Por João Guilherme Sabino Ometto* – O cenário ainda incerto de 2019 e a revisão para baixo das estimativas de expansão econômica não tiram o fôlego do agronegócio, que representa 25% do PIB nacional e tem se constituído no principal responsável pelo superávit de nossa balança comercial. Alguns dados relevantes atestam a consistência do setor, a começar pela presente safra de grãos, a segunda maior da história, que deverá alcançar 233,28 milhões de toneladas, conforme dados divulgados pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Além disso, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) projeta o crescimento da atividade este ano.
Outro indicador de que o agronegócio tem resistido bem às dificuldades do País e do mundo refere-se aos resultados da 26ª Agrishow – Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação, realizada em maio, no município paulista de Ribeirão Preto, que recebeu cerca de 160 mil visitantes e registrou alta de 6,4% no volume de negócios em relação ao ano passado, alcançando R$ 2,9 bilhões. Ademais, evidenciou-se, no evento, o salto tecnológico no meio rural, incluindo drones, radares, aplicativos e conectividade, voltados ao aumento da produtividade e eficiência no campo, desde o controle e monitoramento dos rebanhos até a adubação e o uso racional de defensivos. Cabe registrar a relevante contribuição que o setor tem recebido dos institutos de pesquisa estatais e privados, bem como das universidades.
No tocante às exportações, a feira também foi interessante: a 20ª Rodada Internacional de Negócios reuniu 15 compradores da Argentina, Austrália, Chile, Colômbia, Etiópia, México, Nigéria e Peru, em ação de promoção comercial que resultou em US$ 32,92 milhões, dentre contratos fechados e futuros. O valor representa avanço de 60% em relação à mesma ação realizada em 2018.
Para os que possam nutrir algum ceticismo quanto aos dados nacionais, vale a pena conferir estimativas do respeitado Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). Segundo esse organismo, nosso país deverá colher volume recorde de soja na safra 2019/2020, chegando a 123 milhões de toneladas e superando a produção norte-americana. A colheita brasileira de milho também estabelecerá nova marca, chegando a 101 milhões de toneladas.
Todos esses números, nacionais e internacionais, reforçam a importância de os produtores brasileiros manterem a confiança no seu negócio e, por outro lado, receberem a devida contrapartida por parte de políticas públicas. Por isso, foi importante a presença, na Agrishow, do presidente Jair Bolsonaro, do governador paulista, João Dória, ministros e secretários de Estado. Com certeza, puderam ouvir diretamente dos homens do campo, inclusive pequenos e médios agropecuaristas, o relato sobre algumas dificuldades persistentes. Que sejam superadas! Nesse sentido, o agronegócio está de porteiras abertas, para ouvir e ser ouvido.
Seria muito bem-vinda a agilização da agenda de desburocratização, melhoria do seguro rural e do crédito, incluindo juros menores, modernização e recuperação da infraestrutura de transporte e logística para o escoamento das safras. São esses os principais problemas enfrentados pelo setor, que também espera, como todos os brasileiros, as reformas previdenciária e tributária, essenciais à retomada do crescimento do PIB em níveis mais robustos. Afinal, num cenário econômico aquecido e dinâmico, a agropecuária poderá apresentar desempenho ainda mais expressivo, ampliando sua contribuição para a criação de empregos e renda, geração de divisas e superação definitiva da prolongada crise que afeta o Brasil.
*João Guilherme Sabino Ometto é engenheiro formado pela Escola de Engenharia de São Carlos – EESC/USP, vice-presidente do Conselho de Administração da Usina São Martinho e membro da Academia Nacional de Agricultura (ANA).