A Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG) assinou na última semana um projeto de cooperação técnica com representantes do governo do Zimbábue. O projeto, coordenado no Brasil pela Agência Brasileira de Cooperação (ABC), prevê capacitação e transferências de tecnologias brasileiras em algodão para o país sul-africano.
Além da EPAMIG como empresa parceira do projeto, o quadro de instituições técnicas brasileiras é composto pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater-MG) e pelaSecretaria de Agricultura Familiar e Cooperativismo (SAF), órgão ligado ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
De acordo com o diretor de Operações Técnicas da EPAMIG, Trazilbo de Paula, o convite para integrar o projeto partiu da ABC. Trazilbo conta que as características climáticas e de solo do Norte de Minas, região onde a EPAMIG desenvolve pesquisas, são muito parecidas com as do Zimbábue. “A própria Agência Brasileira de Cooperação nos relatou que as condições do Zimbábue são muito semelhantes com as condições do Norte de Minas, com períodos de restrições hídricas prolongadas, clima quente e seco, mas com grande potencial de trabalho com pequenos produtores. Temos muito a ensinar e aprender”, destacou.
A embaixadora do Brasil no Zimbábue, Ana Maria Morales, falou sobre a importância do algodão para a economia do país e sobre qualidade, já reconhecida, da fibra manufaturada no Zimbábue. Lembrou, também, que as instituições brasileiras que fazem parte da iniciativa possuem muita experiência no setor. “O Brasil ocupa lugares de destaque tanto na produção e exportação de algodão e a excelência das instituições brasileiras que integram a iniciativa vão garantir o sucesso do projeto”.
Nos últimos anos, o Brasil tem se mantido entre os cinco maiores produtores mundiais de algodão, ao lado de países como China, Índia, Estados Unidos e Paquistão. Segundo o pesquisador da EPAMIG, Marcelo Lanza, que já atuou com pesquisas em algodão, a empresa de é responsável por desenvolver algumas variedades do produto adaptadas às condições de semiárido e resistentes a pragas e doenças. Ainda segundo Marcelo, a EPAMIG desenvolveu trabalhos de espaçamento e densidade de plantio que melhor se adaptam às condições de solos secos, típicos do Norte mineiro.
O projeto já passou por uma missão de validação e assinatura em Harare, capital do Zimbábue, no último dia 13 de dezembro. O próximo passo será a primeira missão técnica para avaliação da infraestrutura física, dos equipamentos e das terras disponibilizadas para a construção de uma Unidade Técnica Demonstrativa (UTD) no Zimbábue, prevista para ocorrer em abril deste ano.
O pesquisador da EPAMIG Norte, Maurício Cardoso, foi escolhido para representar a EPAMIG na missão técnica. Ainda de acordo com Trazilbo, a visita será enriquecedora para os dois países. O objetivo do pesquisador será participar da visita, retornar com as informações e preparar tecnologias passíveis de aplicação no país africano. Para o diretor, o projeto é uma via de mão-dupla.
“A equipe da EPAMIG Norte tem feito um excelente trabalho com os produtores da região, juntamente com os extensionistas da Emater-MG. A presença do pesquisador Maurício Cardoso na comitiva em abril será muito importante para aprimorarmos nosso trabalho no Norte de Minas. É uma via de mão-dupla. Vamos transferir tecnologias, aprender com a realidade lá e aplicá-las com os nossos produtores daqui”, conclui Trazilbo.
O setor algodoeiro nos países africanos
O algodão é uma commodity importante para a economia de vários países do continente africano. Desde a década de 1990 o setor se modifica e passa por processos de reorganização e modernização tecnológica. Mas, apesar de todos os avanços nos últimos anos em locais com boas condições de clima e solo para explorar o produto, os países africanos ainda não são grandes exportadores de algodão no mercado mundial.
O rendimento da cultura de algodão na África é limitado pelas técnicas de produção e uso de equipamentos antigos, o que compromete a competitividade do mercado africano e o aproveitamento de cotas de mercados aos quais tem acesso.
No Zimbábue, a cotonicultura, segundo produto agrícola que mais contribui para a renda nacional do país, é predominantemente familiar. Os mais de 300 mil pequenos produtores, em sua maioria mulheres e jovens, ocupam áreas médias de dois hectares e estão localizados em 97% do país.
Nesse contexto, vale destacar que o rendimento médio de um algodoeiro zimbabuano vem diminuindo muito desde o ano 2000. De acordo com o Relatório Anual de Gestão da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), a produção, que no passado chegou a ser de 800 quilos por hectare, hoje não ultrapassa 680 quilos.
Apesar dos desafios, o país dispõe de estrutura física e de recursos humanos capacitados para a produção competitiva do algodão. O Cotton Research Institute (CRI), instituto responsável pela pesquisa de novas tecnologias na área do algodão, ligado ao Ministério de Terras, Agricultura e Reassentamento Rural do Zimbábue, conta com um programa de produção de sementes e realiza experimentos para validar pesquisas importantes para o desenvolvimento da produção local. A expectativa é que o conhecimento gerado pela EPAMIG agregue ao Instituto.