A região que produz o melhor trigo do País e um dos melhores do mundo em qualidade para panificação, o Cerrado do Brasil Central tem potencial para aumentar em vinte vezes sua área de produção. Segundo dados da Embrapa, em 2019, foram plantados cerca de 100 mil hectares com trigo sequeiro na região e há mais de dois milhões de hectares passíveis de serem cultivados com o grão nessa região.
De olho nesse potencial, pesquisadores e produtores rurais se reuniram no X Encontro Técnico da Cadeia Produtiva do Trigo para discutir as possibilidades e os desafios do plantio do trigo sequeiro (safrinha) e irrigado no Cerrado. O evento foi realizado no PAD-DF, maior produtor de trigo do Distrito Federal, localizado a 50 quilômetros de Brasília.
O trigo melhora o desempenho da lavoura, quebra o ciclo das doenças que atacam a soja, evita o aparecimento de plantas daninhas, reduz a infestação de nematoide e deixa uma excelente palhada na propriedade. Por isso, Cláudio Malinski, engenheiro agrônomo da cooperativa, aposta que dentro de cinco ou seis anos a área com trigo no Cerrado vai aumentar muito: “A soja, o feijão ou o milho sempre produz mais sobre a cultura do trigo do que sobre outra cultura. Ao encarar a cultura como parte do sistema de produção, os produtores vão continuar a plantar o trigo. E a partir do momento em que nós dominarmos mais as tecnologias genéticas, a tendência é aumentar a área de plantio”.
O Planalto Central, região que engloba o PAD-DF, dispõe de mais de dois milhões de hectares onde o trigo pode ser plantado: “Pensando em uma área de dois milhões de hectares com produtividade de dois mil quilos, que é uma produtividade baixa, o Cerrado poderia produzir facilmente 4 milhões de toneladas explorando essa área com trigo sequeiro. O Centro-Oeste consome cerca de 1,5 milhão de tonelada de trigo, o que é facilmente atingível. Isso mostra a potencialidade que existe aqui”, comenta o engenheiro.
Outro ponto importante muito citado tanto pelos cooperados como pelos pesquisadores é a qualidade do grão produzido na região, que se destaca mesmo quando comparado com o trigo do Canadá e dos Estados Unidos, países com produção de excelente qualidade industrial. “Quando o produtor vai comercializar a BRS 264, qualquer moinho compra sua produção sem questioná-lo”, informa o pesquisador o pesquisador da Embrapa Cerrados, Júlio Cesar Albrecht. Hoje, essa cultivar é plantada em cerca de 80% da área cultivada com trigo no Cerrado.
Ele explica a razão dessa qualidade: “Nós buscamos, em função da excelente oferta climática que temos aqui, agregar o fator genético no desenvolvemos das cultivares. E hoje o Cerrado do Brasil Central produz um dos melhores trigos do mundo em termos de qualidade industrial para panificação. Os moinhos têm atestado isso a partir da qualidade da farinha produzida com o trigo da região, tanto nas áreas irrigadas quanto nas de sequeiro”.
Tecnologias
O pesquisador Julio Albrecht falou que o Cerrado tem um alto potencial produtivo com um trigo super precoce, com ciclo 110 dias, enquanto a média nacional está em torno de 2,7 toneladas por hectare. No Cerrado existe produtor produzindo quase oito toneladas por hectare e de um trigo de excelente qualidade. A produtividade obtida no Cerrado é a maior de todo o País e se destaca mesmo em cenário mundial. Comparado ao Canadá e aos Estados Unidos, principais produtores do grão, os agricultores colhem essa mesma produção, mas com mais de 180 dias, que é o ciclo das cultivares utilizadas naquele país.
Para cada uma das cultivares de trigo desenvolvidas pela Embrapa para o Cerrado – as BRS 254, 264, 404 e 394 – o pesquisador apresentou as condições de plantio recomendadas, sua produtividade, em sequeiro e com irrigação, e a melhor época para semeadura: “Não é uma boa estratégia adiantar muito o período de plantio do trigo na safrinha para conseguir maior produtividade, porque com isso aumenta muito o risco de brusone no estado de Goiás, Minas Gerais e no Distrito Federal. O produtor tem que considerar a distribuição das chuvas na sua região no período da safrinha e encontrar o melhor momento para o plantio”.
Doença
A brusone é a principal doença que atinge o trigo no Centro-Oeste e que impede a maior expansão da cultura na região. Ela é de difícil controle e não existem produtos específicos para combatê-la. “Temos que trabalhar com épocas de plantio e manejo para que o espigamento do trigo fuja dos períodos mais favoráveis à doença”, explica o engenheiro agrônomo da Coopa-DF.
Para minimizar os riscos climáticos, o pesquisador da Embrapa enfatiza a necessidade de uma adubação adequada, capaz de proporcionar de proporcionar uma melhor distribuição das raízes das plantas, para que possam aproveitar melhor a umidade do solo, dos cuidados com o espaçamento das plantas e a densidade, que devem seguir a recomendação de cada cultivar, e o período de plantio. “O trigo vem se expandindo significativamente na região do Cerrado e para continuar essa expansão é preciso adotar estratégias de manejo da cultura indicados pela pesquisa para que se consiga os melhores resultados”, alerta.
Albrecht anunciou o lançamento de uma nova variedade de trigo da Embrapa Cerrados para 2021, também destinada ao Cerrado brasileiro para sistemas irrigados, com alta produtividade, qualidade para panificação e maior tolerância à brusone.