O setor sucroenergético tem um grande desafio para os próximos anos: ampliar e fortalecer programas de etanol fora do circuito formado por Brasil, Estados Unidos e União Europeia, responsáveis atualmente por 85% do consumo global de etanol.
De acordo com Eduardo Leão, diretor executivo da União da Indústria da Cana- de-Açúcar, o caminho natural para essa expansão deverá ser o continente asiático. “A combinação de países altamente populosos com sociedades afluentes deve resultar em um significativo crescimento da demanda por automóveis e, consequentemente, por combustíveis”, afirma.
Para se ter uma ideia, somente Índia e China representam cerca de um terço de toda a população mundial. “É esperado que, nesse processo, sejam privilegiados os combustíveis renováveis em detrimento de combustíveis fósseis. Isto porque, além de o etanol trazer oportunidades para os produtores agrícolas nessas regiões, um aspecto comum entre os vários países asiáticos é a necessidade de reduzir os altíssimos níveis de poluição do ar em suas metrópoles, além das emissões de gases de efeito estufa. E o etanol é, nesse sentido, a fonte de energia mais eficiente e economicamente viável”, explica o diretor.
Para Marcos Jank, professor Sênior de Agronegóciuo Global (Insper), são três os principais pontos que podem ajudar o setor a fortalecer presença no mercado asiático: RenovaBio, ganho de produtividade e redução das barreiras que impedem a entrada do etanol brasileiro nesses mercados.
“O Brasil tem que construir uma indústria competitiva. Acho que o principal fator que vai levar a indústria para frente é a implantação de uma nova política que leve em conta a estruturação e o planejamento da matriz energética brasileira, com base na descarbonização. E esse é o RenovaBio”, disse.
Mercado
Cerca de 20% das exportações brasileiras de açúcar têm como destino a Ásia. No caso do etanol, 80% do que é exportado pelo Brasil segue para Japão e Coreia do Sul. “De fato, a gente tem na Ásia nosso maior cliente e eu diria que, no futuro, também. Existe um programa de E10 (10% de mistura de etanol à gasolina) na China, que não foi aplicado ainda. Eles estão em um nível de 2,5% de mistura, então tem bastante espaço para chegar a 10%. A Índia está com pouco mais de 4% de mistura e tem planos de chegar no E10”, explica Jank.
Para ele, o Brasil tem grandes condições de ajudar a abastecer esse mercado. “Não faz sentido que o petróleo, que é um produto escasso, poluente e que tem problemas graves de emissão de gases de efeito estufa tenha seu comércio livre, com baixa tarifa, ou praticamente tarifa zero no mundo todo, e o etanol seja tão protegido”, revela o CEO.