Sustentabilidade

Relatório do IPCC reforça a importância de políticas consistentes para biocombustíveis

Os relatórios do Painel Intergovernamental de Mudança Climáticas da ONU (IPCC) são grandes guias para as políticas climáticas. O relatório que sai hoje sobre “clima e terra” traz mensagens importantes para o futuro e bem-estar da nossa civilização. O relatório traz mensagens importantes sobre como o ser humano se relaciona com o recurso “terra” em um mundo em aquecimento. Particularmente, como nossas ações do dia a dia estão afetando esse recurso, do qual somos tão dependentes. Segundo Marcelo Moreira, pesquisador e sócio da Agroicone, o relatório também elenca as principais medidas de combate e adaptação às mudanças climáticas, como implementá-las e que ações que já podem ser tomadas no curto prazo.

O primeiro destaque é que bioenergia e as chamadas BECCS (Bioenergy Carbon Capture and Storage) possuem enorme capacidade de remover carbono da atmosfera. O tamanho da contribuição de cada possibilidade de remoção de carbono depende, entre outros fatores, dos limites toleráveis de aquecimento global e do estilo de vida. Metas mais ambiciosas de contenção do aquecimento global e trajetórias socioeconômicas menos sustentáveis demandam maior compensação em bioenergia para manter a temperatura em limites razoáveis. No relatório, bioenergia e BECCS são uma das poucas respostas com alto potencial técnico de mitigação. Importante salientar que isso diz respeito apenas à estabilização de carbono por meio de uma tecnologia específica – BECCS. “O potencial é bem maior quando consideramos o deslocamento do consumo de combustíveis fósseis, que infelizmente não foi incluído no sumário”, afirma Moreira.

O risco relacionado a Bioenergia está associado ao seu mal-uso, enquanto vários efeitos positivos emergem quando gerenciado com políticas bem articuladas. O relatório aponta que o uso de várias centenas de milhões de hectares para bioenergia pode aumentar os riscos de efeitos indesejáveis, como degradação de solos, segurança alimentar, emissões e outros objetivos do desenvolvimento sustentável. “É evidente que a produção de biocombustíveis não deve produzir desmatamento, e não se deve incentivar a produção ineficiente e desenfreada”, destaca Moreira. Quando boas práticas são adotadas, a bioenergia tem efeitos sinérgicos com outros objetivos desejáveis.

Nossa análise é que o Brasil ganha destaque, tanto por sua eficiência em biocombustíveis como em estratégias “poupa terra”. O país tem fontes eficientes de bioenergia em termos de uso da terra. Cana-de-açúcar é de longe a cultura mais eficiente em produção de energia por hectare. Também é sabido que mais de 80% das áreas de cana-de-açúcar estão em regiões onde a vegetação nativa aumentou nos últimos 10 anos, nos estados do Centro-Sul. O Brasil ainda está montando um arsenal de estratégias “poupa terra” que reduzem sua demanda e abrem espaço para alternativas como bioenergia e reflorestamento. Exemplos são a intensificação da pecuária, a integração entre lavoura e pecuária e a forte expansão de culturas de 2ª safra, notadamente o milho. De acordo com estudo publicado em 2017, o Brasil poderia substituir entre 3,8 a 13,7% da gasolina do mundo com uma expansão de biocombustíveis somente em áreas degradadas ou de intensificação de pastagens.

O Programa RenovaBio, política nacional de biocombustíveis, tem causado uma verdadeira e profunda transformação de comportamento, entre produtores de bioenergia, alinhado com o IPCC. Ao colocar na mesa a possibilidade de receitas pela boa gestão ambiental, usinas estão investindo em sustentabilidade. Visitando usinas que querem entrar no RenovaBio, vemos que o vocabulário mudou. Todos querem saber se as suas áreas são “elegíveis” e solicitando aprimoramento no sistema de gestão. No jargão do Programa, ser elegível quer dizer que você atende a critérios de sustentabilidade tais como evitar desmatamento, estar em dia com o Código Florestal e obedecer aos Zoneamentos, que são formas de melhorar o uso do recurso “terra”. Ou seja, o RenovaBio encara o desafio indicado pelo relatório do IPCC de frente, estimulando produção de biocombustíveis sustentáveis. O Brasil está muito bem posicionado nesse jogo.

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