Por Pamela Andrade* (Scot Consultoria) – No cinturão citrícola, que corresponde ao estado de São Paulo e as regiões do Triângulo Mineiro e Sudoeste Mineiro, a produção de laranja está estimada em 388,89 milhões de caixas de 40,8kg na safra 2019/2020, cuja colheita começou em maio (Fundecitrus). Isso representa uma alta de 36% frente a safra passada (2018/2019), quando foram colhidas 285,98 milhões de caixas.
Para o pecuarista, mantendo a proporção de frutas destinadas à extração de suco e para o consumo in natura do último ciclo, a expectativa é de maior disponibilidade de polpa cítrica para a nutrição dos bovinos. Por ser um alimento energético, a polpa é uma alternativa ao milho na composição da dieta.
De acordo com as estimativas da Scot Consultoria, serão produzidas aproximadamente 1,4 milhão de toneladas de polpa cítrica nesta temporada. A expectativa de maior produção neste ciclo frente a temporada anterior pressiona para baixo a cotação. Desde o início do ano, a queda de preço foi de 24%. Na primeira quinzena de junho a cotação média ficou em R$409,00 por tonelada em São Paulo, sem o frete.
Existe relação entre os preços desses alimentos, no entanto, em duas situações as cotações descolam: i) em casos de forte queda no preço do milho, no qual o grão se torna mais competitivo frente aos outros alimentos energéticos e ii) o oposto, nas situações de fortes altas nas cotações do cereal no mercado interno. Nestas duas situações, a demanda por polpa cítrica é afetada.
Em 2018 foram exportadas 204,43 mil toneladas, o que representou US$91,13 milhões em faturamento (Citrus BR). Do total embarcado, 150,19 mil toneladas foram para a União Europeia, o que representa 73,5% do volume total. O país com maior participação da União Europeia foi a Holanda. Em 2018 o Brasil embarcou 104,78 mil toneladas para o país, representando cerca de 50,8% das exportações totais.
O segundo importador da polpa cítrica brasileira em 2018 foi a China, com 43,04 mil toneladas de toneladas, ou 21,1% do volume total. Em 2019, nos cinco primeiros meses do ano, foram exportados 67,31 mil toneladas, uma alta de 44% frente ao mesmo período do ano anterior (SECEX). Esse maior volume é decorrente da menor competitividade da polpa em relação ao milho, tornando o mercado externo um importante canal de escoamento.
Considerando o maior importador (Holanda), de janeiro a maio de 2019 o preço médio da tonelada exportada foi de R$850,64, o que representa um sobre-preço de 38,8% frente a média de preços da tonelada no mercado interno para o mesmo período, cuja cotação foi de R$520,32.
Para o curto e médio prazos, com a safra e aumento do processamento a expectativa é de maior oferta de polpa e quedas nos preços não estão descartadas. A pressão de alta diminuindo no mercado do milho (avanço da colheita no Brasil, conclusão da semeadura nos EUA e câmbio mais fraco) colabora com esta expectativa. Este momento gera oportunidades para os pecuaristas que “perderam” a janela de compra do milho e se deparam com preços maiores comparativamente com abril e maio últimos.
Com relação ao poder de compra frente a polpa, a relação de troca com o boi gordo melhorou 23,9% desde o início de 2019. Em São Paulo, são necessárias 2,69 arrobas de boi gordo para adquirir uma tonelada do insumo. Desde o início da safra da laranja o poder de compra melhorou 31,3%. Na comparação com junho de 2018 a relação melhorou 27,8%.
(*) Pâmela Andrade é Engenheira agrônoma e analista de mercado da Scot Consultoria