“Se o criador busca gado para pista, pasto ou melhoramento genético, a solução é uma só. Não existem dois Nelores”, já definia o criador Paulo Leonel em uma frase que vem se tornando célebre na pecuária de corte brasileira.
Com o passar dos anos, a seleção genética da raça responsável por tornar o Brasil líder mundial na exportação de carne bovina passou por várias nuances, muitas delas causadas por viés mercadológico.
Tal rumo culminou hoje em animais voltados para diferentes propósitos, o que, na visão de Leonel, vai contra a natureza da raça. Nesse contexto, um abate técnico realizado em Anápolis, no interior de Goiás, reafirmou a premissa do criador que é diretor do Grupo Adir.
Exatos 16 bezerros Nelore puros, com apenas 15 meses de idade, filhos de touros com genética Adir pertecentes a clientes do tradicional criatório, foram adquiridos aleatoriamente para participar de mais uma etapa do projeto de abate técnico por touro, uma iniciativa lançada pelo Grupo em meados de 2014.
Os animais superprecoces são filhos de touros selecionados na Fazenda Barreiro Grande, em Nova Crixás, também em Goiás, onde são alimentados apenas com pastagem e sal mineral. Na região, a temperatura facilmente atinge 40º à sombra.
Após a desmama, os bezerros seguiram diretamente para o cocho, onde receberam uma dieta intensiva com silagem de capim por 60 dias, mais 60 dias com silagem de sorgo e 90 dias com silagem de milho, além de ração.
“Quisemos medir todo o potencial da Genética Adir, que vem se provando eficaz em qualquer situação. O abate desses bezerros Nelores puros é algo único no País”, aponta Leonel.
Segundo o criador, a genética que produziu estes bezerros atende a produção de carne em qualquer lugar. “Esse é um trabalho que coloca o Brasil no centro do mundo”, avalia.
Coordenou o abate, surpreso com os resultados, o professor Sérgio Pflanzer, catedrático da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp (Campinas/SP), responsável pelo projeto de abate técnico por touro.
“Uma coisa bem interessante que a gente observou foi o desenvolvimento muscular dos animais, uma característica associada ao rendimento de desossa. Ele estava mais desenvolvido do que o normal para esta idade”, avalia.
Os jovens animais apresentaram Área de Olho de Lombo (AOL) de 74 cm², o que, segundo Pflanzer, levou a um aproveitamento de 80% da porção comestível, além de proporcionar um rendimento de carcaça de 57,6%, “acima da média nacional”, informa.
Em relação à espessura de gordura subcutânea (EGS), outro indicador importante na pecuária de corte, 50% do lote oscilou entre os níveis escasso e mediano (1 a 3 mm) e 50% entre mediano a uniforme (4 a 6mm).
“O acabamento de gordura acredito que ficou um pouco deficitário, mas, por se tratar de animais zebuínos muito jovens e não castrados, podemos dizer que foi um nível bom”, esclarece o professor.
Com um tempo maior de alimentação intensiva no confinamento ou se tivessem passado pelo período de recria a pasto seria possível abatê-los mais pesados e com maior deposição de gordura subcutânea, conforme explica o professor.