Dados finais da safra 2018/2019 na região Centro-Sul indicam 573,07 milhões de toneladas de cana-de-açúcar processadas entre 1º de abril de 2018 e 31 de março de 2019. Este resultado representa uma redução de 3,90% sobre as 596,33 milhões de toneladas registradas no ciclo 2017/2018.
Para o diretor técnico da UNICA, Antonio de Padua Rodrigues, “a queda na moagem ficou aquém do esperado pelo mercado após mais de 100 dias de clima seco observados a partir do final de março de 2018”. A reversão ocorreu porque as chuvas antecipadas na primavera reduziram a quebra de produtividade agrícola esperada para o último terço da safra, garantindo maior disponibilidade de matéria-prima, acrescentou o executivo.
Entre os Estados do Centro-Sul, o maior recuo na moagem foi observado em São Paulo, que registrou queda de 6,68% (333,29 milhões de toneladas na safra 2018/2019, ante 357,14 milhões no ciclo passado).
“A retração da oferta paulista se deve à menor produtividade agrícola, com queda de 3,84% e rendimento de 73,40 toneladas de cana por hectare, e à redução na área de colheita, estimada em cerca de 140 mil hectares”, explicou Rodrigues.
A produção final de etanol no Centro-Sul atingiu impressionantes 30,95 bilhões de litros, recorde histórico de oferta para o renovável. Trata-se de uma alta expressiva de 18,63% sobre o volume da última safra (26,09 bilhões de litros) e crescimento de 9,67% na comparação com o recorde anterior de produção, verificado na safra 2015/2016 (28,22 bilhões de litros).
O maior destaque na safra 2018/2019 foi o crescimento na produção de etanol hidratado. Mesmo com a retração no volume de cana-de-açúcar, as unidades produtoras ampliaram a oferta do renovável em mais de 6 bilhões de litros.
Do volume total produzido, 9,14 bilhões de litros foram de etanol anidro e 21,81 bilhões de litros de etanol hidratado – este último, com aumento de 39,17% em relação aos 15,67 bilhões de litros registrados no ano safra anterior.
A produção de etanol de milho cresceu 50% na comparação com o volume produzido na safra 2017/2018, somando 791,43 milhões de litros.
Para o diretor da UNICA, “os dados da safra 2018/2019 mostram a capacidade de resposta da indústria de etanol quando existem estímulos na direção correta”. Os números também deixam claro que o setor é capaz de atender o crescimento de produção previsto para os próximos anos, pois “o volume fabricado nessa safra equivale a meta esperada para o Renovabio em 2024”, acrescentou Rodrigues.
A produção final de açúcar, por sua vez, atingiu 26,50 milhões de toneladas na safra 2018/2019, queda de 26,51% sobre as 36,06 milhões de toneladas registradas no ciclo passado.
Esse recuo de 9,56 milhões de toneladas na fabricação de açúcar reflete a intensa alteração no mix de produção pelas unidades do Centro-Sul. Com efeito, na safra 2018/2019 a proporção de cana direcionada à fabricação de açúcar atingiu 35,20%, contra 46,46% apurados no mesmo período do ciclo 2017/2018.
“Essa mudança no mix evidencia a vantagem competitiva do setor sucroenergético brasileiro, sem comparação com outra região produtora de açúcar do mundo e que permite um melhor gerenciamento de risco de preços pelas usinas”, concluiu Rodrigues.
Em relação ao número de unidades em operação no Centro-Sul, levantamento da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (UNICA) indica 267 plantas com produção em 2018/2019.
Qualidade da matéria-prima e produtividade agrícola
No acumulado da safra 2018/2019, o teor de Açúcares Totais Recuperáveis (ATR) alcançou 137,87 kg por tonelada de matéria-prima, o maior índice desde o ciclo 2010/2011. No comparativo com o resultado apurado para 2017/2018 (136,59 kg por tonelada de cana-de-açúcar), houve um aumento de 0,94%.
Esse aumento na concentração de açúcares por tonelada foi fundamental para compensar a retração na quantidade de cana-de-açúcar processada na safra 2018/2019. Assim, apesar da queda de 3,91% na moagem, a produção total de ATR na safra diminuiu apenas 3,01%.
