Um trabalho que vem sendo desenvolvido a quatro gerações da mesma família. Com o início das plantações de uva em meados de 1910 e a comercialização em 1938, onde eram envasados em barris de 100 litros e despachados na estação do bairro para o litoral, a mercadoria era acompanhada da quantidade precisa de rótulos e selos, o que induzia os comerciantes a afixá-los nos vasilhames, dando prova do controle e garantia de boa procedência da bebida.
Já em 1946 os irmãos Gumercindo e Roque de Góes, filhos de Nhô Dito e Dona Maria, patronos da família, criaram a marca Vinhos Palmares, dando continuidade ao trabalho, até que no início dos anos 60, Gumercindo, na época com 50 anos de idade, começou a construir, junto com os filhos, uma nova vinícola. E, no ano de 1963 inicia oficialmente a produção dos Vinhos Góes, em homenagem ao sobrenome e às origens da família.
Para obter mais qualidade no produto ofertado, atualmente em seus parreirais, a vinícola aplica uma técnica diferenciada, conhecida como dupla poda.
Bastante tempo se passou e ainda hoje com 100% do processo produtivo realizado em suas propriedades, a vinícola está localizada na cidade de São Roque, a aproximadamente 60 km de São Paulo. “Essa é uma cidade que tradicionalmente é conhecida como a terra do vinho no Estado, e faz parte da nossa história”, declara Fábio Góes, enólogo da vinícola. Segundo ele, nos anos 60 a região possuía uvas de origem americanas, tais como a Isabel, a Niagara Rosada e a Niagara Branca, bastante utilizadas para o consumo in natura. E, pensando em inovar no local, no final da década de 90 a empresa iniciou o trabalho de trazer novas variedades de uva que nunca haviam sido testadas em SP, com características viníferas, provenientes da Europa e indicadas para a produção de vinhos finos. “Me lembro que em 1999 trouxemos em torno de 40 variedades viníferas e fomos fazendo os testes para adaptação ao nosso solo, clima e o manuseio do homem com a uva”, diz.
Diferenciar para se destacar
Para obter mais qualidade no produto ofertado, atualmente em seus parreirais, a vinícola aplica uma técnica diferenciada, conhecida como dupla poda. “Como o próprio nome diz, realizamos duas vezes a poda ao ano para inverter o ciclo da colheita”, diz Fábio. Ele conta que normalmente nas uvas das regiões Sul e Sudeste do País faz-se uma poda no parreiral ao final de julho, início de agosto, onde a partir daí entra em seu novo ciclo, e é realizada a colheita de janeiro a março, dependendo da variedade que está plantada. “Após 30 dias de poda normal, ao começar a sair as flores, os funcionários retornam ao parreiral e quebram os cachos na mão. Neste período a plantação vegeta, ou seja, fica sem produção e entre a última semana de dezembro e o início de janeiro se realiza a segunda poda”. Com o parreiral em seu novo ciclo, a colheita é feita entre os meses de junho e julho, se tornando uma colheita de inverno.
Com o parreiral em seu novo ciclo, a colheita é feita entre os meses de junho e julho, se tornando uma colheita de inverno.
O enólogo comenta que num local como São Roque, onde o índice pluviométrico é maior no início do ano, com fortes pancadas de chuva e depois mais seco pelo meio da temporada, o que se ganha com a aplicação da técnica fica a cargo da maturação da uva, gerando um fruto com mais qualidade, que resulta num vinho mais saboroso e atrativo. “Mesmo com menor produção por hectare, a maturação é mais completa, se tem um teor de açúcar maior, uma acidez mais equilibrada, os taninos são mais maduros, além de aroma e sabor diferenciado, se comparado à safra tradicio
nal”, declara. Na Góes, a dupla poda é aplicada em quatro hectares.
O desenvolvimento do mercado
Hoje no Brasil a área geral de produção de vinho está em 79,1 mil hectares. São mais de mil vinícolas espalhadas pelo País, com sua maioria instalada em pequenas propriedades. Em 2019, o mercado vitivinícola brasileiro deve alcançar R$ 7,7 bilhões e o desafio do setor é democratizar o acesso e profissionalizar a cadeia, para que cada vez mais a bebida se popularize.
Atualmente no Brasil a área utilizada para a produção de vinho está em 79,1 mil hectares, e em 2019 o mercado vitivinícola brasileiro deve movimentar um montante de R$ 7,7 bilhões.
Dentro destes dados mercadológicos, a Góes produz cerca de sete milhões de garrafas ao ano, somando os vinhos finos – exclusivos no processo de dupla poda-, e os tradicionais vinhos de mesa. O número é considerado positivo pela companhia, que entende é preciso “conquistar e educar” novos consumidores para aumentar a venda dos produtos diferenciados, que possuem maior qualidade.
“O consumidor hoje ainda busca bastante o vinho de mesa, do tipo mais adocicado, que é o suave. Então cerca de 80% do consumo nacional ainda é deste tipo, de onde se parte do vinho seco e faz a adição do açúcar”, comenta Fábio. Os outros 20% englobam o vinho seco juntamente dos vinhos finos. Para o enólogo, mesmo com a porcentagem ainda baixa, percebe-se que o interesse tem mudado por parte de quem consome, seja pelos benefícios que estas opções finas trazem à saúde, ou então pelo movimento das confrarias que têm surgido. “O pessoal se reúne para degustar vinho fino, o que acaba favorecendo o crescimento deste mercado em território nacional”.
Com a dupla poda, mesmo com menor produção por hectare, a maturação é mais completa, se tem um teor de açúcar maior, uma acidez mais equilibrada, os taninos são mais maduros, além de aroma e sabor diferenciado, se comparado à safra tradicional.
Texto: Bruno Zanholo • Fotos: Davi Canto e Divulgação