Agricultura

Quanto mais proteção, melhor

A adoção de práticas regulares de controle de pragas e doenças na lavoura de hortifrúti é medida que garante ao produtor manter a regularidade em sua produção.

Estar atento às necessidades que a plantação requer, e tomar as decisões corretas, passam a ser os principais passos para àquele produtor que almeja ter uma alta produção e produtividade. Em cima disso, realizar o manejo correto dos cultivos é parte enraizada nesse processo, independentemente do setor agro em que se atua. No universo das hortaliças, por exemplo, o combate às pragas e doenças que assolam as lavouras é necessário desde o primeiro segundo do plantio.

E dentro disso, segundo Fernando Guimarães, responsável pelo negócio hortaliças da Monsanto, o tomate é a cultura que tem mais detalhes no manejo. “São diversas pragas e doenças que atacam, principalmente no cultivo a campo aberto. Tem os fungos de solo, viroses, entre outros”. Dessa forma, segundo ele, a ideia do cultivo protegido é exatamente de ter um melhor controle destes inimigos. “Cria-se um microclima apropriado para o cultivo da fruta, o que favorece o manejo do produtor”, declara.

A necessidade das práticas de controle se dão uma vez que os prejuízos causados por elas vão desde a quantidade do que pode ser produzido numa área, até as perdas financeiras de fato. “Há viroses que prejudicam as vezes 10% da produção do tomateiro, por outro lado, há doenças que podem fazer com que simplesmente o produtor não consiga produzir nada”. Segundo Guimarães, a almofadeira, é um dos mais severos problemas que o tomateiro encontra atualmente nos campos. “Não posso deixar de lembrar também da mosca branca, que tem alto índice de presença nas lavouras brasileiras, e que disseminam o geminivirus”.

A partir daí vem o trabalho do combate, propriamente dito, e o responsável comenta que nunca indica uma solução única que seja milagrosa para os produtores. “Procuramos vir com o manejo integrado de pragas do tomateiro. Então, primeiramente temos que ter uma planta bem nutrida, para mantê-la sadia, com bom preparo de solo”, diz. A forma de se fazer a irrigação também é importante, pois ela de forma controlada vai influenciar no final. Outro ponto é a utilização dos produtos biológicos, realidade já utilizada no Brasil, tal qual os químicos, que são necessários no controle de hortaliças. “Com base no monitoramento, o agricultor tem que aplicar apenas quando há necessidade”. Mais um ponto que entra nesta “fórmula mágica” de manejo, fica por conta da genética, onde há híbridos resistentes. “Ou seja, não é algo único e sim uma junção de todos estes fatores, para que assim se tenha um controle mais efetivo do tomateiro”, comenta Guimarães. Para ele, todas as fases necessitam de atenção detalhada dos tomateiros, porém, é mais difícil o controle à medida que uma virose, por exemplo, avança num cultivo principalmente na planta jovem, em sua fase inicial, que é onde afeta mais a produtividade. “De qualquer forma o manejo tem que ser integrado, sempre monitorando para ver quais as medidas que devem ser tomadas afim de evitar perdas”. Guimarães diz que cada vez mais os produtores estão mais conscientes disso e na prática vão entendendo as vantagens de conduzir bem suas áreas. “Os homens do campo têm um nível técnico e de especialização grande, e sabe que precisa produzir independentemente do preço que irá conseguir vender a mercadoria”. No cenário atual, o custo por quilo produzido é importante, e o agricultor tem que baixá-lo. Assim sendo, a melhor forma de se realizar isso é equilibrando bem o investimento e a produtividade. “O manejo bem feito vai otimizar o custo e o nível tecnológico da plantação”, declara.

Não é somente no tomate que tais cuidados e as dificuldades de manejo são grandes. A cenoura, por exemplo, também requer que o produtor esteja sempre alerta às necessidades da lavoura. Raphael Tozelli Carneiro, melhorista para cenouras tropicais da Seminis, diz que um dos grandes desafios desta hortaliça se dá na época do verão, que é chuvoso e quente, tornando-se assim propício a doenças. “Então o que trabalho hoje é doenças foliares, para que o produtor saiba o que fazer”, declara. Segundo ele, um outro desafio que tem aparecido recentemente são os nematoides, que tem afetado várias culturas e na cenoura também é realidade. “A rotação de culturas ajuda, junto a aplicação de produtos e aumentar a genética das cultivares, e é nisso que o produtor tem que focar”.

De nada adianta ter pesquisas e investimentos se no dia a dia o produtor não souber o que está acontecendo na lavoura. E se pensar em toda cadeia, uma quebra de safra ou produção, acarreta no preço mais elevado do produto na mesa do consumidor final, o que só embasa a importância que tem que se dar ao tratamento correto de hortifrúti no Brasil. Para o produtor de cenoura que quer ter uma produção saudável hoje, o melhorista diz que primeiramente é necessário apostar numa genética de confiança, entender as necessidades especificas da lavoura – isso vai de região para região. “Além disso, tem que estar atento aos sinais que a cultura vai apresentando, fazendo as aplicações corretas, respeitando os períodos de carência dos produtos e fazendo um manejo adequado, principalmente no que tange a rotação de culturas”, diz.

