Nos dias 3 e 4 de dezembro, o Grupo Conecta, levará para centenas de produtores, no Hotel Royal Palm Hall, em Campinas (SP), uma série de palestrantes renomados que difundirão conhecimento e informações que agregam valor para esse público que fomenta a economia do país. O Encontro Nacional Top Farmers contará com painéis, cases e palestras de suma importância. Entre os palestrantes está o professor sênior de agronegócio global do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), Marcos Jank, que no primeiro dia (3) palestrará sobre “Dinâmica global do agronegócio e oportunidades para o Brasil”.
Sobre o tema, Marcos Jank ressalta que a guerra hegemônica EUA-China vai ser longa e penosa para o mundo, podendo ajudar ou prejudicar o Brasil. “Nesses tempos turbulentos, tudo indica que a demanda será dirigida pela geopolítica do comércio administrado e não pelas vantagens comparativas à la David Ricardo. Ocorre que a demanda potencial do mundo é praticamente infinita, mas apenas uma pequena parte dela é acessível para as nossas exportações por conta de inúmeras barreiras tarifárias e não-tarifárias, técnicas, sanitárias, burocráticas, etc”, explica.
Na visão de Jank, em um momento que a geopolítica retorna com vigor, o primeiro desafio será construir demandas consistentes para os produtos. Por isso, ele sugere ações como mapear os interesses de curto e longo prazo nas principais macrorregiões do mundo emergente. “O holofote de hoje está no Leste e Sudeste da Ásia e no Oriente Médio, regiões que somam 2,6 bilhões de habitantes e 54% das exportações brasileiras no agro. Porém, o nosso futuro está depositado no Sul da Ásia (leia-se o subcontinente indiano) e na África – na soma, 3 bilhões de habitantes em rápido crescimento demográfico, mas que hoje respondem por apenas 12% das nossas exportações”.
Ela acrescenta ainda que o Brasil terá de aprender a lidar com a China, e isso demanda um relacionamento estratégico e equilibrado que gere maior diversificação e valor adicionado no comércio. Isso é urgente porque, segundo Marcos Jank, os chineses já respondem por um terço das exportações do agro, porém altamente concentradas na soja em grãos.
Outra medida na visão do professor é intensificar e dar um novo rumo para as relações com os Estados Unidos, perdidas após duas décadas de desconfianças mútuas. “No agro, os EUA são nosso maior concorrente, mas também um dos importadores mais promissores e sofisticados do planeta, ao lado da China e da União Europeia, com crescimento de 4% ao ano. Mas para os EUA exportamos apenas US$ 7 bilhões no agronegócio, quatro vezes menos que a nossa exportação de soja em grão para a China”. Ainda de acordo com Jank, o Brasil precisa avançar com o projeto de abertura comercial brasileira.
Saúde, Sanidade e Sustentabilidade
E os desafios continuam. Marcos explica que o grande gargalo global decorre das ações e repercussões das nossas políticas em três grandes áreas do agro: Saúde, Sanidade e Sustentabilidade. “Os maiores problemas de saúde e nutrição são a combinação perversa da falta de alimentos com a má nutrição – 2,1 bilhões de pessoas com obesidade e doenças crônicas. Na sanidade, vemos a eclosão de graves doenças e o desafio da eficiência do sistema sanitário. Na sustentabilidade os temas mais importantes para o Brasil são uso da terra e de insumos, desmatamento, clima e biodiversidade”, avalia.
Em suma, Marcos Jank enfatiza que sobre a geopolítica dos alimentos é fundamental construir visões estratégicas de longo prazo com base em estudos detalhados e montar uma estrutura de negociação em cada frente relevante. Já quanto à percepção sobre Saúde, Sanidade e Sustentabilidade é necessário contar com bons dados, presença qualificada e uma sólida estratégia de representação e diálogo no exterior. “Esses foram os principais fatores que motivaram a criação do Insper Agro Global, um centro que analisará temas complexos da agenda internacional do agronegócio, desenvolvendo estudos estratégicos, debates qualificados, apoio no desenho de políticas e formação de pessoas. A reputação não é o que achamos de nós mesmos, mas sim o que nossos parceiros e interlocutores pensam da gente, mesmo que altamente influenciados por mídias sociais”, analisa.
Por fim, Jank diz que comparando com outros grandes exportadores, a maior falha não está nas políticas e ações de campo, mas sim na nossa incapacidade de se fazer presente no exterior, ouvindo, entendendo e dialogando com os clientes e consumidores nas diferentes regiões que atuamos. “Se antes falávamos em oferta e produtividade, hoje é preciso pensar em demanda dirigida pela geopolítica e pelas múltiplas percepções dos nossos clientes, sejam elas verídicas ou não”, aponta.