A perspectiva de recorde nas exportações de proteína animal brasileira anima o setor, que se reúne na 14ª edição da TecnoCarne, feira referência do segmento da indústria de processamento da América Latina, no São Paulo Expo para discutir as tendências e apresentar lançamentos de tecnologias e soluções para carne bovina, suína, aves e peixes.
Na abertura do Fórum TecnoCarne, representantes das principais entidades do setor, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e analistas destacaram o desempenho das exportações no primeiro semestre do ano e a expectativa de novos recordes em 2019, impulsionados pela abertura de novos destinos e pela reorganização de mercado gerada pelo surto de peste suína na China, detentora do maior rebanho suíno mundial.
A diretora executiva da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne – ABIEC, Liège Vergili Nogueira destacou o bom desempenho das exportações de carne bovina brasileira nos sete primeiros meses do ano, que registraram alta de 20,1% em volume quando comparado ao mesmo período do ano passado, e 11,6% em receitas, somando US$ 3,73 bilhões. O mês de julho registrou o melhor desempenho das exportações de carne bovina no ano e o bom desempenho foi puxado, principalmente, pelo crescimento das vendas para China, com alta de 10,9% no volume, chegando a quase 175 mil toneladas nos primeiros sete meses de 2019. “Esses resultados positivos reforçam as projeções de crescimento nas exportações brasileiras, feitas no início do ano, que indicavam uma ampliação em cerca de 10%, tanto em volume quanto em receitas, em relação a 2018, que já foi um bom ano”, ressalta a executiva.
A ABIEC trabalha com a expectativa de reabertura do mercado e da habilitação de novas plantas frigoríficas para exportar para a China. “No curto prazo estão no nosso radar mercados como Tailândia, Indonésia e Vietnã. Já no médio prazo identificamos Japão, além de México e Canadá, que tendem a seguir a movimentação dos EUA. No longo prazo consideramos Turquia, Taiwan e Coreia do Sul”, informou Liège, salientando que as barreiras enfrentadas pelo Brasil são “comerciais travestidas de técnicas”.
Oportunidades com o surto de peste suína africana na China
O consultor de mercado da Agrifatto, Gustavo Machado traçou o cenário atual e futuro a partir do surto de peste suína africana na China, que está alterando a dinâmica do mercado mundial de carnes. Noticiado pela primeira vez em agosto de 2018, o surto já se espalhou por todas as províncias chinesas e provocou o abate de mais de um milhão de animais.
Projeções apontam que haverá uma queda do rebanho suíno chinês entre 25 e 50% (125 a 200 milhões de cabeças) e diminuição de 20 milhões de toneladas (de 54 para 35 milhões) na produção. “Pelo fato do país concentrar mais de 56% do rebanho suíno mundial, ser o maior produtor desse tipo de carne do mundo e também maior consumidor, a peste suína africana está rearranjando as relações comerciais no mundo, ampliando oportunidades inclusive para a proteína brasileira. Não há carne suína no mundo capaz de suprir essa demanda. Além da suína em si, a carne de frango é a que mais está se beneficiando, seguida por ovos e carne bovina”, analisou Machado.
Para o International General Manager da Aurora Alimentos, Dilvo Casagranda, o Brasil deve aproveitar as oportunidades para ampliar as vendas de sua carne suína para o mercado chinês, porém deve aprender a lição que teve com a Rússia, que era o principal mercado, chegando a representar mais de 50% do total das exportações brasileiras em 2016. Após o fim do embargo e a reabertura do mercado, a participação russa (entre janeiro e junho) é de 7,6%. “O Brasil precisa e vai aproveitar a oportunidade gerada pela peste suína africana na China, mas deve continuar buscando por novos mercados. Porque a tendência é de que até 2024 os chineses retomem sua produção, que certamente ressurgirá mais forte e competitiva do que já era”, pontuou Dilvo.
Ele destacou como pontos fortes da suinocultura brasileira a criação verticalizada, oferta de insumos, agilidade e competitividade. Os desafios estão, segundo Casagranda, em sua maioria na indústria. “Estamos em constante busca pela modernização, no entanto, mesmo com toda nossa tecnologia ainda temos muitas empresas antigas que carecem de atualização. Além disso, se não influenciarmos o hábito de consumo da população não teremos reflexos significativos”, salienta Dilvo.
A preocupação com o mercado interno foi compartilhada também por Ricardo Santin, diretor Executivo da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). Em 2018, por conta da crise econômica houve uma queda no consumo de carne de frango e suína per capita e um aumento no consumo de ovos. “O segredo é o fortalecimento do mercado interno”, ressaltou Santin.
Para José Antônio Ribas Júnior, da Diretoria Agropecuária da Seara, para fazer crescer o consumo é preciso que a indústria esteja atenta ao comportamento do consumidor, que tem uma percepção cada vez maior em questões como bem-estar animal e sustentabilidade. “Nosso cliente hoje está sempre em mudança. É nossa obrigação atendê-lo, sempre com clareza, para que ele saiba o que está consumindo. As lacunas da percepção adquiridas pelo consumidor precisam ser preenchidas para que possamos aumentar nossas vendas”.