Os próximos anos apresentam um cenário favorável para a soja no Brasil. Na próxima safra, de 2019/20, o País se consolidará como o principal exportador e produtor da oleaginosa no mundo, ultrapassando os Estados Unidos. Mas essa situação pode melhorar ainda mais para o sojicultor. Segundo dados coletados em um período de cinco anos pela Rede de Pesquisa do Comitê Estratégico Soja Brasil (CESB), existe uma oportunidade tangível de ganho produtivo nos principais Estados produtores de soja. Isso porque nas áreas utilizadas nesse estudo, que estão espalhadas em nove Estados brasileiros, a média de produtividade foi 30,1% maior do que a registrada pela Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB).
A Rede de Pesquisa do CESB foi criada em 2014 e é composta por 18 instituições, entre elas fundações, universidades, consultores e centros de pesquisa, que avaliam hipóteses de como ganhar em produtividade, com práticas aliadas à sustentabilidade e rentabilidade, que são as principais premissas do Comitê. O objetivo da rede é identificar os fatores produtivos que estão associados com o aumento da produtividade da soja no Brasil.
Dentro de um período de cinco anos, os pesquisadores constataram que algumas práticas levaram os ambientes de produção a responder de forma positiva no quesito de aumento de produtividade de soja por unidade de área, fato comprovado pelos patamares médios de produtividade identificados serem maiores do que obtidos pela CONAB. Os estudos aconteceram nos Estados de Goiás, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Mato Grosso, Bahia, São Paulo e Minas Gerais, que são os principais produtores da oleaginosa no Brasil.
Em Minas Gerais, por exemplo, enquanto que nas pesquisas da CONAB os produtores não passaram de 60 sacas por hectare (sc/ha), o CESB identificou uma produtividade de cerca de 90 sc/ha. Na Bahia a diferença também foi grande. Pela Conab foram cerca de 60 sc/ha e pelos estudos da Rede de Pesquisa do Comitê os produtores chegaram perto da marca de 80 sc/ha. Fatos que caracterizam uma oportunidade enorme de ganho produtivo.
Fatores que elevam a produtividade
Dentro dos estudos do CESB, associados com as constatações feitas durante o Desafio de Máxima Produtividade de Soja promovido pela instituição, foram identificados os fatores que ajudaram a elevar a produtividade acima da média da Companhia Nacional de Abastecimento.
Entre eles está a questão do plantio. Os estudos e observações do CESB demonstram que associando semente de qualidade (vigor maior que 85%), velocidade de plantio entre 5 a 6 km/h e distribuição pneumática das sementes, a média produtiva de soja chega a ser de 6 a 8% maior.
A forma de distribuição dos fertilizantes também influencia no sucesso da lavoura. Se ela for realizada utilizando disco duplo e botinha, a média de produtividade, na maioria das vezes, é superior e chega a valores de até 7% maior do que a distribuição a lanço. “Nesse contexto, cabe ressaltar que os mesmos estudos apontaram uma correlação positiva entre profundidade de fertilizante aplicado e produtividade”, destaca o coordenador técnico e de pesquisa do CESB, João Pascoalino.
Os resultados da Rede de Pesquisa do CESB demonstram que pensar no arranjo espacial das plantas é primordial para garantir uma boa safra. Em ambientes com média produtiva superior a 75 sc/ha, a utilização de cultivares engalhadas e população reduzida apresentou médias produtivas iguais ou maiores quando comparadas com o manejo utilizando população recomendada para o cultivar em questão. Em ambiente com média produtiva inferior a 60 sc/ha, a utilização de cultivar envaretada plantada em espaçamento reduzido (22 a 25 cm entre linha) apresentou maior produtividade quando comparado com o mesmo cultivar plantado em espaçamento padrão (45 a 50 cm entre linha).
A correção química do solo com calcário se mostrou como uma aliada no ganho de produtividade da cultura de soja. “A relação foi direta. Ou seja, quanto mais profunda a correção no perfil de solo, maior foi a produtividade”, destaca Pascoalino. Diante do fato, o coordenador técnico e de pesquisa do CESB ressalta a importância da correção do perfil de solo em profundidade. “Isso se mostra algo estratégico para o aproveitamento dos recursos, tais como água e nutrientes, além de impactar positivamente na minimização do impacto do clima, em especial do estresse hídrico durante o ciclo da cultura”.
Pascoalino afirma que esses resultados demonstram tendências que servem como um indicativo de como a cultura de soja pode responder às condições específicas de manejo impostas. Segundo ele, a partir desses resultados uma nova era de agricultura vai se delineando, surgindo várias modalidades de agricultura: de posicionamento estratégico de material genético, de formação de raiz em profundidade, de estômatos abertos, de antiestresse etc. “Embora possam ser modalidades de agricultura distintas, elas se mostram conectadas entre si com um objetivo comum: o aumento da produtividade com sustentabilidade e rentabilidade”, complementa.
O pesquisador Milton Moraes, que atua como professor adjunto dos cursos de graduação e pós-graduação em Agricultura Tropical na Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), participa da Rede do CESB desde a sua criação. Para ele, o evento tem extrema importância, pois as informações levantadas ajudam a cadeia da produção de soja como um todo, já que une os conhecimentos de empresas, produtores e universidades. “Assim essas informações retornam ao produtor, para que ele possa aplicar as melhores técnicas para aumentar a sua produtividade e rentabilidade. E também faz com que a academia possa ter temas para serem investigados e pesquisados”, declara.