O Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) acaba de ser definido para os tipos de bananeira mais cultivados no Brasil: Cavendish (Nanica), Prata, Maçã e Terra. O Zarc é um sistema de dados que indica os riscos envolvidos para várias culturas agrícolas nas diferentes regiões do País. Ele é utilizado, por exemplo, por instituições financeiras para avaliação de crédito e seguro rural, uma vez que traz informações sobre as chances de sucesso de cada lavoura dependendo do local e da época em que for plantada. Desenvolvida pela Embrapa em 1996, a ferramenta também embasa políticas públicas de desenvolvimento agrícola. O sistema gera calendários de plantio que indicam quando e onde determinada cultura terá mais produtividade.
Por isso, especialistas comemoram a inserção da bananicultura no Zarc, afinal a fruta é a mais plantada e consumida no Brasil, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A expectativa é que a presença da fruta no Zarc contribua para expandir os sistemas de cultivo no Brasil, ampliando a produção da cultura e as regiões produtoras, uma vez que as áreas aptas para a bananeira incluem praticamente todo o território nacional, à exceção de algumas regiões mais frias do sul do País. É uma cultura no Brasil dividida tanto entre grandes e pequenos produtores, que respondem por 48,6% da produção, de acordo com o Censo Rural 2017.
Para ter uma ideia, 18.873 estabelecimentos de agricultura familiar produzem banana, o equivalente a 79,8% do total de estabelecimentos.
O Zarc avalia elementos que influenciam diretamente o desenvolvimento da produção agrícola, como temperatura, chuvas, umidade relativa do ar, ocorrência de geadas, água disponível no solo, demanda hídrica da cultura, altitude, latitude e longitude No caso da bananeira, aspectos hídricos são determinantes para a segurança do cultivo. “Se a planta sofrer inicialmente um estresse hídrico ou térmico, pode comprometer a produção do primeiro ciclo. Por isso, se o local ou a época apresentar um risco maior, é esperado que os agentes financiadores tratem diferente comparado a um de menor risco. Toda essa informação que foi gerada e está publicada vai servir como base para políticas de crédito e seguro agrícola a serem aprimoradas ao longo dos próximos anos”, analisa o pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura Maurício Coelho.
Atualização do Zarc
Segundo o pesquisador, que está à frente do Zarc de várias culturas no País, um dos aprimoramentos do sistema é a nova forma de se tratar o risco. “O Zarc para fruteiras costumava se basear na aptidão climática da região, que podia ser térmica ou hídrica. Agora, usamos modelos agrometeorológicos e simulamos riscos climáticos relacionados a variáveis importantes para o desenvolvimento da planta, como por exemplo o déficit de água no solo em fases críticas da cultura. Trabalhamos com esses modelos e, em função da distribuição espacial das variáveis climáticas, calculamos os riscos para o cultivo em nível municipal”, explica Coelho.
“Consideramos um risco de até 40% como limiar para produção; ou seja, para ser considerada viável, a cultura deve apresentar um risco menor que esse percentual. Em dez anos, esse índice significaria a perda de quatro anos de cultivos. Por isso, é considerado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) como crítico para o desenvolvimento da cultura. Também calculamos os riscos para o plantio, uma vez que há variação espacial e temporal das melhores épocas para estabelecer o pomar e garantir a produção no primeiro ciclo da banana”, continua.
Decreto fortalece Zarc
Em setembro, um decreto presidencial instituiu o Zarc como programa oficial do Governo Federal com a finalidade de melhorar a qualidade e a disponibilidade de dados e informações sobre riscos agroclimáticos no Brasil. “Essa é uma sinalização clara de interesse do governo, do ministério e da Secretaria de Política Agrícola em investir e melhorar a gestão de riscos do agricultor brasileiro”, afirma Eduardo Monteiro, pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária (SP) e coordenador geral do Zarc na Embrapa, cuja rede de trabalho contempla profissionais de 31 unidades de pesquisa. “Juntos, esses órgãos têm se esforçado para ampliar as ações de estudo e execução de zoneamento coordenadas pela Embrapa para atender às demandas das diferentes regiões produtoras, às culturas que ainda não têm o zoneamento e aos sistemas de produção integrados, com uma diferenciação também para cultivares tolerantes e não tolerantes. Ou seja, o Zarc também é uma forma de difusão de tecnologias e boas práticas agronômicas”, ressalta Monteiro.
Outra novidade é que o Conselho Monetário Nacional atualizou uma resolução do Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro), que permite a alocação do orçamento para o zoneamento agrícola: “Um problema muito grande que a Embrapa vinha enfrentando nos últimos anos era exatamente a falta de recursos para a execução dos trabalhos do Zarc,” revela o pesquisador.
Acesso ao crédito estimula a produção
O zoneamento em si tem uma importância muito grande porque é utilizado como informação básica de orientação em alguns programas de política agrícola, como o Proagro, que funciona como uma espécie de seguro agrícola; o Proagro Mais (modalidade destinada aos agricultores inscritos no Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar – Pronaf); e o Programa de Subvenção Federal ao Seguro Rural Privado (PSR), que utilizam as indicações de zoneamento para estabelecimento de condições de contrato. “Se o agricultor tem acesso ao crédito, ele planta mais, investe mais na lavoura, melhora o nível de tecnologia e aumenta a produtividade. Mas, se fizer de maneira equivocada, com maior exposição ao risco, tem grandes chances de perder, tornar-se inadimplente e ter dificuldades financeiras”, explica Monteiro.
Para ele, o Zarc deve ser considerado como um mecanismo de apoio à segurança econômica do produtor, à segurança alimentar do País e à manutenção dos agricultores na atividade. “Nenhuma outra prática econômica é tão dependente das condições meteorológicas como a agricultura, que está sujeita às variações anuais do tempo. Mesmo em regiões normalmente favoráveis podem ocorrer anos ou safras com condições adversas e gerar prejuízos ou uma frustração de safra”, conta Monteiro.
Outro aspecto importante para reduzir riscos, de acordo com o pesquisador, é aumentar a diversificação nos sistemas de produção, principalmente os integrados, como a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF). “A ILPF e suas combinações – lavoura-floresta ou lavoura-pecuária ou só pecuárias – têm uma dinâmica diferenciada e exatamente por causa dessas interações de espécies reduzem o risco em muitos casos, melhoram os níveis de produtividade, modificam o microclima e melhoram a fertilidade do solo.”