Ao completar três anos com a lupa sobre 25 gigantes do setor de alimentação, uma coalizão internacional de investidores identificou aquelas que já começam a capitalizar a crescente demanda por proteínas alternativas e as que estão ficando para trás. As 25 firmas foram escolhidas por serem as maiores e mais influentes no setor de proteínas, com base em seu valor de capitalização, fatia no mercado e capacidade para moldar a demanda.
Os resultados do estudo baseiam o relatório “Fome de Disrupção”, da FAIRR Initiative – Farm Animal Investment Risk & Return.
O segmento de proteína alternativa, que inclui substitutos à base de vegetais para alimentos de origem animal – como os hambúrgueres da Beyond Meat e da Impossible Whopper -, é estimado em US$ 19,5 bilhões (Euromonitor) e, nos próximos 15 anos, deve abocanhar 10% do mercado de carne, conforme estimativas dos bancos Barclays e J.P. Morgan.
O relatório traz um panorama sobre os problemas de sustentabilidade na cadeia da pecuária, que responde por 14,5% do total de emissões de gases de efeito estufa e usa água intensivamente. De toda a terra cultivável no planeta, uma fatia de 80% está reservada para pastos e produção de rações, conforme a FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação). O setor é altamente exposto a riscos das mudanças climáticas.
Em 2016, a FAIRR Initiative lançou um compromisso colaborativo convocando 25 gigantes de alimentos, entre indústrias e varejistas, a diversificar suas fontes de proteínas para garantir o crescimento, elevar a rentabilidade, reduzir a exposição a riscos e aumentar a capacidade de competir e inovar num mundo de recursos limitados. Na ocasião, 36 investidores institucionais, com US$ 1,25 trilhão em ativos, aderiram. Hoje o compromisso tem apoio de 74 investidores institucionais, que respondem por US$ 5,3 trilhões de ativos sob gestão. O grupo inclui Schroders (Reino Unido), NN Investment Partner (Holanda) e Boston Common Asset Management (EUA).
Unilever, Tesco e Nestlé estão entre as mais bem preparadas para tirar vantagem do vigoroso mercado de alimentos à base de plantas, posicionando-se para reduzir as emissões de carbono; Amazon e Costco (da Whole Foods) estão ficando para trás.
Pela primeira vez desde o lançamento do compromisso, chegou a cinco o número de companhias (Unilever, Tesco, Nestlé, M&S e Conagra), dentre as 25 monitoradas, que foram classificadas como “proativas”. Isto significa que elas desenvolveram uma estratégia proativa para construir um portfólio sustentável de proteínas, incluindo o reconhecimento de que a alta dependência de ingredientes de origem animal é um risco para o negócio. Também fazem parte do compromisso realizar estudos de riscos em suas cadeias de fornecimento e expandir seu leque de produtos à base de plantas.
Mais de 87% das varejistas monitoradas criaram as suas marcas próprias de produtos à base de plantas. Isso quer dizer que mais itens nas gôndolas virão de fontes de proteínas low-carbon em vez de serem produzidos a partir de carne e leite. A Nestlé, por exemplo, espera que as vendas de produtos de base vegetal alcancem US$ 1 bilhão em dez anos.
“Muitas começaram agora uma jornada para diversificar os produtos protéicos, deixando de ser predominantemente feitos de animais, para fontes de baixo carbono e menos intensivas em recursos feitos com plantas”, disse Jeremy Coller, fundador da FAIRR, que inclui instituições como o UBS e a Schroders. “Não podemos enfrentar a mudança climática… a menos que as empresas alimentícias diversifiquem mais rapidamente seus portfólios de proteína saindo da agricultura animal.”
As 25 gigantes de alimentos monitoradas foram avaliadas em tópicos como estratégia de negócios e investimentos em P&D. Cinco das 25 companhias atingiram o topo do ranking, com postura proativa na direção da transformação do setor de proteínas; 16 foram consideradas ativas; e 4 empresas (Amazon, Hershey, Costco e Saputo) foram classificadas como reativas. Vinte e três delas aumentaram, ou anunciaram planos de expandir seus portfólios de produtos à base de proteínas alternativas. Mais da metade (64%) das companhias incluíram termos como “à base de plantas” e “vegano” em seus relatórios de resultados anuais e/ou trimestrais. Quatro empresas (Marks & Spencer, Conagra Brands, General Mills e Grupo Casino) empreenderam algum tipo de estudo de risco, inclusive climático, especificamente em sua cadeia de fornecimento de proteína.
Algumas companhias, incluindo M&S e Carrefour, fixaram algum tipo de meta para aumentar a sua exposição a produtos de proteínas alternativas. A meta do Carrefour é dobrar o número de produtos à base de vegetais em seu mix neste ano. Mas nenhuma empresa anunciou, formal e publicamente, as suas métricas para acompanhar e relatar a sua exposição a riscos relativos a proteínas.
O mercado de proteína alternativa decolou em parte devido à inclusão de tais produtos em cadeias de restaurantes globais, como Burger King e McDonald’s, bem como a oferta bem sucedida de ações da produtora norte-americana de carne vegetal Beyond Meat.