Em relação aos dados de produtividade agrícola, informações levantadas pelo Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) indicam que o rendimento da lavoura colhida atingiu 73,34 toneladas por hectare na safra 2018/2019, redução de 3,31% frente às 75,85 toneladas por hectare observadas em 2017/2018.
Produção e moagem na 2ª quinzena de março de 2019
Na 2ª metade de março de 2019, a moagem na região Centro-Sul alcançou 7,02 milhões de toneladas, com 137,33 mil toneladas de açúcar fabricados. Já a produção etanol totalizou 380,40 milhões de litros, sendo 38,62 milhões de litros de etanol anidro e 341,78 milhões de litros de etanol hidratado.
O volume de etanol hidratado reprocessado (etanol anidro reprocessado e convertido em etanol hidratado) atingiu 24,5 milhões de litros, enquanto a produção de etanol de milho somou 46,38 milhões de litros.
Sobre o número de unidades em safra, 81 plantas registraram produção na região Centro-Sul até 31 de março de 2019, sendo 73 unidades com processamento de cana-de-açúcar e 8 plantas produzindo etanol de milho. Esse número é praticamente idêntico aquele observado na mesma data de 2018 (82 empresas). Até o final da primeira quinzena de abril deste ano, o número de unidades em operação deve atingir 176 empresas.
“As chuvas observadas nas últimas semanas comprometeram a operacionalização da colheita, mas devem permitir um melhor desenvolvimento do canavial que será colhido nos dois terços finais de safra”, acrescentou Rodrigues.
Vendas de etanol
No agregado da safra 2018/2019, as vendas de etanol totalizaram 31,08 bilhões de litros, alta de 17,53% quando comparada aos 26,44 bilhões de litros comercializados no ciclo 2017/2018. Desse volume, 1,63 bilhão de litros foram direcionados à exportação e 29,44 bilhões de litros ao mercado interno.
Com isso, a balança comercial de etanol na safra 2018/2019 apresentou exportação líquida de 287 milhões de litros com um saldo positivo na geração de divisas de US$ 304 milhões, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (SECEX).
No mercado doméstico, as vendas de etanol hidratado se destacaram, somando 20,90 bilhões de litros, com aumento de 34,84% sobre àquele apurado no ciclo 2017/2018 (15,49 bilhões de litros). As vendas de etanol anidro, em sentido contrário, diminuíram 9,48%: 8,54 bilhões de litros na safra 2018/2019 contra 9,43 bilhões de litros no ciclo anterior.
Especificamente na segunda quinzena de março, o volume de etanol anidro comercializado domesticamente atingiu 447,43 milhões de litros, expansão de 10,75% sobre o mesmo período do último ano.
“Esse comportamento observado no final de março decorre, muito provavelmente, da recomposição de estoques pelas distribuidoras para atendimento da Resolução ANP nº 67/2011 e do maior volume de anidro encaminhado para consumo na região Norte-Nordeste”, explicou Rodrigues.
Já as vendas de etanol hidratado na última metade de março alcançaram 851,51 milhões de litros, com aumento de 19,20% em relação aos 714,35 milhões de litros apurados na mesma quinzena de 2018.
Segundo o executivo, “as vendas do renovável só não foram maiores devido a antecipação das compras pelas distribuidoras no final de fevereiro e a maior dificuldade para a retirada de produto no final do mês”.
Rodrigues explica que “geralmente as vendas de hidratado diminuem na entressafra e a demanda demora várias semanas para se restabelecer após o início da moagem”. Nesse ano, entretanto, o executivo esclarece que o volume comercializado do renovável continuou alto em março e devemos trabalhar com um mercado aquecido desde a primeira semana da safra 2019/2020.
A saber, informações publicadas pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e compiladas pela UNICA mostram uma queda média, ao longo da semana passada, de R$ 0,07 por litro no preço do etanol praticado pelos postos de combustíveis no Estado de São Paulo.
Rodrigues faz a ressalva de que “nos últimos dias a queda de preço do hidratado que estava sendo observada no produtor foi interrompida em decorrência das chuvas e da maior dificuldade de colheita”. Os estoques de passagem, entretanto, ainda oferecem plenas condições para o abastecimento regular do mercado doméstico no mês de abril, acrescentou o executivo.