O mês de abril foi marcado por chuvas acima da média em grande parte da região agrícola do Brasil, com volumes acumulados superiores a 380 mm (Mapa 1). As maiores chuvas foram observadas na região norte do país, com volumes variando de 240 a 380 mm no Pará, Maranhão, Tocantins e Piauí. Nos estados do Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Bahia o volume acumulado de chuva não superou 60 mm.
No sul do Rio Grande do Sul e em algumas regiões dos estados do Mato Grosso do Sul e Bahia, o armazenamento de água do solo variou de 15 a 45%, dificultando o bom desenvolvimento das lavouras. Nas regiões norte do Mato Grosso, Tocantins, Maranhão e Piauí, assim como em grande parte do Pará, o armazenamento de água no solo manteve-se acima de 90% (Mapa 2).
As temperaturas máximas oscilaram entre 27 e 33°C no Norte, Nordeste e Centro-Oeste do país, enquanto que no Sul as temperaturas amenas já refletiram a mudança de estação. As mínimas ficaram abaixo de 16°C em boa parte do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul (Mapa 3 e 4).
Tempo e agricultura brasileira
O volume regular das chuvas no mês de abril favoreceu as lavouras de milho 2ª safra no Paraná e Mato Grosso do Sul, revertendo um quadro desfavorável iniciado no final de março nessas regiões. No Mato Grosso, as lavouras de milho estão na fase de pendoamento e crescimento vegetativo. A expectativa de produção é alta por causa das condições de tempo favoráveis desde a semeadura da cultura nesta safra.
As chuvas de abril também trouxeram otimismo para os produtores de trigo no Paraná. Apesar da redução na área plantada, a expectativa é de incremento de 18% na produção estadual em relação à safra anterior decorrente do aumento de produtividade neste ano.
O bom volume e distribuição de chuva na primeira quinzena de abril dificultou a colheita e transporte da cana-de-açúcar na maior parte da região Centro-Sul do país, acarretando no aumento do preço do etanol. Entretanto, o tempo firme da segunda quinzena permitiu o início da safra em diversas usinas da região.
A colheita do café teve início no Paraná e Minas Gerais, maiores produtores nacionais. Os produtores mineiros, porém, tiveram problemas com o excesso de chuva que impactou as atividades de campo e o beneficiamento, com queda na qualidade do produto.
O calor e a alta umidade favoreceram a ocorrência de doenças de solo na região de São Gotardo-MG. Essa condição, por sua vez, reduziu a qualidade e o tamanho das cenouras, elevando a taxa de descarte e com consequente aumento de preços do produto ao longo do mês. Quadro semelhante foi observado nas zonas produtoras de batata de Santa Catarina, Goiás e Paraná, com queda na qualidade e produtividade, refletindo no aumento de preços.
Safra 2019/20 de soja na região do MATOPIBA
A safra de soja 2018/19 na região do MATOPIBA teve início com condições meteorológicas favoráveis para o desenvolvimento das lavouras e com incremento de 1,8% na área plantada, explicando a expectativa inicial por parte dos produtores de uma safra recorde neste ano. Até a primeira quinzena de abril a área colhida registrada na região foi inferior a 60%. A estiagem que ocorreu entre dezembro e janeiro, contudo, prejudicou o desenvolvimento das lavouras com efeito sobre a produtividade. Em fevereiro, o retorno das chuvas em algumas regiões do Tocantins e Piauí acarretou prejuízos por alagamento, enquanto em algumas regiões do Oeste baiano o veranico foi prolongado por mais de 40 dias estendendo-se até o início março.
O Coeficiente de Produtividade Climática (CPC) gerado pelo Sistema TEMPOCAMPO, da Escoa Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), indica que as maiores perdas ocorreram na região sul do Tocantins e oeste da Bahia, onde o período de estiagem foi mais prolongado e acarretou em quebra de produtividade de até 19%. Destaca-se a região norte do Maranhão e Piauí, onde as chuvas foram melhor distribuídas, onde espera-se ganhos produtivos de 3 a 30% em relação à safra 2017/18, considerando o cenário intermediário (Mapa 5).
Ainda, segundo o Sistema TEMPOCAMPO, a produtividade média dessa região deverá variar de 3,2 a 3,3 t ha-1, considerando os cenários pessimista e otimista, respectivamente. Isso representa uma queda de 6 a 8% em relação a produtividade da safra 2017/18 reportada pela Conab. As maiores produtividades são esperadas no norte dos estados do Maranhão e Piauí, onde a produtividade variou de 3,4 a 3,6 t ha-1, pelo cenário intermediário (Mapa 6).
Assim, a produção prevista pelo Sistema TEMPOCAMPO para a safra 2019/20 de soja para a região do MATOPIBA ficará entre 13,8 a 14,2 milhões de toneladas, considerando os cenários pessimista e otimista, respectivamente. Esses valores se assemelham ao estimado pela Conab (13,4 milhões de toneladas) e são superiores ao divulgado pelo APROSOJA (11,6 milhões de toneladas) para a safra atual. Essa previsão representa uma queda de 5,06 a 7,69% em relação à produção da safra 2017/18 reportada pela Conab. As maiores perdas são esperadas no estado da Bahia, maior produtor da região, podendo chegar a 20% se o cenário mais pessimista se concretizar.