Por aliar precocidade com produtividade, a cultivar de girassol BRS 323 está cada vez mais sendo usada pelos produtores rurais como opção de cultivo na segunda safra no Cerrado, geralmente plantada em fevereiro. “Colhi o girassol aqui na fazenda 40 dias antes do milho safrinha”, conta o consultor da fazenda Santa Brígida, em Ipameri (GO), Roberto de Freitas. “Plantamos de forma experimental essa variedade por duas safras seguidas, obtendo produtividade de até 2.360 kg/ha numa faixa de quatro hectares. Nessa safra 2018/20019, apostamos na tecnologia e plantamos comercialmente”, relata.
Os quatro hectares plantados inicialmente na Fazenda Santa Brígida se transformaram em 98 ha nessa safra e a colheita será feita no final deste mês de junho. “A cultura do girassol está crescendo na nossa região. Considero essa uma ótima opção para a diversificação de cultivos. E a semente da cultivar BRS 323 ainda tem o diferencial de ser 42% mais barata”, conta o consultor da fazenda, que também acompanha lavouras de girassol em outras propriedades da região. Ao todo foram plantados em torno de 450 ha do híbrido da Embrapa.
“Ao utilizar a BRS 323, o produtor consegue antecipar em até 20 dias a colheita, já que ela pode ser colhida com 100 dias da semeadura”, afirmou o pesquisador da Embrapa Cerrados, Renato Amabile, coordenador da região Centro-Oeste da Rede Nacional de Pesquisa de Girassol. Segundo o especialista, a crescente opção dos agricultores por essa cultura não é gratuita. “O que está ocorrendo agora é fruto de anos de trabalho de pesquisa. Desenvolvemos sementes mais resistentes ao clima seco e técnicas de manejo mais apropriadas que, aliadas ao potencial do mercado, contribuíram para despertar o interesse dos produtores da região pelo produto. A BRS 323 é a única opção de resistência, no mercado, ao nematoide de galhas (Meloidogyne javanica)”, explica Amabile.
A cultivar foi obtida a partir do programa de melhoramento de girassol, coordenado pela Embrapa Soja (Londrina/PR), em parceria com outras unidades da Embrapa, como a Embrapa Cerrados (Planaltina/DF). “Para garantir a expansão desta cultura de forma estável e competitiva, é imprescindível a disponibilidade de cultivares com características adequadas para atender aos diferentes sistemas de produção. Essa expansão está intimamente ligada ao melhoramento genético, uma vez que as condições edafoclimáticas no Brasil são diferentes das encontradas nos países que tem como tradição o girassol e, por consequência, os genótipos introduzidos precisam ser adaptados”, explicou Amabile. Em 2019, a Embrapa lançou o seu novo híbrido, o BRS 422 para atender a demanda crescente do girassol e pela sociedade rural brasileira.
Originário da América do Norte, o girassol é a quarta oleaginosa mais plantada no mundo, respondendo por 13% de todo óleo vegetal produzido. No Brasil, a área cultivada na safra 2018/2019 foi de 65,8 mil hectares, com produtividade estimada pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) em 1.763 kg/ha. O estado do Mato Grosso é o maior produtor do país, com cerca de 40 mil ha e Goiás com 21 mil ha. As sementes de girassol podem ser utilizadas para extração de óleo de alta qualidade para o consumo humano ou como matéria-prima para produção de biodiesel. A torta ou farelo, obtidos a partir do processo de extração, possui alto valor proteico e são usados na produção de ração animal.