Na atualidade, Carneiro comenta que se pensarmos em termos de grandes produtores, o entendimento destas práticas está bastante difundido, principalmente sobre o que tange as consequências de um manejo incorreto. “Já nos pequenos produtores estamos caminhando e dando um passo de cada vez, porque nem todos ainda têm o entendimento propriamente dito, e os que tem, as vezes não sabem como colocar isso em prática”.

Oferta, demanda e custo

A hortaliça no Brasil trabalha muito com oferta e demanda, então o consumidor fica de certa maneira confuso quando vê um tomate com qualidade mais baixa, mas que tem o preço alto. “Isso se dá porque a oferta é baixa, e o mesmo acontece quando se compra um tomate de extrema qualidade, num preço baixo. Essa variação se dá mais no cultivo a campo aberto, principalmente por causa da chuva”, declara Guimarães. Já no cultivo protegido, com a o microclima adequado, a tendência é se manter a questão de oferta e demanda mais equilibrada, o que para o consumidor final também é vantajoso, pois ele irá comer uma hortaliça de qualidade, num preço cabível ao seu bolso.

Uma vez que a campo aberto o produtor esta suscetível ao clima e as pragas e doenças que podem entrar na lavoura, dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicados (Cepea), apontam que para um tomate indeterminado, redondo, que é o famoso tipo salada, os custos de produção estão próximos a R$ 110 mil por hectare. “Ou seja, é uma aposta grande para um risco alto. Além disso, no Brasil se planta diversos tipos de tomate, o que automaticamente nos traz diversos tipos de manejo e cuidados diferenciados, cada um com suas individualidades”. Para Guimarães, isso mostra o quão atento o tomateiro tem que estar e quão árdua é sua tarefa para que no fim das contas ele tenha alta produtividade, dinheiro no bolso e veja o consumidor feliz com o produto.

“O produtor brasileiro de tomate é bem especializado. Ele sabe com o que está trabalhando, conhece o que tem que fazer e entende as necessidades da hortaliça”, diz. Além disso, segundo ele, o agricultor tem conhecimento também do consumidor, seja os compradores diretos, os mercados, entre outros, e preza bastante pela qualidade que vai chegar aos clientes.

Danilo Brochensque, produtor de hortaliças na cidade de Itatiba (SP), comenta que realiza o manejo preventivo a base de fungicida, tratamento de solo, e com adubação para garantir boa produtividade e resultado satisfatório. “Vendemos para mercados no varejo, e precisamos entregar o melhor para eles, pois assim quem vai comprar estes produtos nos mercados, vai estar satisfeito também”, diz. Ele relata que de fato sem o manejo correto, há perda na lucratividade ao final do ciclo produtividade. “Visamos trabalhar no preventivo para evitar a entrada de doenças e assim não ver nosso dinheiro e investimento se perdendo ao longo da safra”.

Luís Carlos Garcia Pacheco, é produtor na região de Guapiara, também em São Paulo, no Sítio Areia Branca. Lá a produção é de tomate tipo mesa, além de cereja em ambiente protegido. Ele conta que a produção de seus cultivos orgânicos com manejo simples vem dando um resultado satisfatório. “Com os produtos liberados para orgânicos temos tido sucesso na luta contra mosca branca, traça, e broca, as principais pragas e doenças que atacam o tomate. Já no manejo químico, o controle é maior e se torna essencial para que tenhamos um resultado positivo no final”, comenta. Fornecendo para uma revenda especifica que trabalha somente com produtos orgânicos, e que distribui para o País todo, Pacheco se diz entristecido por ver que falta conhecimento e informação ao produtor para realiza o manejo correto na lavoura. “As revendas atualmente não estão preocupadas em informar e ensinar, e isso é um problema para nós produtores”, diz. Segundo ele, quando há um curso, busca participar, pois sabe que sairá de lá renovado, com informações que as vezes são simples, mas que podem mudar a estrutura da produção.

Projeto Mais

Visando mostrar aos produtores tanto de campo aberto, quanto os de estufa, a viabilidade da plantação em estufas hoje no Brasil, que pouca gente utiliza ainda, a Seminis tem o “Projeto Mais”. Cláudio Silveira, representante técnico de vendas da empresa, diz que o produtor pode fazer diversos tipos de investimentos nesse sentido, escolhendo com quantos módulos ele pode iniciar a jornada neste tipo de produção. “Os custos são diversificados, e vai de acordo com a necessidade do produtor”. Já quanto a viabilidade do retorno do investimento, a previsão é de dois anos e dez mês de média. “Consideramos este um tempo bastante baixo, visto o módulo a campo aberto que é o que costumeiramente se utiliza no País”, declara.

No Brasil, como se sabe, a grande maioria de tomate é produzida a campo aberto, onde além das condições climáticas, o ataque de pragas e doenças é maior e de difícil controle. “Para mudar esse cenário e fazer com que a produção em estufas seja uma realidade maior no País, o projeto mostra a qualidade do produto final, que realmente é superior”. Dessa maneira, Silveira comenta que diversos tipos de produtores que vão ver como funciona o projeto, já saem de lá procurando quais os passos que ele pode adotar. “Em cima disso, cada um deles acha uma vantagem para ser aplicada em sua lavoura, seja a técnica da enxertia, da condução, entre outros”, diz.

Texto e Fotos: Bruno Zanholo

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