer de duas formas: uma com manifestação respiratória e outra entérica – essa última mais comum e que causa um quadro de diarreia.
É importante salientar que essas duas formas de Coronavirose canina são prevenidas por meio da vacinação anual, a V8 ou V10.
Já os felinos também têm seu coronavirus próprio (FCoV), que pode causar a Peritonite Infecciosa Felina, a PIF. A doença é encontrada em praticamente todo o mundo e, infelizmente, até o momento, não existem vacinas para prevenir o FCoV.
Em resumo, nos pets o sistema gastrointestinal é acometido, o que é muito semelhante a Parvovirose, causando sintomas completamente distintos dos coronavirus humanos.
Esses tipos de Coronavirus que acometem pets não são transmissíveis aos humanos e não têm relação com o covid-19.
Ainda é cedo para fazer afirmações a respeito do COVID-19, o que se sabe é que é uma doença zoonótica, como a SARS (síndrome respiratória aguda grave) e que o surto iniciou-se, aparentemente, no mercado de Wuhan, na China, o qual contava com uma seção de animais silvestres, onde eram vendidos animais vivos ou abatidos.
Assim que os cientistas decifraram o código genético do novo Coronavirus, os morcegos se tornaram os principais suspeitos, seja por transmissão direta aos humanos ou por meio de um animal infectado (um intermediário).
O que se pode afirmar até o momento é que do morcego – ou outro hospedeiro intermediário, para o humano o COVID-19 é uma zoonose, mas somente nesta hipótese.
Os animais domésticos, gatos e cachorros, não contraem ou transmitem COVID-19.
E o caso do cão de Hong Kong?
Qualquer animal que esteja em um ambiente com extrema contaminação pode apresentar o vírus no organismo. Temos que tomar cuidado com a desinformação.
Quando tivemos o surto da SARS em 2003 alguns animais que estavam em ambientes contaminados apresentaram teste positivo para doença, apesar de não desenvolverem nenhum tipo de sintoma, bem como, não tivemos casos de animais domésticos transmitindo a doença para humanos, e vice e versa.
Sendo assim, a respeito do caso em questão, sigo o que a Dra. Shelley Rankin, microbiologista da Escola de Medicina Veterinária da Universidade da Pensilvânia, Filadélfia, afirmou em uma matéria recentemente publicada no jornal Science:
“No momento, não há pesquisas para apoiar a disseminação humano a animal. Amostras do cão de Hong Kong tinham um pequeno número de partículas virais presentes. Em um animal sem sinais clínicos de doença, é difícil dizer o que isso significa. Foi um caso único e aprendemos que precisamos fazer muito mais pesquisas sobre o potencial do vírus humano SARS-CoV-19 para infectar animais. ”
Cuidados gerais
Estamos diante de um vírus de baixa taxa de mortalidade (comparado ao seu antecessor, SARS), mas alta virulência.
Tosse, espirro, beijos ou abraços podem causar exposição. O vírus também pode ser transmitido ao tocar em algo que uma pessoa infectada tocou e depois em sua boca, nariz ou olhos, e é aí que surge o problema.
Pense bem, se uma pessoa infectada espirrar na mão, fazer carinho no cachorro e, depois outra pessoa entrar em contato com aquele cachorro o que pode acontecer? Bem, se essa pessoa colocar a mão na boca, olho ou nariz, há grande chance de contágio. Exatamente como pode acontecer com maçanetas e balcões.
Ainda, esse cachorro poderá sim apresentar o vírus no seu organismo, uma vez que ele pode lamber o próprio pelo ou um ambiente contaminado, o que não significa que ele apresentará sintomas.
O pet não estará transmitindo COVID-19, mas sendo um meio de transmissão, carregando vírus pelo ambiente.
É uma questão de higiene básica, se a pessoa não entender que deve usar máscaras, luvas e manter a distância adequada de outros seres vivos, não só o pet dela como toda a casa será um ambiente com alta carga viral.
Para quem está com a doença, o contato com o animal deve ser evitado, sem os famosos lambeijos. Atualmente, os pets são como um integrante da família, sendo assim, o interessante seria deixá-lo em um hotel para animais ou aos cuidados de outra pessoa durante o período de quarentena do tutor, assim, evitamos que o pet carregue o vírus por todo o ambiente familiar.
Caso não tenha essa possibilidade, é importante passar álcool em gel sempre que for brincar com eles, mexer em ração, brinquedos ou petiscos.
Os passeios não ser cortados, por uma questão de bem-estar animal – algo que não devemos esquecer, sendo assim, escolha os horários de menor movimento nas ruas, bem como evite locais aglomerados, e use produtos de higiene animal nos pelos e patas antes e depois do passeio.