O Egito afrouxou as regras sanitárias para a compra de frango e a medida já anima os exportadores brasileiros, que passam a ver o país como um destino mais promissor para o produto no momento em que a Arábia Saudita, o maior comprador, reduz os embarques para estimular a produção local.
O ministério da agricultura egípcio emitiu em março decreto que desobriga a inspeção de lotes de frango do abate até a entrega no porto de embarque por veterinários licenciados no país, regra que passa a valer para todos os membros da Organização Mundial de Epizootias, entre eles o Brasil.
Na prática, a decisão vai diminuir a burocracia e baratear o custo do frango que chega ao Egito, uma vez que a inspeção sanitária era bancada pelos frigoríficos. “A decisão, resultado de um intenso trabalho setorial envolvendo a Câmara Árabe, a Abiec, a ABPA, a Fambras e a Embaixada do Brasil no Egito, traz uma nova perspectiva para o comércio com o país”, afirma o presidente da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, Rubens Hannun.
O Egito é hoje o principal parceiro comercial do Brasil no mundo árabe após ter superado em 2018 a Arábia Saudita com importações de US$ 2,13 bilhões. Também é o terceiro mercado para a carne bovina brasileira no mundo, em grande parte graças aos pedidos de seu Exército, que é o maior cliente individual dos frigoríficos brasileiros de bovinos no mundo árabe, com pedidos regulares para alimentar a tropa e fazer distribuição de alimentos à população de baixa renda.
No frango, no entanto, o comércio é ainda bem tímido e, para Hannun, pode ser mais bem explorado. Em 2018, o Egito foi o 23º mercado para a ave brasileira no mundo. As vendas do produto ao país somaram apenas US$ 76,2 milhões, menos de um décimo do total vendido à Arábia Saudita, por exemplo.
O presidente da Câmara Árabe estima em ao menos 10% a redução no custo do frango a partir da flexibilização das regras sanitárias. A estimativa considera a diária de US$ 200 dólares paga a cada veterinário egípcio, mais custos com viagem e estadia, durante os 40 dias que ficam em média no Brasil.
Ele também ressalta o potencial do Egito como mercado consumidor. O país é o mais populoso da Liga Árabe, com 97 milhões de habitantes, e o que apresenta uma das maiores taxas de natalidade. Além disso, passa por um rápido processo de urbanização, cujos sinais incluem um significativo aumento do consumo de proteínas semi-processadas, cada vez mais acessíveis à população.
“Há pouco tempo, a maioria dos egípcios consumia proteína local de asininos. Hoje o dianteiro bovino está bem presente nos supermercados e o acesso ao nosso frango acabou de ficar mais fácil, agora que uma barreira importante deixou de existir”, analisa Hannun.
A flexibilização das regras sanitárias pode representar ainda uma oportunidade para os frigoríficos de aves brasileiros compensarem ao menos em parte a recente perda de espaço na Arábia Saudita, mercado que historicamente lidera as compras de frango desde os anos 1980.
A Arábia Saudita vem investindo para diminuir a dependência do frango importado, em plantas subsidiadas e na aquisição no exterior de empresas de alimentos, com ajuda de seu fundo soberano. A meta é até 2030 é importar até 40% da demanda. Hoje esse percentual chega a 70%.
Em janeiro, o país desabilitou cinco frigoríficos de aves no Brasil como parte da estratégia de priorizar a produção local. Antes, já havia imposto sobretaxa ao frango e endurecido as regras para aceitação do certificado halal do frango brasileiro, selo que garante o abate das aves conforme os preceitos do Islã.
No mês seguinte, uma comitiva brasileira foi à Riad tentar reverter a decisão, mas ainda aguardam o anúncio de uma missão veterinária ao Brasil para nova inspeção.