Busca constante por maior eficiência e lucratividade, e cuidados redobrados no manejo reprodutivo. Com essa filosofia, um produtor alagoano vem alcançando excelentes resultados na produção de matrizes Nelore.
É em um ambiente afastado, seco e bastante quente, localizado no município de Chã Preta, em Alagoas, que a história de Paulo Jacinto do Nascimento é contada todos os dias. Ele é advogado desde meados dos anos 80, e há 27 anos resolveu ter como atividade paralela a pecuária. “Por ser oriundo de família com atividade no campo investi na Fazenda Costa Rica, comprando 150 ha de terra. E pela amizade com meu vizinho que já criava boi na época, resolvi criar vacas, para não atrapalhar a atividade dele”, declara. Dessa forma, o produtor se entusiasmou com a nova função e criou seu próprio grupo, que hoje conta com cinco mil hectares e quatro mil animais, divididos em cinco fazendas.
Ele conta que o pai era agricultor e também trabalhava com pecuária de leite, da raça Guzerá, no município de Agrestina (PE), e dessa forma o vínculo com o agronegócio sempre existiu. “Tive esta conexão com o campo desde cedo, e somada a vontade de me espelhar em meu velho e ser o que ele foi, cada vez mais invisto e atuo na pecuária nacional. A vocação para ser produtor tenho no sangue”. Nascimento trata cada propriedade como uma em presa diferente, com faturamentos e gastos dentro daquilo que pode suportar. “Não tiro dinheiro da advocacia para tapar buraco de fazenda, e nem vice-versa. O meu lucro como advogado só entra na pecuária para investir em novas propriedades. Mas a manutenção, mão de obra, entre outros pontos, cada fazenda sobrevive sozinha, por suas próprias contas”, diz o produtor.
Contar com quem conhece do assunto
Este modo de agir do pecuarista vem de um longo caminho de aprendizado pelo qual passa desde seu primeiro dia na atividade. Segundo Nascimento, no começo de sua vida de produtor foi bem assessora-do e isso fez toda a diferença. “Contei com a ajuda do Dr. Fred Andrade, veterinário renomado do Estado, e quando ele se ocupou com outras atividades de cunho gerencial, tive o prazer de conhecer o Marcelo. E vivemos bem hoje, pois nas dificuldades que tenho do ponto de vista técnico, ele me supre”, declara.
Marcelo Araújo da Silva, veterinário formado em 2010, que trabalha com consultoria e assistência técnica, principalmente em Alagoas, Pernambuco e Sergipe, e há dois anos dá suporte nas fazendas do Grupo PJ. “Desde que entrei começamos a mensurar alguns dados e sentimos a necessidade de trabalhar os índices zootécnicos, não só em reprodução”, diz. Dessa forma, o profissional visita as cinco propriedades num período que pode ser semanal ou quinzenal, prestando auxílio técnico e consultoria na coleta de dados.
Nas escolhas e direcionamentos dos investimentos a serem feitos nas propriedades, Silva diz que o veterinário também vive de produção, então junto do produtor tem que focar no que existe de melhor. “Hoje o grande lance é produzir mais, em menos áreas, aumentando a produtividade. E para isso acontecer, é preciso elevar o uso de tecnologia”. Ou seja, segundo ele é fundamental estar de olho no mercado para saber o que de melhor há para se adicionar aos trabalhos a campo.
Em sanidade, um dos pilares do bem-estar animal, por exemplo, o trabalho tem que ser preventivo e as fazendas do grupo trabalham com protocolo sani-tário. “Antes da estação de monta de cada lote fazemos as vacinas reprodutivas, e montamos um calendário sanitário para os bezerros”, declara o veterinário. Além disso, ele conta que em todas propriedades que trabalha com gerenciamento, tanto financeiro, quanto zootécnico, a sanidade representa de dois a três por cento do custo de produção. “No meu ponto de vista é onde o gestor da propriedade tem que mexer para incrementar a produção, que é o que sentimos aqui com os resultados reprodutivos e as tecnologias aplicadas”.
Nascimento conta que, da época em que começou a atividade até hoje, muita coisa mudou. “Em 1991 eu tinha monta natural e comprava os reprodutores no Estado. Hoje temos nas fazendas não mais que 50 reprodutores graças a Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF)”. Com isso, a tecnologia também chegou e o produtor conta com a ajuda de parceiros que fornecem materiais para este trabalho, além dos incentivos de produção que as demais técnicas trazem.
