O painel do Congresso ANUFOOD Brazil 2020 acerca das tendências no consumo de alimentos reuniu diferentes especialistas e perspectivas do setor. Um consenso, porém, emergiu: a era digital chegou a essa indústria e, como consequência, as coisas estão mudando – e rápido.
“Nos próximos dez anos teremos mais transformações do que nos últimos 50” disse Luiz Madi diretor de Assuntos Institucionais do Estado de São Paulo. “Estamos nos referindo à comercialização, distribuição e, claro, ao próprio consumo. Há uma nova geração, que prioriza a saudabilidade e a sustentabilidade dos alimentos”.
Juan Francisco Morales, Vice-Presidente da Fundação Europeia para Inovação, foi na mesma direção e disse que, dadas as dificuldade de fazer previsões, falaria sobre os próximos cinco anos, não sobre os próximos dez.
“A melhora na expectativa de vida da população tem várias raízes, mas não tenham dúvidas que uma delas é a alimentação”, assegurou. E ela seguirá mudando, disse, com o crescimento do consumo de frutas e legumes, e queda no consumo de carne vermelha e açúcar, e avanços tecnológicos na agricultura (exemplo: chegada da conexão 5G).
Já Renato Dolci, do BTB Data, focou sua apresentação no consumidor digital e na sua relação com as redes sociais. “A profusão de informação que temos no mundo é muito maior do que nossa capacidade de analisá-la. E essa diferença está aumentando e acelerando”, disse. “Falamos e pesquisamos muito sobre alimentação. No Brasil, ela só perde em repercussão para futebol e carros”.
As tendências, identificadas na internet e apontadas por Dolci, se alinham às que Madi e Morales haviam falado, com maior procura por alimentos menos processados e mais saudáveis, com menos glúten, lactose e agrotóxicos. Uma distinção elencada pelo especialista, porém, chama a atenção, e diz respeito ao fenômeno da gourmetização.
“Os consumidores estão, por um lado, pesquisando formar de sofisticar as receitas que fazem em casa. Por outro, buscando restaurantes que dispõem do serviço de delivery. Há o claro desejo de se comer melhor”.
Com crise sanitária chinesa, agro brasileira precisa provar que pode alimentar o mundo com base sustentável
O painel sobre as perspectivas da economia global como um todo, e especificamente sobre a agroindústria, realizado no Congresso ANUFOOD Brazil 2020, aberta hoje (9) no São Paulo Expo, reuniu dois gigantes do setor: Joaquim Levy, ex-ministro da Fazenda, e Alexandre Mendonça de Barros, engenheiro agrônomo e sócio-diretor da MBAgro.
Levy dividiu sua rápida palestra em duas partes, dedicadas a Estados Unidos e China. Em comum, ambos estão crescendo e acumulando riscos. “Nos EUA, enquanto o ritmo se mantém estável e a música segue tocando, tudo bem. Mas em algum momento, um ajuste se fará necessário”, disse. “Já com a China, existe uma mudança da composição de sua economia, voltada cada vez mais ao consumo e não mais ao investimento”.
Independentemente do que ocorra daqui para frente, com desafios tecnológicos e ambientais, o mundo precisa comer, pontuou Levy. E, nesse sentido, complementou Mendonça de Barros, não se pode negar a posição de liderança que o Brasil possui, como um dos maiores produtores de alimentos do mundo.
“A peste suína africana, e a forma como ela acometeu a suinocultura chinesa, é um ótimo exemplo. Ela só ocorreu porque a China tem um baixo padrão sanitário. O Brasil nesse campo está bem à frente”, afirmou Barros. “Por causa disso, estamos vendendo mais carne e grãos. E essas exportações devem se consolidar em um nível de preço muito bom”.
Para Barros, está aberta uma gigantesca porta de oportunidade para o Brasil. “Se formos inteligentes, mostraremos que podemos alimentar o mundo com uma perspectiva sustentável”.
O encerramento do painel coube a Igor Brandão, gerente de agronegócio da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimento (Apex). Ele falou sobre o papel que a organização assume nesse contexto e o que ela está planejando para aumentar ainda mais o investimento e as vendas do agro brasileiro.
Legislação em mudança
“Quem não acompanhar as mudanças na legislação não tem como ter sucesso no setor”. A afirmação é do presidente da Abrasel, Percival Maricato, durante sua palestra no II Encontro Abrasel – Esbre: Saberes para Bares e Restaurantes, realizado nesta segunda-feira (9) na ANUFOOD Brazil.
O executivo lembrou que o mercado vem mudando muito rapidamente e que as leis precisam se adequar às novas realidades. “Portanto, esta velocidade grande na legislação forçam nossa adequação”.
Maricato destacou a Lei Geral de Proteção de Dados – LGPD, que entra em vigor em agosto deste ano, e a Lei da Liberdade Econômica, que, segundo ele, mudou a relação dos empresários com o poder público. “Ela trouxe mais liberdade, mas também amplia a nossa responsabilidade”.