Por Julio Lage – O tom de cordialidade na visita do presidente Bolsonaro ao presidente Trump irá refletir efetivamente em negócios. A verdade é que o comércio internacional de Brasil X EUA é completamente favorável ao EUA. O déficit comercial na balança é enorme e as importações superam com folga as exportações. Há um espaço enorme para buscar e o Brasil sabe que tem que diminuir esta disparidade. Neste aspecto essa aproximação pode sim ser bastante positiva.
Outra oportunidade importante são os investimentos americanos direcionados à América Latina. Como nos últimos anos o grande parceiro dos Estados Unidos foi o México, e recentemente o país passou a ser liderado por um governo de esquerda, com fortes propostas e ações anti-mercado, fez com que aumentassem as restrições de investimentos ao México. O muro do Trump é também uma questão que vem deteriorando ainda mais a relação entre os dois países. Com isto, países na região como Colômbia, Chile e Brasil estão disputando o posto de “queridinho” dos EUA.
Por outro lado, uma das principais empresas exportadoras para os EUA, a Embraer, recentemente fez um acordo comercial com Boeing e ainda é incerto as consequências nas operações da empresa brasileira. Deixar de contar com esta produção nacional e transferir fábrica para os EUA seria um desastre para a balança comercial entre os dois países. A aproximação pode determinar uma maior confiança mútua, reduzindo os riscos mencionados acima. Além disso, aeronaves militares e jatos leves, que ficaram fora da fusão em um primeiro momento, têm grande espaço para incremento de vendas nos EUA.
O comércio com os Estados Unidos precisa também de incremento na venda de produtos manufaturados, tais como o aço e outros. Cair às barreiras é muito positivo para economia brasileira.
Quais são os desafios?
Um primeiro desafio é que alguns setores da economia nos EUA são extremamente protegidos pelos congressistas americanos e mudar as regras não dependem exclusivamente do presidente ou de atuação diplomática.
Outro fato é que a aproximação deveria ser feita mais institucional e não por ideologias pessoais. Não podemos esquecer que Trump, internamente, também sofre fortes rejeições não só do partido de oposição (democrata), mas também do partido aliado (republicanos). Também há uma investigação que cada dia avança na direção de responsabilizar o presidente Trump e, apesar de remota neste momento, a possibilidade de impeachment existe.
O Brasil divide a vitrine com outras nações que disputam investimentos. Neste contexto, ter a simpatia do governante americano é algo que neste momento é fundamental. Redução de barreiras comerciais e incremento dos investimentos diretos são muito bem-vindos. O caminho é este mesmo: sorriso e “tapinha nas costas”, mas saber muito bem o que precisamos.
(*) Julio Lage é sócio e CEO do grupo Belvedere