O produtor se mostra de fato satisfeito com este tipo de inseminação, uma vez que percebia que a monta natural era de difícil controle durante o ano inteiro, além de não conseguir medir corretamente a produtividade e a qualidade do rebanho. “Com a IATF conseguimos fazer isso, além de dimensionar quais são as vacas produtivas, o que no ganho genético é bastante valioso”, declara. Hoje os bezerros do grupo são de qualidade, reconhecidos por todo Estado como um bom produto. “Conseguimos vender cerca de 90% de toda produção em Alagoas mesmo, o que nos gera uma reputação e uma clientela que espera nossos animais nascerem”.
O empresário rural e seus desafios
Fernando Dambrós, gerente de produtos da Boehringer Ingelheim Saúde Animal, comenta que estamos tendo nos últimos anos a profissionalização da pecuária, e com isso, o que antigamente era visto só como custo, hoje em dia é visto como investimento. “Em cima disso, o próximo passo é melhorar a mensuração, calcular o retorno que se tem. Por exemplo, se investir em tecnologia e ter aumento da taxa de prenhes, ou a prenhes mais cedo, aumenta-se o fluxo de caixa do pecuarista”. O executivo diz que essa é uma tendência, seja na pecuária de corte, ou leite, e que é preciso que o produtor faça as contas para comprovar que o que ele está investindo, tem retorno.
Mesmo com o retorno aparecendo, Dambrós declara que atualmente os pecuaristas têm passado por um grande desafio dentro das fazendas, que é a dificuldade do diagnóstico. “No que se refere a sanidade, nos deparamos com os produtores se perguntando se tem determinados tipos de doenças na propriedade, e para isso existem algumas ferramentas de análises que os ajudam nessa questão”, diz. Ao mesmo tempo é necessário mensurar o resultado para ver quanto de sanidade ele pode incrementar para aumentar a produtividade. “Sabemos que diante dos custos que há em uma propriedade, a sanidade representa muito pouco, e ao mesmo tempo é o investimento que mais dá retorno ao final do trabalho, considerando todos os pontos existentes no universo do bem estar animal”, declara o gerente.
Dentre estas doenças que podem atrapalhar a vida econômica dos fazendeiros está a Diarreia Viral Bovina (BVD), e seu controle é uma jornada que o pecuarista tem que percorrer dentro da fazenda. O primeiro passo é a identificação, diagnosticar se ele tem ou não esse problema. “Isso pode ser feito através de exames laboratoriais e análise de alguns indicadores, tais como repetição de cio, morte embrionário precoce, aborto ou até mesmo diarreias e pneumonias em bezerros recém-nascidos”, explica Dambrós. De posse desses dados fica mais fácil ir para o próximo passo, que é o cálculo do investimento e o retorno que ele pode ter com a implementação de uma vacinação efetiva na propriedade.
Em busca de maior produtividade, a Fazenda Costa Rica deu início a este combate e viu que a doença poderia ser um problema maior que o imaginado. “A presença do vírus foi confirmada através da sorologia e mesmo fazendo uma vacina inativada eles resolveram apostar na tecnologia L2D (viva duplamente deletada, em português) e introduziram Bovela no protocolo sanitário”, declara.
Os resultados já estão sendo colhidos agora e superaram as expectativas. Segundo o veterinário do Grupo PJ, acreditava-se que com o uso de uma vacina inativada se conquistaria a proteção do rebanho como um todo. “Porém, constatamos que ainda faltava um upgrade nos resultados, que oscilavam. A partir daí testamos o produto em três lotes, onde os resultados comparativos apontam melhora de 12%”, declara Silva. Ele conta que apesar de já estar colhendo os resultados, ainda irá tocar a re-sincronização e acompanhar até o desmame para ver o incremento da tecnologia na safra de bezerro como um todo. “O uso desta vacina ao que tudo indica será de fato importante para que possamos melhorar os resultados da fazenda e melhorar o acréscimo que já nos foi dado”. Já para Nascimento, é claro e evidente que seu objetivo junto do veterinário e consultor do grupo é produzir mais bezerro por hectare ano, aumentando a lotação e produzindo mais bezerros. “Estamos projetando as safras 2019 e 2020, contando com a utilização da tecnologia da Boehringer, atrás de mais dinheiro para nós e mais animais disponíveis para o mercado”.
Texto: Bruno Zanholo • Fotos: Leandro Maciel de Souza