Agricultura

A destinação correta de embalagens na agricultura traz ganhos ao produtor

Com a produção de grãos atingindo recordes nas últimas décadas, a quantidade de agrotóxicos utilizados para controlar as plantas invasoras, pragas e doenças também cresceu. É o que aponta o estudo “Geografia do Uso de Agrotóxicos no Brasil e Conexões com a União Europeia”, da pesquisadora Larissa Mies Bombardi, do Laboratório de geografia Agrária da Universidade de São Paulo. Em contrapartida, a preocupação com a destinação correta desses materiais também têm sido uma prática entre os agricultores.

Segundo o pesquisador Maurício Waldman, autor do livro Lixo: Cenários e Desafios, a agricultura e pecuária respondem por 58% dos resíduos gerados no país e, nas últimas décadas, um novo agravante foi inserido a este contexto: “O lixo rural está muito mais tecnificado e vários elementos como embalagens de vacinas e de agrotóxicos, plásticos, pneus, óleo lubrificante e até lixo eletrônico, estão misturados ao resíduo orgânico. Isso ocorre porque a logística no campo está muito mais complexa”.

Quando se fala dos resíduos da agricultura, o reaproveitamento deve ser avaliado em toda sua extensão, já que tudo pode ser reaproveitado. “Quanto mais a sociedade criar mecanismos de estudos para esse fim, mais conseguiremos aumentar o ciclo de vida dos produtos e parar de desperdiçá-los por falta de pesquisa e de investigação para readequação, gerando ganhos ao produtor”, explica a professora e conteudista na área de geociências e meio ambiente Aline Carneiro Silverol.

Atualmente, há alternativas eficazes de aproveitamento desses materiais, que vão desde embalagens que acondicionam os insumos agrícolas e os resíduos orgânicos, relacionados ao próprio trato cultural, até cascas, restos de poda e resíduos animais usados, inclusive, para recuperação de áreas degradadas.

Entre essas possibilidades, o processo de logística reversa se destaca, pois mostra que o ciclo de um material não se encerra na entrega do produto ao cliente (consumidor). No campo, por exemplo, o produtor rural é incentivado a realizar a tríplice lavagem das embalagens e a fazer a devolução. Em seguida, ele as transporta da zona rural até um centro coletor, onde são armazenadas e posteriormente recolhidas pela indústria especializada, responsável pela destinação final.

Esses centros, espalhados pelo país, são cooperativas criadas por meio da atuação do Instituto Nacional de Políticas de Embalagens Vazias (INPEV). Hoje, 95% delas são recicladas e as 5% restantes, que não foram lavadas ou estão contaminadas, são enviadas para incineração. No último ano o instituto foi responsável pela destinação correta de 44.261 toneladas de embalagens vazias.

José Affonso dos Reis, sócio-diretor da Neotech, explica que além de uma estratégia competitiva, uma vez que a sociedade está mais atenta às questões ambientais, o grande benefício da logística reversa está relacionado, principalmente, à educação do agricultor.

“Antigamente, era comum utilizar as embalagens para guardar mantimentos e até armazenar o leite que era distribuído para a família. Resultado: diversos casos recorrentes de contaminação”, conta. Uma pesquisa da Fiocruz estima que, entre 2007 e 2014, mais de um milhão de brasileiros foram intoxicados por agrotóxico – um quinto das vítimas era criança ou adolescente.

Apesar da aplicação necessária na agricultura, os agrotóxicos são extremamente nocivos para os seres vivos e podem desencadear contaminação e poluição do solo, água e até mesmo do ar, caso não seja manuseado de maneira correta. “Por isso, é preciso utilizar a tecnologia existente e aprimorá-la cada vez mais para evitar que esse produto seja absorvido pelo solo e chegue aos rios e lençóis freáticos e contaminem o ambiente”, explica Reis.

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