Por Mariane Crespolini (Scot Consultoria) – A análise de hoje tem como objetivo falar do maior mercado consumidor de carne bovina: os brasileiros que vivem nas metrópoles. Qual a relevância do consumo deles para a produção nacional? Será que estamos dando a devida atenção a estas pessoas? Para responder estas perguntas, tenho que te contar minha experiência pessoal do último mês. Eu moro em Sinop, a quarta maior cidade do estado de Mato Grosso, 140 mil habitantes. Não é pequena, né? Mas, toda vez que vou para a cidade de São Paulo fico pensando: “Como essa cidade tem gente! Meu Deus”.
Então, no último mês, fui para São Paulo, cheguei no hotel, olhei pela janela, virei para meu marido e disse: “João, olha isso! Acho que Sinop inteira caberia nestes prédios enormes que vemos pela janela!!”. Na sequência, saímos para jantar. Estava uma chuva danada e, naquele trânsito de “Sampa”, me deu uma agonia e eu disse “Nossa, João, mas é muito carro! Como é que pode né?”.
Pela praticidade, decidimos ir ao shopping. Ao chegar, minha reação: “É muita gente neste shopping! Parece um formigueiro”. Então, meu marido me caçoa: “Mariane, parece que eu trouxe a caipira para passear na ‘capitar’… parece que você nunca viu gente”. A pergunta que deixo para você, que está lendo este texto, é: você tem noção da importância do consumidor das grandes cidades para o seu negócio?
Com o apoio de uma grande amiga e analista de mercado, Marianne Tufani, tentei ilustrar como a população das grandes cidades é importante para a nossa cadeia. Apenas a região metropolitana de São Paulo consome 11% do total de carne bovina produzida no Brasil. Se considerar a população das outras regiões metropolitanas, capitais e municípios com mais de um milhão de habitantes, estamos falando em 30% do consumo nacional. Isto equivale ao abate do estado de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e metade do abate de Goiás. Os três maiores estados produtores de carne bovina!
Será que estamos dando a devida atenção a estas pessoas? – Quando chegamos ao shopping (a história que estava te contando no início do texto), busquei um restaurante por quilo – uma franquia que você pode encontrar praticamente em todos os shoppings do Brasil. O buffet tinha, em destaque, um bife de picanha, feito na chapa. Fui nele! Adivinha? CARNE DURA, mas MUITO dura! Foi uma experiência muito desagradável, para não dizer frustrante.
Imediatamente tive dois pensamentos: o primeiro foi “devia ter pego frango” e o segundo “Bom, mas se eu quisesse ter comido carne boa devia ter ido em um lugar especializado”. Como pecuarista, me envergonho dos dois pensamentos. No entanto, acredito que estes pensamentos sejam comuns às pessoas que vivem nas metrópoles.
Ainda que o consumidor das grandes cidades seja, de longe, o público mais relevante para a nossa produção nacional, não estamos dando a devida atenção para ele. Imagino que eu não tenha sido a única a degustar aquele bife duro, não é? Você já pensou que são experiências como esta que têm feito com que algumas pessoas mudem seus hábitos de consumo e migrem para o frango?
Eu, particularmente, não acho que a redução do consumo per capita de carne bovina tenha sido apenas resultado da crise econômica. Imagino, inclusive, que a busca por uma carne de melhor qualidade explique o abate recorde de novilhas. Estas pessoas que comem este “bife duro” podem estar reduzindo o volume de carne bovina consumida total, e optando por um corte melhor aos finais de semana.
Não estamos dando a devida atenção àqueles que consomem pelo menos 30% do total na nossa produção. Estes consumidores não podem ter os dois pensamentos que eu tive! Em relação à carne dura: felizes os americanos que conseguiram transformar carne “fora de padrão”3 em hambúrguer! E eles adoram hambúrguer.
Mas, há outro ponto importante: nós, pecuaristas e pessoas da cadeia da carne bovina, precisamos conectar os nossos maiores consumidores com a produção, com o meio rural: Vamos dar mais atenção à população das cidades, levá-los, de alguma forma, a ter contato com a produção, compreender como ela é feita.
É uma missão que todo produtor precisa ter consigo. Adoro a ideia do meu amigo Beto Zillo: precisamos fazer mais churrascos no meio da Avenida Paulista. Precisamos trazer estas pessoas para “sujar a botina”, só assim entenderão o quanto de suor, esforço, dedicação, empregos gerados, sustentabilidade e tantas outras coisas positivas têm em cada bife.