Por Marcos Fava Neves* – Seguem as reflexões dos fatos e números da cana em setembro. Desde o início da safra até 15 de setembro, a moagem estava em 437,75 milhões de toneladas, 1,2% a mais que no mesmo período da safra passada. Já foi processada 75% da cana, com praticamente 35,5% do mix destinado ao açúcar. Na safra foram produzidas 20 milhões de toneladas de açúcar, queda de quase 5% em relação à passada. No etanol chegou-se a 23 bilhões de litros, praticamente o mesmo volume do ano passado. A qualidade da cana está 3,23% pior, caindo de 139,7 kg/ton para 135,19 kg/ton. Em quantidade por hectare de cana estamos 3,6% melhores nesta safra, chegando a 81,44 ton/ha.
No açúcar, a nova projeção da Organização Internacional do Açúcar (OIA) é de déficit de 4,76 milhões de toneladas em 2019/20 (quedas principalmente na Índia e Tailândia). A produção será de 171,98 milhões de toneladas (2,35% menor) e o consumo cresce 1,34%, atingindo 176,74 milhões de toneladas. De acordo com o grupo Sopex, na safra 2019/20 teremos déficit de 6,3 milhões de toneladas e o Rabobank estima o déficit em 5,2 milhões de toneladas. Para esta safra 2018/19 a OIA projeta superávit de 1,72 milhão de toneladas. Finalmente entraremos em um período de déficit, graças ao Brasil, que, de acordo com a Archer, ao alocar a cana para o hidratado, tirou do mercado mundial 15 milhões de toneladas em dois anos. De uma exportação de 51 milhões de toneladas, caiu para 36 milhões.
Para o açúcar, a JOB Economia prevê produção brasileira de 28,3 milhões de toneladas (29,1 milhões na safra passada), o que faria exportarmos apenas 18,5 milhões de toneladas em 2019/20, caindo ao patamar de dez anos atrás.
Porém pouco pode-se esperar nos preços em curtíssimo prazo, pois os estoques na Índia são fortes e, provavelmente, serão despejados no mercado internacional, ao terminar esta coluna os preços estavam em cents por libra peso, seguindo na “bacia das almas” ao redor de 12 cents/ libra peso, com um pequeno aumento. Mas o sinal de déficit e a produção menor ainda no Brasil são alento altista.
No etanol, devemos bater o recorde de produção nesta safra. A projeção da JOB Economia é de 34,3 bilhões de litros, contra 33,8 bilhões na passada. Apesar que nos últimos 12 meses o consumo de combustíveis em carros do ciclo Otto aumentou 1,25%. A má notícia da quinzena foi a queda nas vendas de etanol pelas usinas, de quase 8% quando comparado à mesma quinzena de 2018 e 10,6% menores que a última quinzena de agosto (foram vendidos 911,57 milhões de litros de hidratado, contra 1,02 bilhão de litros na segunda quinzena de agosto). Mas no acumulado da safra atual estamos com vendas de 10,6 bilhões de litros de hidratado e 4,0 bilhões de anidro, com respectivas altas de 16,3% e 4,1%. A produção cresceu 7,5% na quinzena, ajudando a compor estoques. Estes, segundo o MAPA, estavam em 7,7 bilhões de litros em 31 de agosto, quase 20% menores que o volume desta data no ano passado.
De acordo com a FCStone, o etanol anidro americano chega a Paulínia por R$ 2,23/l na cota e por R$ 2,66/l pagando os impostos. Com impostos o anidro do Centro Sul está ao redor de R$ 2,04/l. Em se colocando o frete, de acordo com a Bioagência, o preço já chega perto do americano. Usinas do Nordeste vêm protestando contra a aprovação da cota de 750 milhões de litros, por entrar no mercado em momento no qual seria a chance de preços melhores. Há no Congresso também movimento para não aprovar esta mudança. Precisaria ser encontrada uma forma de por um ano testar se esta abertura melhora as relações comerciais com os EUA e ver se consegue-se uma contrapartida no açúcar e analisar especificamente alguma alternativa ao Nordeste.
Projeções da União Nacional do Etanol de Milho (Unem) mostram que devemos produzir ao redor de 2 bilhões de litros agora em 2020 e 8 bilhões de litros na safra 2028/29. Neste ano deve fechar em 850 milhões de litros vindos de pouco mais de 2 milhões de toneladas de milho. A UNEM estima que em 2020 serão processados 6,2 milhões de toneladas. A área de eucalipto para abastecer de energia as unidades industriais que não dispõem de bagaço de cana pode chegar a 300 mil hectares.
Finalizando… qual seria a minha estratégia com base nos fatos?
O que observar agora em outubro: ao terminar esta coluna, de acordo com dados da SCA, o litro do hidratado estava R$ 2,15 com impostos e o anidro a 2,01 nas usinas de SP. Estamos com 75% da cana processada. Ao terminar esta coluna os preços do petróleo estavam em USD 60 por barril (tipo Brent) com boa recuperação. Estoques de etanol estão abaixo de volumes do ano passado, temos agora o final do ano e quem sabe a economia começa a dar sinais de vida. Em se taxando toda a importação dos EUA, os preços do etanol, na minha humilde leitura, têm trajetória de alta. Mesmo sem taxar os 750 milhões, teremos aperto na entressafra.
(*) Marcos Fava Neves é Professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP em Ribeirão Preto e da FGV em São Paulo, especialista em planejamento estratégico do agronegócio.