Agricultura

Fruto da Juçara é rentável

No litoral norte do Rio Grande do Sul, o fruto da palmeira juçara se torna uma alternativa ao corte do palmito.

Uma ação do Ministério Público Estadual do Rio Grande do Sul, nomeada “Operação Ju$$ara” (assim mesmo, escrita com dois cifrões) conseguiu coibir uma ação ilegal e muito comum: a extração do palmito proveniente da palmeira juçara, espécie ameaçada de extinção. Na ocasião, diversos órgãos como por exemplo, a brigada militar, polícia civil, secretária da saúde, entre outros, estiveram unidos para operação, que levou cerca de seis meses para ser realizada. Com isso, um senso comum entre especialistas da área comenta que este foi um golpe duro aos clandestinos, pois até pouco tempo, em casos como este, existia apenas uma patrulha ambiental realizada pela polícia do estado.

Há pelo menos 30 anos existe este corte nas florestas do RS. Os palmiteiros entram em áreas privadas ou públicas, sem a permissão, em muitos casos, e cortam de forma irregular, derrubando a palmeira. Dessa forma, fazem a extração da porção apical, local onde está o palmito e que representa uma pequena porção de 70 cm. Após fazer isso, os palmitos são levados de madrugada até uma fábrica clandestina e realizam o processamento caseiro. Em seguida, os vidros são comercializados diretamente com as pessoas, ou em pontos do comércio. Em certas ocasiões, rótulos de empresas famosas eram forjados e colocados nos vidros, em busca de uma melhor venda.

Aproveitar os frutos deste tipo de palmeira aparece como uma alternativa agradável aos olhos dos produtores. Este assunto vem sendo estudado ao longo dos últimos tempos, e o pesquisador Rodrigo Favreto, da Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (Fepagro) Litoral Norte, localizada em Maquiné, RS, diz que o principal ponto que está sendo visto e de que se há convicção é que a juçara tem um fruto parecido com açaí da Amazônia. “É um fruto que tem como grande vantagem o ponto de vista ecológico. Não é preciso cortar a planta e matá-la, como se faz para obter o palmito. Dessa maneira ela produz frutos o ano todo, o que ajuda na fauna”, declara.

Já do ponto de vista econômico, que é o do agricultor, ela se torna uma planta frutífera, pois todo ano produzirá fruto. “Com isso o ganho será maior. Estimamos que seja entre 20 e 30 vezes superior, em relação a extração do palmito”. Favreto diz que a Fepagro contém parcerias diversas que visam melhores resultados sobre os frutos da planta. “Entre os parceiros estão a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o Centro Ecológico, a Anama, a Emater-RS/Ascar e associações de agricultores”, comenta. Segundo ele, existe uma rede de produtores envolvidos com a questão de estimular a utilização do fruto da palmeira. “A ‘rede juçara’, como é chamada vai do RS até São Paulo”. Para o pesquisador, essa atuação acaba sendo importante, pois são articuladas ações em prol do desenvolvimento da cadeia produtiva. “Cada órgão atua fazendo sua função, mas sempre trocando informações para crescermos cada vez mais”, diz.

Em um estudo de 2010, a Fundação verificou que a palmeira juçara cresce cinco vezes mais rápido quando plantada em meio aos bananais. Esse resultado evidenciou o potencial de cultivo dessa espécie consorciada com os bana-nais, que ocupam cerca de 12 mil hectares no Estado.

Em um estudo realizado em 2010 verificou-se que a palmeira juçara cresce cinco vezes mais rápido quando plantada em meio aos bananais, confirmando a viabilidade desse consórcio.

“Ela é uma planta que necessita de sombra, então este plantio em meio ao bananal é bastante produtivo, porque gera um nível de luz interessante”. Com isso, crescimento é acelerado, plantando mudas que em cerca de cinco anos se consegue extrair palmito, e com seis pode-se tirar frutos. Para se ter uma ideia, quando plantada na floresta, leva-se de 10 a 20 anos para realizar a extração do palmito. Segundo o pesquisador, o plantio consorciado da juçara possibilita a diversificação dos bananais, inserindo uma planta nativa da Mata Atlântica no sistema produtivo, contribuindo para a geração de renda e para a conservação da palmeira.

Atualmente, a Fepagro Litoral Norte, com apoio de seus parceiros, busca determinar os espaçamentos adequados para o plantio da juçara em meio aos bananais. “Como essa planta ainda não está plenamente domesticada, existem dúvidas elementares de como deve ser feito o cultivo”, explica Favreto, que coordena o projeto de pesquisa. Ele conta que atualmente é indicado plantar entre 300 a 400 palmeiras por hectare nos bananais para que não interfira na produtividade do mesmo. “Mas estamos estudando para que a alguns anos este número seja dobrado”, declara. O pesquisador comenta ainda que o impacto de ter a ausência dessas plantas em meio a fauna brasileira é grande. “A comunidade vegetal associadas a ela vão sentir com essa falta”, diz.

Outra linha de trabalho busca identificar microrganismos presentes no solo que sejam benéficos para a palmeira juçara, promovendo o controle biológico de doenças, como a antracnose dos frutos, bem como o crescimento das plantas. “A ideia é usar as bactérias como inoculantes em mudas no viveiro”, diz Favreto. Segundo ele, a ideia é ganhar tempo na fase de cultivo dessa planta. “Dessa maneira acreditamos que podemos acelerar o tempo de produção da palmeira”. Esses estudos são conduzidos na sede da Fepagro, em Porto Alegre.

Para o futuro, o pesquisador comenta que o maior objetivo é daqui um ano ou dois ter em mãos o número correto do espaçamento adequado nos bananais. “Além disso, vamos correr atrás dos estudos das bactérias para termos melhores soluções para os produtores”, finaliza.

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